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O deputado Delegado Tito Barichello (Foto: Orlando Kissner/Alep)

A Corregedoria da Polícia Civil do Paraná (PCPR) e a Procuradoria-Geral de Justiça, por meio da Subprocuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público, estão investigando o deputado estadual do Paraná, Delegado Tito Barichello (União Brasil). Ele realizou uma falsa operação policial para cumprimento de um também falso mandado de prisão em Curitiba na última quinta-feira (21). A “operação” foi divulgada nas redes sociais do próprio deputado e ele aparece nas imagens com um fuzil nas mãos e vestindo um colete à prova de balas com o símbolo da Polícia Civil. No vídeo, Tito fala que está cumprindo um mandado de prisão.

O detalhe é que como foi eleito deputado estadual em 2022, Tito está á afastado da função de delegado da Polícia Civil. A mulher dele, Tathiana Guzella, também aparece nas imagens com um colete à prova de balas da polícia. Ela também é delegada, mas está afastada da função porque agora é secretária parlamentar.

A Polícia informou em nota que os dois não atuam em nome da corporação: “Nenhuma das operações realizadas era de conhecimento ou possuía a anuência da Polícia Civil”.

Tito e Tathiana alegam, em nota, que os dois foram chamados por um líder religioso com a informação de que um homem praticava crimes contra a ex-mulher e o advogado dela. Eles afirmaram que não invadiram quaisquer residências e não praticaram ato em nome da polícia.

Oposição

Os deputados que integram o Bloco PT-PDT na Assembleia Legislativa (Alep) anunciam que seguem acompanhando os desdobramentos relativos à falsa operação policial conduzida na quinta-feira (21) pelo deputado estadual Tito Barichello (União Brasil) e informam que irão adotar todas as medidas cabíveis, em âmbito administrativo e judicial, visando uma investigação completa e a devida responsabilização dos envolvidos.

A nota é assinada pelos deputados Professor Lemos (PT), Líder do Bloco PT-PDT, Requião Filho (PT), Líder da Oposição, Ana Júlia (PT), Arilson Chiorato (PT), Dr. Antenor (PT), Goura (PDT), Luciana Rafagnin (PT) e Renato Freitas (PT).

Repercussão na Assembleia Legislativa: “Batman das araucárias”

Na sessão desta segunda-feira (25 de março) da Alep, então, boa parte dos debates foram voltados à questão. Primeiro, o próprio Tito Barichello subiu a tribuna para se pronunciar. Segundo ele, os fatos da última quinta-feira geraram, “de maneira desnecessária”, uma celeuma.

“Na última quinta recebi ligação do meu líder religioso, dizendo que uma pessoa que faz parte da igreja estaria sofrendo ameaças de morte. Conversei com ele, o advogado [suposta vítima], que disse que advogava para uma advogada e que os dois estariam sendo ameaçados de morte, inclusive com um plano, a contratação de um sicário, e que esse criminoso tinha contra si um decreto prisional”, afirmou o parlamentar, dizendo ainda que teve acesso às provas trazidas pelas vítimas e que então conversou com sua esposa, quando os dois decidiram tomar uma providência “para evitar um mal maior”.

“Fomos até a residência do criminoso. Fui com meu veículo, armamento próprio, colete balístico próprio. O irmão dele informou que ele não estava lá e fomos embora. Não invadimos a residência, não praticamos nenhum ato exclusivo de polícia judiciária ou de polícia extensiva”, disse Tito, alegando ainda que, mesmo licenciado, teria o dever de agir ao receber notícia de um crime.

A deputada Ana Júlia (PT), no entanto, não aceitou os argumentos apresentados pelo colega. Segundo ela, vivemos num país que tem divisão de poderes, com Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. “É cômico, trágico que a gente tenha que explicar para deputados o que é a divisão de poder e qual é o papel do Poder Legislativo”, afirmou a parlamentar petista, acusando ainda o deputado Tito Barichello de “fugir do exercício e da prerrogativa enquanto deputado, agindo como deputado, cargo do qual ele abriu mão por livre e espontânea vontade”.

“Ele se colocou como deputado, ele se colocou como membro do Poder Legislativo. Função de membro do Poder Legislativo é legislar, é parlamentar, não é de delegado, não é fazer fantasia, teatro, ir com carro alegórico na casa das pessoas e andar com fuzil no meio da rua”, acusou ainda a deputada estadual, chamando o colega de ‘Batman das Araucárias’. “Se isso não é quebra de decoro, se isso não é motivo de corregedoria, o que que é?”