MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Cansados de serem alvos de coberturas jornalísticas superficiais sobre os seus países, internautas árabes decidiram dar o troco nestas últimas semanas. Em redes sociais como o Twitter e o Facebook, eles se perguntaram -em tom jocoso- como seria se jornalistas árabes escrevessem sobre os protestos na França usando as mesmas ideias reducionistas e preconceituosas circuladas sobre o Oriente Médio.

O libanês Karl Sharro publicou uma longa sequência de tuítes sobre o assunto. Na mensagem abaixo, por exemplo, ele afirmou: “Um movimento orgânico de protestos sem líderes ou uma ideologia clara surgiu na França. Estou esperando isso desde 2011. Deixem-me explicar a Primavera Francesa a vocês”. Ele estava imitando o tom dos analistas que escreveram sobre a Primavera Árabe, uma onda de protestos que varreu líderes de países como Egito e Tunísia no início daquele ano.

Uma usuária chamada Samar Amahir respondeu da seguinte maneira: “Sou uma franco-marroquina estudando o Oriente Médio. Tive de aguentar toda aquela porcaria de análise no meu país sobre a Primavera Árabe. Estava esperando um tuíte como esses desde 2011”.

Já neste outro texto, falando também sobre a polêmica saída do Reino Unido da União Europeia, Karl escreveu: “Eu deveria ter escutado minha avó. Ela me avisou sobre a Europa. Essa região é instável desde o tempo dos romanos, como costumamos dizer no Levante”. A piada, nesse caso, é a constante ideia -repetida pela imprensa na Europa- de que o Oriente Médio é uma região problemática desde a Antiguidade.

Em outra mensagem, ele reaproveitou os clichês sobre Beirute ser “a Paris do Oriente Médio” e escreveu: “É, você sabe o que eles dizem. Paris é a Beirute da Europa Ocidental”. A ideia na entrelinha, quando alguém faz essa comparação, é de que cidades como Beirute são tão desenvolvidas e seculares que “quase não parecem o Oriente Médio”.

Ele também imitou o tom da imprensa europeia e americana e se perguntou sobre os efeitos dos protestos na França. Quando há manifestações em cidades como Cairo ou Beirute, a imprensa estrangeira costuma se perguntar se o fenômeno pode se espalhar pela região. Há também frequentes menções a como governos ocidentais vão reagir a uma crise no Oriente Médio -o que os presidentes vão dizer? Karl escreveu: “Especialistas já estão alertando sobre um efeito dominó, levando os protestos na França a países vizinhos. Com tudo isso, não está claro como nós no Oriente devemos responder, além de pedir que as autoridades francesas respeitem o direito a protestar”.