Foto: SBCBM


No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou o tratamento cirúrgico do diabetes tipo 2 em 2017. Os critérios de indicação do tratamento cirúrgico são diabetes mellitus tipo 2 diagnosticado há menos de 10 anos; ter IMC entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m²; mais de 30 anos e no máximo 70 anos de idade. A indicação cirúrgica deverá ser feita por ao menos dois médicos endocrinologistas, com parecer que mostre que o paciente apresentou resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais e/ou injetáveis, mudanças no estilo de vida e que compareceu ao endocrinologista por no mínimo dois anos.
Pessoas com diabetes tipo 2 precisam de acompanhamento com especialista e medicação para estimular o pâncreas a produzir insulina, diminuir a absorção de carboidratos (que o organismo converte em açúcar) e reduzir a resistência à insulina através de medicamentos e da perda de peso. No entanto, como acontece com qualquer tratamento médico, alguns pacientes podem não responder como esperado. Nesses casos, a cirurgia metabólica pode ser necessária para prevenir a progressão da doença e as consequências do diabetes.

Como é a cirurgia?

Na cirurgia metabólica ocorre o mesmo procedimento da cirurgia bariátrica. A diferença entre as duas é que a cirurgia metabólica visa o controle do Diabetes Tipo 2. Já a cirurgia bariátrica, tem como objetivo a perda de peso, com as metas para contenção de doenças em segundo plano.
O procedimento é realizado por videolaparoscopia, através de pequenos furos na parede abdominal. Essa alteração promove a passagem mais rápida do alimento do estômago para o intestino e traz mudanças metabólicas como a aceleração da produção de hormônios, que atuam no pâncreas melhorando a produção de insulina, o que normaliza os níveis de glicose no sangue.
O preparo pré-operatório otimiza a segurança e os resultados da cirurgia metabólica.
Além disso, os estudos têm demonstrado benefícios a médio e longo prazo para a qualidade de vida destes pacientes como, por exemplo, que 45% dos pacientes entram em remissão do diabetes (deixam de tomar medicamentos e insulina) já no primeiro ano de cirurgia.

Comprovação científica

Recentemente um estudo, realizado no Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, e publicado na revista científica The Lancet, em dezembro de 2022, apontou que a cirurgia metabólica apresenta melhores resultados na perda de peso, controle glicêmico e qualidade de vida se comparado aos pacientes que tiveram acesso aos melhores e mais eficazes medicamentos disponíveis após cinco anos de acompanhamento. O controle da doença renal crônica causada pelo Diabetes Tipo 2, foco do estudo, teve resultados altamente eficazes e semelhantes nos dois grupos que participaram do estudo.
“O diabetes apresenta sérios riscos para a saúde, podendo afetar órgãos como olhos, rins, fígado, coração e sistema vascular. O tratamento cirúrgico da obesidade e diabetes são opções seguras e com excelentes resultados para a saúde e qualidade de vida destes pacientes”, afirma o presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi.
A pesquisa contou com a participação de 100 pacientes, acompanhados por cinco anos, sendo que 50 foram submetidos à cirurgia metabólica e a outra metade teve acesso aos medicamentos mais modernos para o tratamento clínico do diabetes. A remissão da doença renal crônica e diabetes em pacientes que utilizaram a medicação foi de 52,8%; e em pacientes que fizeram a cirurgia de 63,1%. Além disso, a remissão de microalbuminuria (proteína que, em grande quantidade, indica insuficiência renal) em pacientes com o melhor tratamento medicamentoso foi de 59,6% e em pacientes que fizeram a cirurgia metabólica ficou em 69,7%. “Esses dados continuam mantendo a cirurgia metabólica um tratamento relevante para pacientes com diabetes e doença renal crônica. Tudo isso com melhor qualidade de vida e menos medicação que no grupo clínico”, afirmou o Dr. Ricardo Cohen, cirurgião e autor principal do estudo.

Cobertura
Em setembro de 2022, foi sancionada a Lei 14.454 que acaba com a limitação de procedimentos cobertos pelos planos de saúde, o chamado rol taxativo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável pela regulamentação das operadoras de planos de saúde. Com isso, tecnologias e procedimentos já reconhecidos e comprovados pela ciência, como a cirurgia metabólica, devem estar disponíveis aos usuários.
Conforme o texto, para que o plano de saúde seja obrigado a cobrir determinado tratamento, é necessário que este tenha eficácia comprovada; seja recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no SUS ou por alguma entidade especializada de renome internacional. Em novembro, a ANS abriu uma Consulta Pública para ouvir a sociedade civil sobre os pareceres técnicos de atualização do rol. A cirurgia metabólica foi o procedimento cirúrgico que mais recebeu contribuições. Das 1552 contribuições, 99% eram favoráveis à incorporação, de acordo com levantamento feito com os dados disponibilizados pela ANS.

Quer saber mais sobre a cirurgia para o Diabetes? Acesse o site das Sociedades Médicas (SBEM, ABESO, SBCBM E SBD).