Desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, o Paraná já registrou a circulação de pelo menos 51 variantes e sublinhagens de SARS-CoV-2, o vírus que provoca a Covid-19. Essas cepas tiveram a presença no estado confirmada após o envio de testes RT-PCR positivos de paranaenses para sequenciamento genômico na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outros laboratórios, como o da Fundação Ezequiel Dias (Funed), num trabalho sob orientação da Rede Genômica Fiocruz e do Ministério da Saúde.
Segundo informações da Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa-PR), o Laboratório Central do Estado (Lacen-PR) envia quinzenalmente amostras para investigação e monitoramento das cepas circulantes no Paraná. A seleção é feita de forma aleatória e cumpre critérios técnicos e epidemiológicos, ou seja, refletem um recorte de um cenário e servem de balizador de pesquisa e informação.
O Bem Paraná, então, realizou um levantamento a partir de dados inseridos na plataforma internacional de dados genômicos GISAID e disponibilizados no dashboard de vigilância genômica do SARS-Cov-2 no Brasil. E assim descobriu que há um total de 51 sub-linhagens ou variantes cuja circulação já fora confirmada no Paraná desde setembro de 2020 (primeiro mês com dados disponíveis) até janeiro de 2022, o mês mais recente com informações já divulgadas. Dentre elas, um total de 32 são consideradas Variantes de Interesse (VOI) ou Variantes de Preocupação (VOC) e outras 19 são classificadas como “não VOC/VOI”.
Uma variante do SARS-CoV-2 é considerada de preocupação quando verifica-se uma ou mais das seguintes alterações: um aumento na transmissibilidade ou alteração prejudicial na epidemiologia da Covid-19; um aumento da virulência ou mudança na apresentação clínica da doença; ou diminuição da eficácia das medidas sociais e de saúde pública ou diagnósticos, vacinas e terapias disponíveis. Já a variante de interesse é aquela que em seu genoma contém mutações que mudem o fenótipo do vírus e se: tiver sido identificada como causadora de transmissão comunitária, de múltiplos casos ou de clusters (agrupamentos de casos) de COVID-19 ou tiver sido detectada em vários países; ou ser de outra forma avaliada como uma VOI pela OMS em consulta com o Grupo de Trabalho de Evolução do Vírus SARS-CoV-2.
Os resultados, obtidos a partir da análise de 3.562 amostras (testes RT-PCR positivos), revelam ainda que as cepas ou linhagens mais identificadas no estado desde o começo da pandemia são a Gama (com 1.650 amostras analisadas) e a Delta (com 1.208). Já em 2022, o destaque tem sido a Ômicron e suas sublinhagens, com 70 registros (94,6% das amostras analisadas em janeiro).
Deltacron se torna o novo desafio; Ásia e Europa veem alta de casos
Agora, a nova variante que tem atraído as atenções de todo o mundo é a Deltacron, que recombina características genéticas das versões Ômicron e Delta — por isso do ‘apelido’ Deltacron ter sido dado à cepa, cuja existência foi confirmada há cerca de duas semanas pela Organização Mundial da Saúde.
Até o momento, dois casos suspeitos da nova variante já foram identificados no Brasil, segundo informou na última semana o ministro da Saúde Marcelo Queiroga, um no Amapá e outro no Pará.
Os primeiros casos envolvendo essa cepa surgiram na França, ainda no começo do ano, e desde então ela também foi encontrada na Alemanha, Dinamarca, Holanda e, mais recentemente, nos Estados Unidos.
Até o momento, a quantidade de sequências positivas da linhagem é bem baixa, o que pode ser um sinal de que a Deltacron não possua capacidade de espalhamento superior à da Ômicron.
A própria OMS, inclusive, destacou que até o momento “não foram observadas mudanças epidemiológicas ou na severidade da doença relacionadas a essa variante”. É de se esperar, contudo, que mais vírus recombinados surjam com o passar do tempo.
Apesar disso, países da Europa e da Ásia voltaram a registrar altos números de infecções nas últimas semanas. China e Coreia estão em atenção para os elevados casos novos. Inglaterra, Áustria, Grécia, Alemanha, e Itália também observam a elevação.
Variantes do SARS-CoV-2 identificadas no PR
(dados gerados pela Rede Genômica Fiocruz e/ou depositados na plataforma GISAID por outras instituições a partir de amostras paranaenses)
Variante | Classificação | Quantidade |
AY.100 (Delta) | VOC/VOI | 9 |
AY.101 (Delta) | VOC/VOI | 849 |
AY.102 (Delta) | VOC/VOI | 2 |
AY.116 (Delta) | VOC/VOI | 72 |
AY.121 (Delta) | VOC/VOI | 1 |
AY.122 (Delta) | VOC/VOI | 3 |
AY.124 (Delta) | VOC/VOI | 2 |
AY.129 (Delta) | VOC/VOI | 1 |
AY.26 (Delta) | VOC/VOI | 1 |
AY.34 (Delta) | VOC/VOI | 5 |
AY.34.1.1 (Delta) | VOC/VOI | 4 |
AY.36 (Delta) | VOC/VOI | 1 |
AY.38 (Delta) | VOC/VOI | 5 |
AY.43 (Delta) | VOC/VOI | 24 |
AY.43.1 (Delta) | VOC/VOI | 3 |
AY.43.2 (Delta) | VOC/VOI | 7 |
AY.46.3 (Delta) | VOC/VOI | 18 |
AY.47 (Delta) | VOC/VOI | 1 |
AY.99.1 (Delta) | VOC/VOI | 1 |
AY.99.2 (Delta) | VOC/VOI | 199 |
B.1 | Não VOC/VOI | 2 |
B.1.1 | Não VOC/VOI | 10 |
B.1.1.274 | Não VOC/VOI | 1 |
B.1.1.28 | Não VOC/VOI | 146 |
B.1.1.31 | Não VOC/VOI | 1 |
B.1.1.318 | Não VOC/VOI | 1 |
B.1.1.33 | Não VOC/VOI | 26 |
B.1.1.332 | Não VOC/VOI | 2 |
B.1.1.7 (Alfa) | VOC/VOI | 24 |
B.1.177.52 | Não VOC/VOI | 1 |
B.1.362 | Não VOC/VOI | 1 |
B.1.375 | Não VOC/VOI | 1 |
B.1.498 | Não VOC/VOI | 1 |
B.1.499 | Não VOC/VOI | 6 |
B.1.617.2 (Delta) | VOC/VOI | 6 |
BA.1 (Omicron) | VOC/VOI | 59 |
BA.1.1 (Omicron) | VOC/VOI | 32 |
C.36 | Não VOC/VOI | 1 |
C.37 (Lambda) | VOC/VOI | 1 |
N.10 | Não VOC/VOI | 1 |
N.5 | Não VOC/VOI | 1 |
N.9 | Não VOC/VOI | 2 |
P.1 (Gama) | VOC/VOI | 1473 |
P.1.10 (Gama) | VOC/VOI | 1 |
P.1.12 (Gama) | VOC/VOI | 9 |
P.1.14 (Gama) | VOC/VOI | 46 |
P.1.17.1 (Gama) | VOC/VOI | 1 |
P.1.7 (Gama) | VOC/VOI | 117 |
P.1.8 (Gama) | VOC/VOI | 3 |
P.2 | Não VOC/VOI | 355 |
P.7 | Não VOC/VOI | 23 |
TOTAL | 51 variantes | 3.562 amostras |
CEPAS VOC/VOI | 32 variantes | 2980 amostras |
CEPAS NÃO VOC/VOI | 19 variantes | 582 amostras |