ADRIANA BARCELOS
RIO DE JANEIRO, RJ – Um grupo de 150 pessoas se reuniu na tarde deste sábado (15) para protestar contra a presidente Dilma Rousseff e seu partido (PT), no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio. Os números são da Polícia Militar.
O tom do encontro, organizado diante do hotel Copacabana Palace, era basicamente de exaltação das Forças Armadas e pela derrubada da presidente por, segundo eles, associação a regimes comunistas e suposta atuação para a supressão da democracia no país.
Muitos dos militantes vestiam camisas da seleção brasileira de futebol, bandeiras e lenços inspirados na bandeira nacional. A maioria segurava cartazetes pedindo a prisão de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com citações ao escândalo da Petrobras, que está sob investigação da Polícia Federal, e críticas ao trabalho da imprensa.
Presente, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi alvo de assédio do grupo.
Ao lado do filho, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), o polêmico parlamentar deixou fluir o coro que clamava por seu nome como candidato a presidente em 2018.
“Pior que a corrupção é este trabalho do PT, do PSOL e do PC do B de roubar a nossa liberdade”, afirmou Bolsonaro pai, acrescentando que o governo estimula a divisão entre brasileiros por questões regionais, financeiras e raciais.
“O Bolsa Família é um projeto dessa turma de esquerda para, através de esmola, buscando a acomodação dos mais pobres, tentar impor aqui a ditadura do proletariado”, disse.
Ele ainda defendeu o direito ao porte de arma e criticou personagens que, na sua opinião, são romantizados pelo discurso da esquerda. Fez criticas nominais a Dilma, ao ex-marido dela, Carlos Araújo, e ao ex-deputado Rubens Paiva, torturado e morto pela ditadura militar (1964-1985).
“Sei a história dele. Não é esse santo que pregam por aí. Na casa em que ele [Rubens Paiva] vivia com a família floresceu uma base de guerrilha para Carlos Lamarca”, afirmou.
Bolsonaro disse ainda que “a direita é tudo que a esquerda não é”, e afirmou que “é preciso uma candidatura que represente este grupo para 2018”. Na plateia, gritos repetiam “fora petralhas” e “(2018) é muito tempo pra esperar”, sugerindo a retirada imediata da presidente Dilma -que sequer tomou posse de seu segundo mandato.
Outro argumento que revolta o movimento da direita no Rio e que também foi explorado pelo deputado federal é a mudança do nome da ponte Rio-Niterói, chamada de “Presidente Artur da Costa e Silva”.
Um projeto que tramita no Congresso propõe que a ponte se chame Herbert de Souza, o Betinho, em homenagem ao sociólogo exilado durante o regime militar. “A ponte não vai mudar de nome porque nós não vamos permitir”, disse.
BATMAN NO ATO
Habitué dos protestos mais voltados à esquerda deflagrados desde 2013, o Batman das manifestações do centro também participou do ato da direita em Copacabana.
Eron Mello, de Marechal Hermes, zona norte da capital fluminense, diz que sua atuação não tinha viés político e não vê incoerência entre diferentes grupos de indignados.
“No início era contra a corrupção, preço das passagens, gastos da Copa. Acho que é o nosso papel. Fiscalizar e pressionar o governo”, disse.
Enquanto o Batman tirava fotos com os militantes, um grupo de senhoras bradava pela volta dos militares ao poder. Duas delas, por mais de uma vez, puxaram o coro para uma marcha de exaltação ao Exército e à Marinha.
O que variava entre os manifestantes era a disposição de tirar Dilma do poder. A proposta de um golpe já, “com o apoio da população como em 1964”, foi repetida por alguns ao microfone. Outros preferem esperar 2018.
Um terceiro grupo parece defender a saída do PT instantaneamente, mas a partir das regras constitucionais e um impeachment conforme previsto na lei.
Luiza Coppoli, de 70 anos, moradora do Flamengo, zona sul do Rio, se disse indignada com tudo que está aí, mas prega a prudência contra Dilma. “Acho que não chegamos neste ponto [de depor Dilma]. Mas estamos a caminho”, afirmou a aposentada.
PADRE APOIA MANIFESTAÇÃO
A chuva fina espantou alguns participantes. Outros exibiam seus cartazes diante dos carros a cada vez que o semáforo ficava vermelho. Em um canto, chamava a atenção a presença de um padre.
A reportagem tentou entrevistá-lo, mas ele alegou que “traria problemas para o bispo” e que estava ali porque comungava dos ideais da direita, mas acreditava que sua presença seria mais importante em caso de alguma animosidade contra o protesto.
O grupo ao lado do padre, que não quis se identificar, criticou a imprensa, a quem apontou como cooptada pela esquerda. Para eles, Aécio Neves (PSDB), derrotado por Dilma em outubro, não pertence à direita.
O sacerdote intervém: “A direita no Brasil deixou de existir depois de Carlos Lacerda”. Os demais concordam e riem.
Enquanto isso, Bolsonaro seguia posando para fotos com simpatizantes. No microfone, meia hora antes, acarinhara os apoiadores: “São poucos, mas valem pela qualidade”.