MAE E FILHA TRABALHAM JUNTAS
Gislaine e Luiza: mãe e filha trabalham juntas numa das mais movimentadas baladas de Curitiba (Foto: Franklin de Freitas)

O que é, afinal, ser mãe? As respostas podem ser diversas, todas com suas razões. Uns dirão que é uma profissão; outros que é um dever; e há ainda aqueles que definirão como mais um direito entre tantos outros. Mas a curitibana Gislaine Paizany, 43 anos, poderia definir como uma vocação. Ela criou sozinha a sua filha, Luiza, de 22. Uma história como a de tantas outras mulheres, mas com um curioso diferencial: mãe e filha trabalham e às vezes até curtem juntas a noite curitibana.

O trabalho conjunto, conta a dupla, teve início há cerca de três anos. Na época a Gi (como a mãe é conhecida) havia começado a trabalhar com eventos, como uma forma de complementar a renda familiar (durante a semana, ela trabalha no setor administrativo de um hospital curitibano). E a filha, que estava começando a graduação em Biomedicina (na qual está se formando agora, inclusive, com colação de grau marcada para o final de agosto), começou a fazer algumas taxas para também ajudar.

Isso até cerca de um ano e meio atrás, quando a mãe acabou sendo contratada para trabalhar fixa no Bossa Bar, todas as sextas e sábados. “Eu entrei no Bossa e dois meses depois, quando abriu o Violet’s aqui do lado, ela veio. Aí ficamos eu aqui no pagode e ela aí do lado, nos sertanejos. Mas quando tinha evento conjunto das duas casas, trabalhávamos juntas”, conta Gislaine, que é bartender do Bossa.

Luiza, por sua vez, relata que começou a trabalhar no Violet’s (que encerrou recentemente as atividades) no Carnaval do ano passado. Foi indicada pela própria mãe para trabalhar na balada que havia sido recém-inaugurada e começou atuando na recepção, mas volta e meia “fugia” para ajudar o pessoal do bar. Até que acabou ficando por ali mesmo. “Dali eu virei subchefe de bar, fiquei na função um tempo e fui crescendo durante o trabalho. No final, já estava como chefe de bar”, relata a jovem.

Parceria que vai além do trabalho e da relação de mãe e filha

A parceria entre as duas, no entanto, vai muito além do trabalho nos estabelecimentos do grupo Bossa. E prova disso é que elas não só trabalham juntas na balada, mas de vez em quanto até curtem juntas a boêmia.

“Trabalhamos juntas e já saímos curtir juntas também, eu com os amigos dela, inclusive. É muito engraçado, a molecada é muito engraçada. Eles me chamam de Tia Gi e todo mundo acha que a gente é irmã, na verdade. Ninguém acredita que ela é minha filha”, comenta a mãe.

“A gente é muito parceira. Já brigamos muito porque somos muito parecidas, ela tem um gênio muito forte e o meio veio pior, segundo, ela. Mas a nossa relação é ótima, costumamos inclusive sair juntas. Às vezes tem confraternização aqui do bar e a gente vai, bebemos juntas, damos risadas. A gente tem uma relação muito próxima, eu conto tudo pra ela e ela conta tudo pra mim. Ela é minha parceira de vida”, emenda a filha.

MAE E FILHA TRABALHAM JUNTAS
A gente é muito parceira”, comenta Luiza sobre a relação com a mãe (Foto: Franklin de Freitas)

“Quando nasce um filho, também nasce uma mãe”

Gislaine nasceu em Curitiba e foi criada por sua avó, a pernambucana Conceição, a quem chama de mãe. Quando tinha 21 anos de idade, no entanto, ela acabou perdendo a matriarca, que faleceu. E foi em meio ao processo de luto que ela acabou recebendo a notícia que viraria seu mundo de cabeça pra baixo.

“Eu fui criada pela minha avó, que foi quem me ensinou tudo. Uma nordestina de muita fibra que me criou aqui em Curitiba. Eu tive a sorte de ser criada por uma nordestina, para ter essa coisa arretada, essa independência”, afirma Gislaine. “E quando ela [avó] faleceu, eu descobri que estava grávida. Ter a Luísa não foi algo pensado, mas eu sempre quis ter filhos. Ainda assim, foi um baque muito grande, porque não esperava ficar grávida”, recorda ainda ela.

Para piorar, o pai de Luísa acabou não sendo presente. Algo que dificultou o processo, mas também tornou toda a caminhada ainda mais gratificante. “Criei e eduquei minha filha sozinha. E foi um privilégio ser mãe, fui muito abençoada. Quando nasce um filho, nasce uma mãe, realmente. Você se dedica à maternidade. Certas coisas eu protelei. Tive de fazer faculdade mais tarde e levava a Luísa comigo nas aulas. Mas hoje, quando olho para trás, o que me vem à cabeça é gratidão, um orgulho imenso”, exalta Gi.

Dupla diplomada: “Acredito que fiz um bom trabalho”

Seis anos após o nascimento de sua filha, Gislaine finalmente realizou o sonho de ir à faculdade. Começou a graduação com 27 anos e terminou o curso de Administração com 31, quando Luísa estava com 11 anos de idade. Mais tarde, foi atrás ainda de uma segunda formação acadêmica, em terapias integrativas.

Há três anos, por outro lado, começou a trabalhar com eventos justamente para ajudar a filha, que estava começando o curso de Biomedicina. O incentivo e a rigidez na cobrança com relação aos estudos, inclusive, foi algo corriqueiro na vida de Luiza.

“Ela era bem chata nesse sentido, tanto que na primeira oportunidade que teve falou para eu fazer prova para entrar num colégio bom e consegui bolsa no Bom Jesus. Fiz o Ensino Médio lá e depois ela falou que era para eu fazer cursinho, estudar para fazer o Enem. Então, tudo que ela pôde proporcionar em relação ao estudo pra mim, ela fez”, destaca a filha, que nas próximas semanas fará a colação de grau em Biomedicina e agora já se prepara para iniciar uma pós-graduação. Tudo, é claro, motivo de orgulho para a mãe.

“Eu me formei com 31 anos e lembro dos olhos da Luiza brilhando na minha colação de grau. São coisas que marcam a vida da gente, e agora eu fui assistir a minha filha, a defesa dela. Eu vi um filme passando naquele momento”, comenta Gislaine. “Eu acho que fiz um bom trabalho, sabe? Acho que deu certo e tenho a certeza absoluta que, quando for desse pra outro mundo, vou deixar na terra um ser humano fantástico”, comemora ainda a mãe.