Foi no reinado do rei Luís VII, em pleno século 12, que os franceses viram surgir a Catedral de Notre-Dame, em Paris. Apoiada e vista com interesse por todas as classes sociais, desde o rei ao mais simples lavrador, a construção do edifício seguiu rapidamente e sem interrupções, fato raro em construções de grande envergadura na época.

Assim, em 1182, serviços religiosos já eram ali realizados e o edifício foi terminado em 1267, com a construção dos braços do transcepto, que faz a projeção de sua planta ter o formato de uma cruz. E por que estou citando isso?
Porque a catedral foi, ao longo dos séculos, sofrendo alterações significativas, como na época de Luís XIV, quando túmulos e vitrais góticos foram substituídos por elementos barrocos. Em 1793, durante a Revolução Francesa, mais componentes da catedral foram destruídos e muitos dos seus tesouros roubados, acabando o espaço por servir de armazém de alimentos.

Com a vinda do Romantismo, a filosofia e os olhares se voltaram para as realizações artísticas do passado. Então, sob esta diretriz de respeito para com os antecedentes, é iniciado um monumental programa de restauro da catedral em 1844, que se estendeu por 23 anos, liderado pelos arquitetos Eugene Viollet-le-Duc e Jean-Baptiste-Antoine Lassus. Foi esta a maior restauração da história da arquitetura, até vir a ser superada por outras em épocas mais recentes, surgidas como conseqüência da destruição ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

     Assim, apenas citando de passagem os bens intangíveis de nosso patrimônio, como idéias, costumes, danças e contos folclóricos, ficam evidente que tanto a Conservação quanto a Restauração têm como objetivo salvaguardar os bens culturais tangíveis de nossa cultura ou da ação do homem, como monumentos, sítios arqueológicos, objetos e obras de arte. A totalidade dos bens intangíveis e tangíveis forma o patrimônio histórico e artístico, ou seja, nosso Patrimônio Cultural.

Agora mesmo, um excelente trabalho de conservação e restauro foi realizado em obras sobre papel pertencentes ao Acervo do Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Um total de 248 obras de arte passou pelos procedimentos de conservação e restauro, num trabalho que, segundo o diretor do MAC-PR Alfi Vivern: “não teria sido possível sem a sensibilidade de Sabrina Haddad e o patrocínio, por intermédio da Lei Rouanet, da empresa espanhola ABENGOA, que faz instalações de transmissão de energia elétrica. A percepção da importância do projeto para a preservação das obras foi elemento essencial no decorrer dos procedimentos de limpeza e restauro, caracterizados pela minúcia, paciência e tempo.”  

Jozele Penteado e Vivian Letícia Busnardo Marques do Laboratório do Papel foram as responsáveis por todo o projeto desde seu início, quando esboço, até a finalização. E isto ocorreu, tal como Iraí Casagrande declara: “Devido ao idealismo de Jozele Penteado que, conhecendo o MAC-PR como estagiária, criou amor pela instituição e assim prestou uma homenagem ao museu. O trabalho foi realizado de A a Z, cumprindo todas as etapas previstas do projeto, e as complementando com as molduras que não estavam previstas.”
    Liderando uma grande equipe de pessoas constituída por funcionários do museu e especialistas terceirizados, Jozele e Vivian analisaram e registraram fotograficamente cada obra antes e depois dos processos de limpeza e restauro. Muitos dos desenhos e gravuras – todas obras em papel – além das marcas do tempo, estavam com problemas relativos a fungos, manchas, sujidades. O trabalho foi executado entre 2008 e 2009 e privilegiou obras de valor artístico-histórico que se encontrava em situação de risco.

No texto do catálogo, Rosemeire Odahara Graça explica que “no acervo do MAC o núcleo de obras que tem como suporte o papel é um dos que possui maior valor artístico. Fruto da importância que Curitiba adquiriu nas décadas de 70 e 80 como um centro de produção e discussão de diferentes técnicas de gravura, e o MAC promotor do Salão Paranaense e da Mostra do Desenho Brasileiro, o grupo de obras em papel além de numeroso é um dos mais valiosos na representação de qualidade e diversidade das artes visuais produzidas no século 20 sobre este suporte no sul do Brasil.”
    A exposição “MAC 248 Obras Restauradas” está aberta ao público até 26 de julho no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Rua Des. Westphalen, 16 Informações 41 3323-5337).