Quem segue a religião islâmica e vive ou está de passagem pelo Catar durante a Copa do Mundo não precisa buscar por mesquitas para cumprir as cinco rezas diárias previstas no livro sagrado da religião, o Alcorão.

O espaço religioso está em todos os lugares do país, não só em grandes e belas construções, como em salas dentro dos oito estádios utilizados ao longo do torneio, aeroportos, hotéis e até estações do transporte público.

De acordo com dados do governo local, existem atualmente cerca de 800 templos islâmicos espalhados pelo país, o que dá um para cada 3.750 habitantes.

ROTINA
Segundo a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), as salats, ou orações, seguem o nascer e o pôr do sol. Os cinco momentos em que elas devem ser feitas, durante 15 minutos, em direção à cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita, são: Fajr, antes de o sol nascer; Dhuhr, quando o sol está a pino e próximo do horário do almoço; Asr, feita durante a tarde; Maghrib, antes do pôr total do sol; e a Ishaa, feita entre o anoitecer ou antes do início do próximo ciclo.

Caso o fiel possa ir à mesquita fazer suas orações, tudo bem. Mas se ele estiver na rua e o muezim, o responsável por convocar para o tempo do azan – os momentos de conexão com a religião e Alá -, chamar, é cena comum os muçulmanos pararem o que estão fazendo, desenrolarem um tapete que costumam levar consigo, seja no carro ou no trabalho, e professar sua fé na rua ou no escritório, por exemplo.

EM CAMPO
A Copa do Mundo recebeu algumas seleções de países muçulmanos e os jogadores dessas equipes que professam a religião também atendem ao chamado dos muezins e se dedicam à reza. As comissões técnicas de seleções como Marrocos, Senegal e outras evitaram marcar treinos que pudessem interferir nos horários da reza.

Segundo a religião, os homens devem ir ao menos uma vez por semana ao espaço religioso, o que ocorre geralmente às sextas-feiras, dia de descanso que no mundo árabe equivale ao domingo.

A carioca Patrícia Rezende, que trabalha em uma empresa brasileira de logística para a Copa do Mundo, conta que uma vez foi atrás de um motorista árabe no pátio e, ao chegar perto do veículo, ele havia estendido um tapete e orava extremamente concentrado.

Nas ruas de Doha e outras cidades do país, é possível ver gente orando ao ar livre, na entrada de lojas, mercados e dentro de estabelecimentos comerciais e escritórios.

Mas e quando o momento de orar cair no meio dos jogos? É possível esperar o intervalo ou o fim do jogo para cumprir as obrigações religiosas?

Segundo o presidente do Instituto da Cultura Árabe (Icarabe), Murched Omar Taha, desde que sejam respeitadas as faixas de tempo previstas para cada salat ao longo do dia, não tem problema.

Por isso, nos estádios da Copa do Catar, uma cena é comum: homens e mulheres formam um entra e sai frenético de salas espalhadas pelos anéis das construções que funcionam como mesquitas. Antes, é preciso tirar os sapatos e, após sair do espaço, fazer a ablução, que é a purificação com água de partes do corpo que vão entrar em contato com o chão na hora de orar, como rosto, pés e mãos. Para isso, há espaços próprios dentro dos banheiros.

SEPARAÇÃO
Segundo a tradição islâmica, homens e mulheres não podem orar juntos e, por isso, há salas destinadas aos dois gêneros, tanto em grandes mesquitas quanto em lugares de oração em aeroportos, hotéis, shopping centers e centros esportivos, por exemplo.

Murched explica que isso se dá em razão da forma de se professar a fé. “Não é possível uma mulher ficar agachada em frente ao homem, o que tiraria a concentração. Por isso, as mulheres sempre usam ambientes reservados para elas.”

Para ele, a separação na hora de orar não tem relação com a diferença de gênero. “Isso não tem nada a ver com a religião, mas está ligado ao machismo.”

ESTÁDIO E MESQUITA
O respeito e a importância à religião também será mostrado no legado da Copa do Mundo do Catar. Um dos estádios utilizados, o Al Thumana, terá uma mesquita após o Mundial. A arena sofrerá uma grande transformação. Terá a capacidade reduzida de 40 mil para 20 mil torcedores para continuar abrigando eventos esportivos – não só o futebol. Além disso, serão construídos no espaço um hotel e uma mesquita.