Em tempos de escolher candidatos às eleições municipais, sempre muito importantes pois dizem respeito diretamente aos interesses do cidadão, as que mais afetam a questão de cidadania, é importante pensar no que queremos como futuro.

Assistindo aos “estrategistas do desespero” e suas narrativas estapafúrdias, no mês em que comemoramos a independência de nosso país, sem muita noção do quanto essa nos desafia a cada momento em entender no dia a dia todas as artimanhas políticas que pretendem separar a ordem e o progresso, como se apenas quebrando tudo pudéssemos progredir.

Então temos milionários estrangeiros se negando a cumprir leis nacionais, milionários locais instigando a população ao jogo perigoso da quebra das estruturas, a votar em criminosos contumazes, colocando em risco a capacidade de conduzir bem o destino econômico e político do país.

Incapazes de discernir entre governo e Estado, agindo como se o individualismo do cada um por si pudesse gerar o progresso, nos tornamos fãs de pessoas sobre as quais pesam comprovações de fraudes, compulsivas no mentir e trapacear.

Com isso o mundo tem se tornado cada vez mais injusto, com redução gritante do nível de vida das classes média e pobre, acirramento das contradições sociais e cada vez mais neoliberalista, sem freios e contrabalanço estatal para a voracidade do capital predador e monopolista.

Assistimos isso em recente enchente em estado vizinho, assistimos agora nas queimadas, nas plataformas digitais mais poderosas financeiramente que grande parte dos estados brasileiros.

O desejo é apenas de enriquecimento rápido e profundo, de aplicar o máximo possível de golpes, fraudar muito e submeter todos os demais a uma espécie de servidão.

Quem realmente quer pensar nos demais, preocupar-se com o correto, com o coletivo? Aparentemente poucos, embora a organização política das pessoas em comunidades possa facilitar a busca pelo bem maior; o desenvolvimento político de uma sociedade está intimamente relacionado com a capacidade dos indivíduos de se apropriarem dos bens socialmente criados e efetivarem suas potencialidades. Democracia e cidadania não são dadas a indivíduos de uma vez para sempre, não acontecem como concessão de um dirigente, são resultados de uma luta permanente, de exercícios diários de procura de conhecimento, de estudo, de vigilância.

Na definição de Dalmo de Abreu Dallari: “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo”.

O governo anterior, de má memória, tratou a Covid-19 como se não tivesse importância, ainda que centenas de milhares de pessoas a contraíssem e muitos morressem dela ou ficassem sequelados. O importante era que o consumo e a produção não fossem prejudicados, com reflexos nos indicadores da Economia e nos resultados eleitorais. Alguns ditos empresários apoiadores deste desgoverno chegaram a dar declarações como se as mortes fossem irrelevantes perto da queda na frequência de seus restaurantes e lojas de departamentos. A sabotagem intencional na obtenção e aplicação de vacinas foi um crime próximo do genocídio, e que foi cobrado em pequena parte nas eleições.

O governo atual, sobre o qual se depositou muita esperança nas questões ambientais, e que inclusive fez declarações bombásticas em organismos internacionais, está agindo de forma semelhante, parece ignorar que parte do país está em chamas, que o aquecimento global não é mais uma possibilidade e sim uma amarga certeza. Esse governo, teoricamente pleno de boas intenções, “assiste a tudo e se cala”; ignora o sofrimento de parte de seu povo, sofrimento que será de todos quando até mesmo o incensado agronegócio for atingido. O foco está em questões quase secundárias, a manutenção dos privilégios dos priorizados de sempre, as eleições municipais que se aproximam, a próxima eleição presidencial…  

Lamentável que nossas escolas não recebam a mesma atenção.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.