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Foto: Franklin de Freitas

O plano de governo de Cristina Graeml propõe uma novidade para o transporte público: os mais pobres vão gastar mais dinheiro para financiar as passagens de ônibus da população da classe média. Essa política, no entanto, transparece com outro nome: Passagem Proporcional. Ela está na página 45 do documento protocolado pela chapa do PMB no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná e foi amplamente defendida por ela no debate da Band.

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Curitiba tem atualmente o transporte coletivo mais integrado do País, com conexão direta com 12 municípios. Com uma única passagem é possível se deslocar da capital para as outras cidades sem ter que pagar mais. A integração com a RMC, desfeita em 2015, foi retomada na gestão Greca/Eduardo. Dos 15 milhões de passageiros por mês que utilizam o transporte de Curitiba, 3,2 milhões são da Região Metropolitana, que entram no sistema sem ter que pagar mais.

Atualmente é possível percorrer os 43 quilômetros que separam Fazenda Rio Grande e Colombo, passando por Curitiba, pagando apenas uma passagem de R$ 6. São 22 terminais de integração, 242 linhas urbanas, 62 linhas metropolitanas que integram com o sistema e quatro linhas mistas (urbanas e metropolitanas).

Para Cristina, no entanto, o melhor modelo não é o da integração, mas da cobrança proporcional. O plano de governo diz o seguinte: ”Buscaremos a implementação de cobrança de passagens proporcionais ao uso do transporte público, incentivando o uso racional e garantindo maior justiça tarifária”.

Nas entrelinhas, o que a ideia de Cristina Graeml denota não é justiça tarifária porque a ideia funciona igual a um taxímetro: quem usa pouco tempo, paga pouco, quem usa mais tempo, paga mais. E adivinha quem usa mais tempo? O morador da periferia da cidade que trabalha na região central. Aqueles 3,2 milhões de pessoas.

A própria candidata defendeu a tese em uma entrevista ao canal Inusitável Podcast, há um mês, apontando inclusive que o morador pobre mora afastado do centro porque “quer”. “O sistema de Curitiba permite sair de Fazenda Rio Grande e ir para Colombo, quer dizer, ir do limite sul para o limite norte gastando apenas uma passagem. Mas o cara que sai do Batel para Centro Cívico paga o mesmo, anda 2 ou 3 quilômetros, não é justo”, disse.

“A tecnologia resolve isso. Na hora que vai comprar a passagem na maquininha você diz que vai do Batel para o Centro Cívico, opa, 3 quilômetros, vai custar tanto. Preço por quilômetro rodado. Quem mora na Região Metropolitana e tem menos poder aquisitivo, tanto que usa ônibus, precisa rodar mais. Mas é uma escolha tua. Você quer morar na região metropolitana e trabalhar na Capital vai ter que se deslocar mais, por um período e um percurso maior. Não é justo que quem anda pouco pague por quem anda muito”, afirmou.

Na Band ela adotou discurso similar: “Os moradores do Tatuquara e mais periféricos vão ser estimulados a empreender e trabalhar mais próximo de casa. Vamos implantar um sistema em que o morador do Centro vai até o Alto da Glória ou Cristo Rei paga a mesma passagem atualmente. Mas não é justo. Vamos implantar a passagem por quilômetro rodado”.

Nova concessão

O atual modelo de cálculo da tarifa em Curitiba foi estabelecido pelo atual contrato de concessão, feito na gestão de Beto Richa e Luciano Ducci. O contrato entrou em vigor em 2010 com duração de 15 anos. A nova concessão, que está sendo estruturada com apoio do BNDES, tem como premissas oferecer ao usuário uma tarifa justa, um serviço eficiente e um sistema moderno e equilibrado financeiramente, fundamental para manter a continuidade do serviço. A meta é que 33% da frota seja elétrica até 2030, percentual que deve subir para 100% até 2050.

Além da nova concessão, Eduardo Pimentel propõe a implantação da Tarifa Zero para quem está procurando emprego e do “Domingão paga Meia”, com 50% de desconto na passagem nos domingos e feriados; tarifas mais baratas aos usuários do transporte; além de ampliação da frota de ônibus elétricos – 54 passarão a circular em Curitiba em 2025, inclusive no Inter 2.