Nos últimos meses, os brasileiros precisaram se adequar a uma nova realidade nos supermercados: o aumento do preço do feijão, que ficou 58% mais caro em um ano, segundo o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo 15). A alta inflação do produto já começa a refletir na falta desse item nas gôndolas. Segundo a NeoGrid, consultoria que coleta informações de mais de 10 mil lojas em todo o Brasil, o índice de ruptura (faltas) do grão chegou a 16,17% em junho, um aumento de 36% em relação ao mês de abril.

Frente a junho de 2015, o aumento é ainda maior: 43%. Para o diretor de varejo da NeoGrid, Robson Munhoz, a principal razão para as faltas é a escassez do feijão. Os varejistas estão com dificuldade de encontrar o produto e renovar os estoques devido ao problema das safras, que foram prejudicadas pelo clima, explica.

Mas os motivos não param por aí. Segundo Munhoz, é natural que frente a fatores como crise e desemprego, o consumidor mude alguns hábitos e acabe deixando de comprar a quantidade que comprava antes, ou mesmo deixando de comprar esse item. Dessa forma, diante da instabilidade econômica e dos altos preços, o varejo fica mais cauteloso ao comprar o produto, com receio de que não haja consumo – e ele acaba faltando nas prateleiras, explica.

A ruptura do feijão foi 65% maior do que a ruptura geral no mês de junho. O índice total de faltas, que considera todas as categorias de produtos, caiu pelo terceiro mês consecutivo este ano, chegando a 9,77%. A queda tem relação com a redução no volume de vendas do setor de supermercados e hipermercados, que, em maio de 2016, diminui 3,4% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IBGE.

Com a crise, a população passa a comprar menos e, com isso, é natural que alguns produtos acabem ficando na prateleira, o que reduz o índice de ruptura, comenta Munhoz. Para o diretor, é importante destacar outro ponto em relação à queda: ao se preocupar com o comportamento do consumidor diante da instabilidade econômica, varejo e indústria começam a estabilizar suas negociações para evitar faltas de produtos – e assim não perder vendas -, e excesso de estoques, que mantém o capital de giro parado, completa.

Quanto à ruptura setorial, o setor de alimentos apresentou o maior índice de junho, 10,46%, enquanto higiene e beleza registrou 8,86%, limpeza 7,39% e bebidas 9,37%.

Os dados analisados são calculados pela solução NeoGrid Supply Chain Benchmark Powered by Nielsen, que traz o conceito OSA (On Shelf Availability), indicador que reúne informações homologadas de mais de 10 mil lojas de varejos do Brasil e que mede, diariamente, a disponibilidade de produtos na gôndola, a venda estimada por produto, por loja e por dia, as causas das faltas desses itens e como corrigi-las.