O programa Nossa Feira, criado pela Prefeitura para garantir à população de Curitiba a oferta de frutas e legumes a preços baixos, vai se beneficiar de uma iniciativa inédita no sistema municipal de abastecimento: pequenas cooperativas de produtores familiares estão se organizando num consórcio, que garantirá o fornecimento regular de produtos para as dez feiras do programa. Com isso, além de beneficiar a população, o Nossa Feira cumpre seu outro papel, que é estimular a organização e o fortalecimento da agricultura familiar.

O Nossa Feira foi criado em março do ano passado e é baseado na venda direta realizada por duas cooperativas de agricultores familiares aos consumidores, eliminando a figura do atravessador – o que garante a manutenção do preço baixo (hoje, R$ 1,79 o quilo de aproximadamente 33 produtos de época, entre frutas e legumes).

Agora, as cooperativas consociadas, como a Cooperativa Agroindustrial de Corumbataí do Sul e Região (Coaprocor), vão passar a entregar seus produtos às cooperativas autorizadas a abastecer e comercializar nas Nossas Feiras: a Cooperativa dos Agricultores Familiares da Colônia Castelhanos (Coocastel) e a Cooperativa de Processamento Alimentar e Agricultura Solidária de São José dos Pinhais (Copasol). As cooperativas de São José dos Pinhais, Coocastel e Copasol, são as cooperativas âncoras, que irão receber os produtos das outras cooperativas organizadas no consórcio.

Instalada na região de Campo Mourão, no Norte do Estado, a Coaprocor inicia na próxima segunda-feira (4) a entrega semanal de aproximadamente 400 caixas de batata-doce, tomate, maracujá e goiaba para as outras duas cooperativas, qualificadas como permissionárias, por licitação, para o abastecimento das dez feiras do programa Nossa Feira, gerenciado pela Secretaria Municipal do Abastecimento (Smab). 

É a primeira vez que a Coaprocor realiza entregas de produtos na capital para equipamentos de abastecimento da Prefeitura de Curitiba. A Coaprocor tem entre seus principais clientes a linha de cosméticos Ekos da Natura, empresa para a qual fornece maracujás, mas ainda não tinha entrado no mercado curitibano. 

As novas entregas foram fechadas durante a primeira rodada de negócios do consórcio, rodada piloto, realizada nesta semana no Mercado Municipal. A negociação contou com a participação de dez representantes de cooperativas e de cinco permissionários de sacolões, que representam nove sacolões. A rodada de negócios foi organizada por técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) e da secretaria do Abastecimento envolvidos na estruturação do consórcio, que afirmam ser inédito no País.

Inédito

O ineditismo está na formação de um consórcio de pequenas cooperativas de produtores familiares, afirmou o diretor técnico da Emater, Paulo César Hidalgo. O diretor enfatizou a vantagem do modelo tanto para produtores como para consumidores. É inédito também a questão de se fazer a conexão entre produção e linha direta de comercialização com preços competitivos, ponderou.

Segundo ele, a competitividade dos preços oferecidos em equipamentos da Secretaria do Abastecimento é um grande diferencial: Uma empresa tradicional coloca o preço lá em cima, o preço que a Smab aplica é competitivo porque é bom para todos, finalizou. Os técnicos da Emater estão prestando apoio técnico às cooperativas e aos agricultores familiares na organização do consórcio, a ser juridicamente estabelecido no decorrer do processo.   

Alavanca

A criação do programa Nossa Feira provocou a necessidade e está impulsionando para uma maior e melhor organização da agricultura familiar, analisou o secretário municipal do Abastecimento, Marcelo Munaretto. O secretário também garante que este consórcio é uma iniciativa pioneira, a qual tem como gatilho as unidades da secretaria do Abastecimento. Essa política de abastecimento passou a integrar o Plano de Governo desta gestão para que o Município utilize seu poder de grande comprador para fortalecer as formas de produção sustentáveis, e a agricultura familiar é a expressão da sustentabilidade social, cultural e ambiental, defendeu Munaretto.

O programa Nossa Feira mantém o preço fixado a R$ 1,79 o quilo de aproximadamente 33 produtos de época, entre frutas e legumes. A venda direta entre cooperativas de agricultores familiares e consumidores, eliminando a figura do atravessador, é o que garante a manutenção do preço baixo. No ano passado foram instaladas, na região Sul da cidade, as cinco primeiras Nossas Feiras, e outras cinco novas feiras da modalidade serão abertas entre a próxima segunda (04) e sexta-feira (08), na região Norte. Além do Nossa Feira, com o amadurecimento das atividades do consórcio, as negociações devem ser estendidas a permissionários de outras modalidades de feiras, de mercados municipais e aos Armazéns da Família.  

Atualmente há uma unidade da secretaria do Abastecimento dentro da Central de Abastecimento (Ceasa), de Curitiba, cedida exclusivamente para a operacionalização de cargas das duas cooperativas, Coocastel e Copasol, responsáveis por abastecer o programa Nossa Feira. De acordo com o diretor de feiras e mercados, Nivaldo Vasconcellos, os permissionários dos sacolões também estão iniciando o processo de negociação direta para as futuras compras e será necessário expandir a área de operacionalização. Vamos pleitear outro espaço junto ao Ceasa para a implantação logística do consórcio, adiantou o diretor.       

Novos Negócios

 Não havia essa possibilidade. A conversa (rodada de negócios) nos deu essa oportunidade. A expectativa é a de fazer acontecer, de passar a fazer parte do mercado consumidor da capital do Estado. É bom para as cooperativas, para os produtores e para os consumidores, avaliou o diretor-presidente da Coaprocor, Gerson Rodrigues da Cruz, que atua na região de Campo Mourão.

A rodada também rendeu negócios para a Cooperativa dos Fruticultores de Nova América da Colina e Região (Nova Citrus), localizada próxima de Londrina e Cornélio Procópio, no Norte do Estado. Especializada em laranjas, esta também é a primeira vez que a cooperativa vai entregar seus produtos para atender aos equipamentos da Prefeitura. Até então, na região de Curitiba, a cooperativa só realizava entregas para algumas redes de mercados de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba.

O diretor-presidente da Nova Citrus, Edson Hideo Gudi, disse que faltam alguns ajustes na questão de transporte, entrega e logística, mas está confiante. Definida a logística, Gudi acredita que será possível fazer mais negócios com as cooperativas âncoras (Coocastel e Copasol) para depois se estender aos sacolões. Acho que vai fortalecer as pequenas cooperativas e (consórcio) vai reduzir o custo operacional porque vai centralizar em um ponto (cooperativas âncoras), disse Gudi.

Se as pequenas cooperativas estão se unindo para ganhar força e poder de negociação, os permissionários de outros equipamentos, como os sacolões também vão necessitar se organizar. Ederson Fernandes, permissionário de sacolões nos bairros Boqueirão e Uberaba, também participou da rodada de negócios, mas não fechou nenhuma compra. Preciso arrumar um parceiro para comprar uma quantidade que cubra o valor do frete, raciocinou Fernandes.