NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Era para ser uma audiência para confirmar a sentença de Michael Flynn, ex-conselheiro do presidente Donald Trump que confessou ter mentido ao FBI (polícia federal americana), mas que está ajudando a Procuradoria Especial a investigar a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.

O juiz Emmet Sullivan, porém, deu toda sinalização de que Flynn dificilmente conseguirá driblar uma pena na cadeia, como defende o escritório do procurador especial Robert Mueller, em troca da colaboração do ex-assessor.

A sentença acabou sendo adiada para março, mas não antes de o juiz lançar duras críticas a Flynn.

Após revisar o caso contra o ex-conselheiro de Trump, incluindo o fato de ele ter trabalhado para favorecer os interesses do governo turco nos EUA, o juiz apontou para uma bandeira americana no tribunal e disse, exaltado: “Indiscutivelmente, isso subverte tudo o que essa bandeira aqui defende. Indiscutivelmente, você vendeu seu país”.

Na audiência, Sullivan disse que Flynn era basicamente “um agente não registrado de um país estrangeiro, enquanto servia como conselheiro de segurança nacional ao presidente dos Estados Unidos”.

Ele perguntou ao escritório do procurador especial se Flynn poderia ser acusado de “traição”. “Esta corte vai considerar isso”, afirmou o juiz. “Eu não posso garantir a você que se você prosseguir hoje, você não receberá uma sentença de prisão.”

O ex-conselheiro de Trump pareceu ficar abalado ao ouvir a frase. O juiz, então, pediu recesso para deixar Flynn pensar se queria continuar e deixá-lo impor uma sentença ou adiar a audiência e cooperar mais com a procuradoria especial.

A decisão do juiz pode marcar uma reviravolta no caso, porque procuradores e advogados de defesa pediam que Flynn não fosse sentenciado à prisão por mentir ao FBI. Eles diziam que o ex-assessor colaborava com a equipe de Mueller desde o início e que havia fornecido informação útil a outras investigações em curso.

Ao submeter a sentença, os advogados de Flynn sugeriram que ele teria sido levado a mentir para o FBI porque não havia sido avisado antes de que isso era crime.

O juiz, então, pediu mais documentos, enquanto os procuradores rebateram a hipótese de o ex-assessor de Trump ter sido enganado ou influenciado a mentir ao FBI.

Sullivan questionou Flynn sobre isso na audiência. O ex-assessor de Trump reconheceu que tinha ciência de que mentir ao FBI era crime.

O magistrado afirmou que não conseguia esconder seu desgosto e seu desprezo pelo crime de Flynn.

Antes do início da audiência, o presidente Donald Trump desejou a Flynn “boa sorte”. “Vai ser interessante ver o que ele tem a dizer, apesar da imensa pressão em cima dele, sobre a conspiração russa em nossa ótima e, obviamente, bem-sucedida campanha política”, escreveu o presidente. “Não houve conspiração!”

Flynn é um dos cinco assessores de Trump que se declararam culpados na investigação do procurador especial.

Em dezembro de 2017, ele admitiu culpa em acusação de prestar falso testemunho e de ter mentido ao FBI sobre conversas com o embaixador russo em Washington, Serguei Kislyak. Flynn também confessou ter mentido sobre negócios com o governo turco.