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Pixabay

Conviver com um narcisista é como presenciar um espetáculo constante, sem nunca saber se o que se passa é uma peça de tragédia ou comédia grega. Eles vivem em cena, sempre buscando ser o centro das atenções, movidos pela ideia de que o universo é pequeno demais para abrigar a própria grandeza. A cada encontro há uma nova peça, um ato maior, onde nada pode ser banal, nada é menor que épico.

O narcisista é mestre em monopolizar qualquer conversa. Em manipular os desavisados. Pra ele, até mesmo uma troca de palavras simples ganha proporções de uma ópera, na qual assume o papel da soprano dramática, onde sua experiência é única e sua opinião definitiva. Ele não divide histórias. Ele as domina, como se o mundo inteiro fosse seu palco particular. Porque, como diria Caetano, “Narciso acha feio o que não é espelho”.

As cenas mais chocantes são aquelas nas quais o narcisista se faz de mártir. Quando algo foge ao seu controle, assume a postura de vítima incompreendida, injustiçada por um destino que não enxerga sua “grandeza” com a reverência devida. A expressão facial dramática, o suspiro ensaiado – ele é um artista da mágoa, convencido de que o sofrimento próprio é incomparável.

É profissional em desqualificar a existência e o trabalho alheio. Inclusive quando ele mesmo não faz ideia dos protocolos técnicos necessários pra chegar aos resultados desejados.

Seus dias se alternam, ora como o herói, ora como o mártir, sempre envolto em sua própria megalomania. A convivência se transforma numa arena em que todos somos espectadores forçados, testemunhando sua luta contra um inimigo invisível – a realidade, que nunca é tão grandiosa quanto ele acredita merecer.

A convivência se torna um ensaio sobre a própria existência e grandiosidade, embalado numa trilha sonora invisível onde a única melodia que ecoa é sua eterna auto adoração. Pra ele, não existe humildade, apenas uma performance contínua, onde a vida de todos ao redor serve pra enaltecer sua essência e suas qualidades.

Basta um pouco de autoestima e esperteza pra perceber que o narcisista é, no fundo, um grande frustrado. A grandeza que ele enxerga em si é tão imensa quanto a distância que o separa da realidade. Ele se esforça, ensaia gestos e palavras, acredita que, a cada ato, sua “majestade” será, finalmente, reconhecida. Só que o público não é burro, não se convence e vai se dispersando. Os aplausos se tornam suspiros de cansaço e a credibilidade se evapora, como fumaça num espetáculo de ilusões.

Seus discursos perdem a cor, suas histórias viram contos repetidos e as pessoas ao redor passam a vê-lo como uma figura trágica que insiste em encenar sua própria pobreza espiritual pra um teatro cada vez mais vazio. O aplauso que ele tanto busca se torna apenas um eco de sua própria vaidade, aprisionado no silêncio daqueles que, cansados, já sabem o fim da peça.

Dos narcisos que se salvam, só a Narcisa Tamborideguy, que, do alto da sua autenticidade e maluquice, diverte um país inteiro. Dos demais, fuja, sem pestanejar.

 
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e, às vezes, acaba encarando uns narcisistas megalomaníacos pela vida.