Curitiba ganhou uma galeria totalmente sustentável há pouco mais de 15 dias. Em contraponto aos efeitos das mudanças climáticas, que inclusive já afetam Curitiba, a Panaceia parece ser a esperança de um pontinho verde na cidade. Um espaço que torna a sustentabilidade algo “concreto”.
A Galeria Panaceia é um espaço de sustentabilidade, que pretende reunir pessoas, marcas e soluções ligadas ao tema. Há pouco mais de três anos, o projeto nasceu no coração de Carol Gusi, advogada e mestra em Gestão Ambiental. Carol conta que já trabalhava com direito ambiental, mas se frustrava porque o dano, ali, já estava feito. Ela queria trabalhar com soluções, e foi assim que a Panaceia surgiu.
A Galeria, que fica no Ahú, em Curitiba, é dividida em 11 espaços. Cada espaço recebeu a assinatura de um arquiteto diferente, que, mesmo sem experiência prévia, deveria utilizar materiais sustentáveis. “A ideia era fazer essa coisa colaborativa mesmo e convidar. A gente não exigiu que eles tivessem nenhum conhecimento de arquitetura sustentável. Pelo contrário, a ideia era motivar. Desafiar e incorporar nos projetos”, explica Carol.
A Panaceia foi inteiramente construída com materiais sustentáveis, como plástico reciclado, chapas de madeira reaproveitadas e até pisos de linóleo com casca de cacau. Cada detalhe foi pensado para minimizar o impacto ambiental e criar um ambiente que sirva de exemplo para práticas sustentáveis.
A horta na entrada, que se parece com um jardim comum, foi planejada para atrair abelhas e contém plantas alimentícias não-convencionais (PANCs), reforçando o conceito de sustentabilidade alimentar.
Além disso, a galeria sustentável em Curitiba também faz uso eficiente da luz natural e iluminação LED, enquanto uma estrutura metálica recortada proporciona conforto térmico, sem a necessidade de sistemas de ar-condicionado. Por outro lado, a Panaceia também tem a sua própria fonte de energia, por meio dos paineis solares. E, diferente do que já é visto por aí, a galeria tem o seu próprio sistema de reaproveitamento de água.
Vale lembrar, principalmente em Curitiba, onde há tantos fãs de café, que a Galeria também possui o seu próprio café. E sem perder a ideia ecológica. Toda a produção e as embalagens são sustentáveis. Por enquanto, há somente bebidas, mas Carol garante que estão se preparando para servir comidinhas no espaço também. E logo logo, a galeria também fará uma parceria com um restaurante que está para abrir em frente ao local.
Para incentivar a sustentabilidade no dia a dia
Além da construção, a Carol conta que a ideia é incentivar que as pessoas tomem decisões sustentáveis. Nesse sentido, o estacionamento inclui vagas exclusivas para carros elétricos e veículos compartilhados. Assim, além de promover o uso de combustíveis alternativos, é também uma tentativa de reduzir a poluição causada pelo tráfego urbano.
Para quem visita a Panaceia, a ideia é que seja um tour mesmo. Incentivados pelos números nos ambientes, os curiosos podem percorrer todo o espaço e aprender tanto sobre os materiais e ambientes, quanto conhecer os profissionais, que são predominantemente locais. A galeria, além de expor marcas sustentáveis e ser um ponto de encontro para pessoas da área, é um espaço totalmente aberto ao público, quase como um “museu da sustentabilidade”.
“A gente focou em soluções mais locais. Até para viabilizar, porque daí a pessoa vem aqui e vê a solução e se é muito de longe acaba ou encarecendo, além de toda a emissão de gás de efeito estufa de transporte. Então a gente pediu que tivesse esse cuidado na hora de escolher alguma coisa, às vezes vem de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo. Esse é o nosso raio máximo de distância”, explica.
“A ideia foi fazer a sustentabilidade ser mais acessível, mais palpável. Então, que qualquer pessoa possa vir aqui, conhecer essas soluções de perto, ver funcionando, testar, tocar, cheirar, enfim, coisas, né? Que é pra pessoa realmente conhecer”, diz Carol.
A galeria sustentável Panaceia fica na rua Eurípedes Garcez do Nascimento, 965, no bairro Ahú, em Curitiba. Por enquanto, o horário de funcionamento é das 10h às 12h e 13h às 18h, de segunda a sexta-feira. Mas a galeria pretende começar a abrir nos fins de semana também.
E as mudanças climáticas em Curitiba?
Uma névoa chamou atenção de quem passava por Curitiba no último dia 8 de setembro. A névoa, no entanto, não era uma simples neblina, se tratava, na verdade, da fuligem de queimadas na região do Pantanal e da Amazônia.
Cabe pontuar que as queimadas em si não são consequência das mudanças climáticas. Na verdade, os mais de 8 mil focos de incêndio nos estados do Brasil registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) são consequência de ação humana. A seca, no entanto, e a propagação do fogo são fruto das mudanças climáticas.
Mesmo antes da névoa que assustou os curitibanos, o alerta para as mudanças climáticas já existiam. No início deste ano, o Bem Paraná fez um levantamento de estudos produzidos pela própria Prefeitura de Curitiba. De forma resumida, a pesquisa conseguiu mapear quais as ameaças climáticas que já existem na cidade e quais ficarão mais intensas com o passar dos anos.
Entre as principais preocupações na cidade, estão as ondas de calor, principalmente em bairros menos arborizados como o Centro. Além de inundações e alagamentos, principalmente em bairros que são próximos a rios, como no Boqueirão, Hauer, Rebouças e outros. Por fim, outro risco já existente na cidade são os deslizamentos, que acontecem principalmente na região Norte da cidade, como nos bairros Abranches, Pilarzinho e outros.
*Lívia Berbel, sob supervisão de Mario Akira