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Laboratório. Créditos: CPAH / MF Press Global / Divulgação

Acordar com desânimo e ver o dia passar sem energia pode parecer uma sensação comum, mas para o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela, essa fadiga emocional tem uma explicação neuroquímica. Segundo ele, o humor baixo pela manhã, que persiste ao longo do dia, está frequentemente relacionado a níveis reduzidos de serotonina, um neurotransmissor que regula o humor e o bem-estar.

“A baixa serotonina está diretamente ligada a uma sensação de ansiedade e à busca por algo que nos recompense”, explica Fabiano, pós-PhD em Neurociências e licenciado em Biologia, membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos e da Royal Society of Biology no Reino Unido. “É nesse momento que nosso sistema de recompensa, governado pela dopamina, entra em ação, mas quando ambos os níveis estão baixos, surge a falta de motivação e o sentimento de vazio.”

De acordo com o neurocientista, a baixa motivação diurna — aquela sensação de desmotivação que aparece já nas primeiras horas do dia — pode ser resultado de expectativas frustradas ou de uma sobrecarga mental gerada pelo excesso de pendências. Isso cria um ciclo vicioso, onde a falta de serotonina reduz a dopamina, prejudicando a capacidade de encontrar prazer e satisfação nas atividades diárias.

Planejamento e metas como solução neuroquímica

Agrela acredita que a chave para romper esse ciclo está em uma estratégia simples: criar metas e planejar recompensas. “Estabelecer metas, mesmo que pequenas, é uma forma eficaz de regular os neurotransmissores e reverter a baixa motivação. Ao criar expectativas saudáveis e organizar as pendências, conseguimos ativar o sistema dopaminérgico e restaurar o equilíbrio emocional”, diz o especialista.

Ele destaca a importância de combinar metas de curto e longo prazo. “As metas são o que eu chamo de ‘motivos de vida’. Planeje algo grande para o futuro, como comemorar o ano novo em outubro, mas também crie pequenas recompensas semanais, como um encontro ou uma atividade de lazer que te traga satisfação imediata”, sugere.

A equação emocional: um modelo para entender o bem-estar

Para simplificar a compreensão dessa dinâmica neuroquímica, Agrela usa uma metáfora matemática. “Penso nas nossas funções neuroquímicas como uma equação de potência. Se sua ‘potência emocional’ está em um coeficiente angular de -5, o que representa desmotivação, você precisa de expectativas que movam isso para -2, uma expectativa positiva moderada, e de conquistas que te levem a +7, que seria uma satisfação intensa”, explica.

Embora esse seja um modelo fictício, a ideia por trás da metáfora é clara: nossas metas e conquistas influenciam diretamente o equilíbrio de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, regulando o nosso humor e motivação ao longo do dia.

Uma abordagem prática para o bem-estar diário

A proposta do neurocientista é adotar um planejamento estratégico que envolva tanto a resolução de pendências quanto a criação de metas que alimentem a motivação diariamente. “Quanto mais organizados e focados em pequenos objetivos estamos, mais nossa química cerebral responde de forma positiva”, reforça o neurocientista.

Por fim, ele afirma que essa abordagem é uma maneira prática de enfrentar a desmotivação e a fadiga emocional que, para muitos, marcam o início do dia. “Ao definir metas claras e recompensas, transformamos um ciclo de estagnação em um ciclo de conquistas, elevando nosso bem-estar emocional e psicológico”, conclui.

Fabiano de Abreu Agrela é membro também da RSM – Royal Society of Medicine e da ESHG – Sociedade Europeia de Genética Humana, ambas no Reino Unido. Além disso, é diretor do CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito, onde desenvolve pesquisas voltadas à neurociência e ao comportamento humano.