Foto1 Reprodução Instagram Vogue Runaway – Ganni
O couro marrom continua em alta, como sugere a Ganni (Reprodução Instagram Vogue Runaway – Ganni)

Por muitos anos, eu cobri as semanas de moda nacionais – como São Paulo Fashion Week, Fashion Rio, Minas Trend, Dragão Fashion – e, de quebra, ficava de olho nas gringas, tentando extrair o que daquelas produções maravilhosas faria o nosso coração bater mais forte, o que emplacaria comercialmente, o que daquilo tudo sobreviveria ao tempo. Era um tempo diferente, o pré-influencers. Era ver o desfile, ir ao backstage para conversar com os estilistas, entender o momento do mercado e fazer as apostas, que sempre surgiam ao fim das temporadas. O que se repetia muito, o que traduzia um sentimento que pairava pelo ar – o tal do zeitgeist – era convertido em tendência.

Não eram tantas as pessoas que olhavam os desfiles e saiam montadas com os looks das marcas pelas ruas. Mesmo as clientes fiéis traduziam para a vida real as produções da passarela. Acho engraçado, hoje, ver a turma encarnando as modelos pelas calçadas em torno dos desfiles. Não basta ter, precisa parecer, aparecer e muito. Mas, voltando ao meu tradicional modus operandi de cobrir desfiles, a observação foi a conselheira na hora de extrair dos desfiles da Paris Fashion Week alguns apontamentos para as próximas estações. Não é lei, não para todos, mas é o que vai se ver por aí.

Entre as principais inspirações da semana da moda francesa, a mais evidente é o boho, ou boêmio contemporâneo, que se baseia no estilo de vida mistura estilos, como o hippie chic, étnico, oriental, romântico, country e vintage. Ele se adapta à sua moda, é versátil e criativo. Chloé e Valentino interpretaram a tendência, cada um à sua maneira. No mais, as ruas são a mais forte referência das passarelas. Na Ganni, peças tradicionais como o trench coat e o sobretudo de couro permanecem como básicos, só que reinventados. Yves Saint Laurent, por sua vez, que tradicionalmente passeia entre as indumentárias femininas e masculinas, trouxe para a passarela uma revisão chiquérrima dos costumes, conjuntos de terno e calça. Chanel, por sua vez, também manteve seus conjuntinhos clássicos.
O verdadeiro barato começa agora. Como é que as pessoas “normais” vão entender o recado das passarelas? Transformar e interpretar é preciso. Dá legitimidade e graça aos discursos e às tendências. Vamos ficar de olho.