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Emerson Cervi. Reprodução Facebook

O cientista político Emerson Cervi, professor da Universidade Federal do Paraná, não ficou tão surpreso com a ascensão meteórica e a ida ao segundo turno da candidata do PMB, Cristina Graeml, em Curitiba. A pedido do blog, ele fez uma análise do que aconteceu neste primeiro turno na cidade e explica de onde vieram os votos que levaram a candidata sem tempo de TV e sem fundo eleitoral à disputa final contra Eduardo Pimentel, do PSD, o candidato tanto do prefeito Rafael Greca, quanto do governador Ratinho Junior.

“Tem dois fatores que explicam isso. O primeiro é que o pessoal da direita, do PL, em Curitiba, achou que poderia fazer qualquer tipo de coligação que teria os votos da base da direita radical. Só que não foi bem assim. O eleitor do PL não aceitou muito bem a coligação com o PSD. Porque, inclusive, nesse momento, o PSD é o pior partido que existe para o bolsonarismo raiz, porque é o partido do presidente do Senado (Rodrigo Pacheco). Então, se esse eleitor tivesse uma oportunidade, ele migraria. E essa oportunidade apareceu na última semana de campanha”, diz Emerson Cervi.

Para se combinar com essa insatisfação, o cientista político cita a turbulência criada na campanha de Pimentel com a denúncia de coação de servidores municipais. “Aí entra o segundo fator, de quando veio aquela denúncia. Aquele escândalo envolvendo as doações dos servidores municipais para a campanha do Pimentel. Deu a oportunidade, a justificativa para esse eleitor migrar”, explica.

Numa análise de números, Cervi aponta a origem dos votos em Cristina Graeml. “Se você prestar atenção na diferença da pesquisa da Quaest de 17 de setembro e agora, de 5 de outubro, você vai perceber que o Pimentel caiu dez pontos percentuais, enquanto a Cristina subiu 16. Então, praticamente tudo desses dez pontos foi para Cristina”, diz.

Mais que isso, a candidata do PMB ganhou os votos dos que ainda estavam indecisos. “A Cristina ganhou mais 6 pontos do que tinha de indecisos. Eram 8% e caiu para 2%. Praticamente foi tudo para ela. Se fosse tudo para ela, esses dois dariam os dezesseis que ela cresceu”, continua.

E os demais candidatos não se beneficiaram desse movimento todo. Cervi explica: “O curioso é que o escândalo envolvendo a campanha do Pimentel não fez (Luciano) Ducci (PSD) crescer. O Ducci não cresceu, ficou na mesma. Oscilou para cima 3 pontos, mas dentro da margem de erro”.

E até sexta-feira, Ney Leprevost (União) também não tinha mudado. “O Ney tinha 12% e ficou 12%, até sexta-feira. Na eleição, Ney chegou a 6% dos válidos. Eram 12 do total. Ele chega a 6 dos válidos. Quer dizer que, nessas quarenta e oito horas, o Ney perdeu votos, que foram transferidos para Cristina. E isso explica ela ter chegado aos 31% dos votos válidos. O que daria algo em torno de 20 e poucos do total”, calcula.

Mas o cientista político também vê que Cristina Graeml chegou na marca do eleitorado bolsonarista radical de Curitiba. “Basicamente o eleitor bolsonarista que não estava gostando da coligação com o PSD, viu nela a opção. Quer dizer, hoje a gente sabe qual é o tamanho do bolsonarismo radical. Em Curitiba é 30%.”

Sobre o segundo turno, Cervi vê um cenário ainda indefinido, porque Pimentel vai depender muito da própria base que construiu para sua campanha. “Agora a gente tem essa direita versus direita. Mas tem uma questão que precisa ver: se PSD não vai abandonar o Pimentel, principalmente o pessoal do grupo do Palácio do Iguaçu. Por quê? Porque se Cristina é eleita prefeita, ela sai da cena de 2026. Cristina sendo derrotada, fica sendo a principal liderança da extrema direita em Curitiba e no Paraná. Ou seja, ela se cacifa a disputar uma vaga majoritária. Uma vaga do Senado, por exemplo. Enquanto que o Pimentel não tem esse potencial de atrapalhar os planos futuros do pessoal que imaginou que poderia chegar na prefeitura agora e usar a prefeitura para, daqui dois anos, avançar na na estadual”

“Eu quero ver se o Pimentel continuará tendo o apoio desse pessoal para ganhar da Cristina e deixá-la como essa nova liderança da direita aqui no Paraná”, finalizou.

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