Santorini – a Atlântida perdida

Por Dayse Regina Ferreira

Uma das mais espetaculares ilhas do mar Egeu, Santorini, cercada de outras ilhas vulcânicas, brilha ao sol nas cores vermelho, marrom e cinza. Com as tradicionais casas, muros,calçadas brancas, e suas igrejas de cúpulas azuis, Santorini se transformou em um dos lugares mais românticos do mundo. E foi, em 2013, colocada em primeiro lugar na lista Top 10 da TripAdvisor como a melhor ilha da Europa e a mais fotogênica do planeta.

Com uma longa história, transformou-se também em destino preferido para lua-de-mel e agora é o lugar perfeito pelos noivos que trocam a festa de casamento por uma viagem com parentes e amigos mais próximos, curtindo toda beleza da ilha que mais parece uma varanda debruçada sobre o Egeu, tendo como horizonte a Caldera, e mais a arquitetura minimalista, uma boa infraestrutura e um cenário único no mundo.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Os afrescos de Akrotiri, pintados em 1500 antes de Cristo, são representados pelo Jovem Pescador. Preservados pela lava, os afrescos conservaram a cor original. A maioria está em exposição no Museu Arqueológico, em Atenas

FIRA
Várias localidades na ilha revelam a história de Santorini, cujo nome oficial é Thira.Mas todos se acostumaram a usar o nome dado em honra à santa padroeira da ilha, Santa Irene de Tessalônica, que morreu na ilha quando foi exilada, em 304 antes de Cristo.

Santorini tem apenas 132 quilômetros quadrados e está localizada a 128 milhas náuticas do porto de Piraeus (Atenas). Agora as chegadas e partidas acontecem no novo porto de Athinios. Na ilha praticamente não existe vegetação, a não ser os famosos vinhedos. Durante o mês de setembro os turistas podem participar de colheitas e durante o ano todo, fazer provas de vinhos. O rico solo vulcânico produz também tomates, favas, alcaparras. E rosas.


Na Rua do Ouro de Santorini, Yannis e George atendem aos turistas na joalheria De’Laroca. O americano viajou o mundo todo, morou em Florianópolis. Mas não conhece Melmak. Ainda

Santorini pertence às Ilhas Cíclades e tem uma população permanente de cerca de 15 mil habitantes. Número que é multiplicado inúmeras vezes, durante a alta estação nas 14 vilas.

É em Fira, capital, que o maior movimento acontece. Com turistas invadindo todas as ruazinhas de pedras, por onde circulam também artistas famosos no cenário internacional. Cafés, tavernas, lanchonetes, bares, boutiques, lojinhas de souvenirs e joalherias de grifes de renome, fazem o charme de Santorini.


Nada se compara com a paisagem de casas brancas penduradas na rocha

No alto dos 300 metros acima do nível do mar, Fira pode ser alcançada pelo novo porto Athínios, através do antigo porto Skala ou subindo os 587 degraus da escadaria. No passado, o trajeto era feito apenas no dorso de mulas. Os chamados taxis ainda existem, mas quem preferir um pouco mais de conforto moderno, pode fazer uso do teleférico suíço, que percorre o caminho das alturas em apenas dois minutos.

Fira tem modernidades e foi construída no século 19, quando a capital veneziana em Skaros ficou inacessível por causa de terremotos. A arquitetura é uma mistura da tradição das Cíclades e do estilo veneziano. Night clubs, hotéis, lojas estão por toda parte.


Como suspenso no espaço, o bar é o ponto preferido para fotos de todos os turistas

Na chamada Rua do Ouro você vai encontrar até um remanescente da era dos hippies, que viajou por todos os cantos do planeta e morou em Florianópolis, onde ficou por amor de uma catarinense. Hoje o norte americano virou grego, faz charme para turistas dos navios de cruzeiros, que se encantam com as jóias em ouro e prata de inspiração em arte grega.

A Grécia tem uma história de 3 mil anos na fabricação de jóias e basta visitar um dos muitos museus do país, para conhecer as criações do passado, inspiração das modernas peças. É um dos poucos lugares no mundo onde as jóias ainda são feitas à mão. 70% da produção tem como destino a exportação. Em Santorini há mais de 40 joalherias vendendo 80% de peças que passam por quatro ou cinco técnicas específicas antes de ficarem prontas para as vitrines.


Cada recanto vale uma foto. E faz uma lembrança

A maior cidade da ilha é fácil de ser visitada, com localização centralizada e um bom serviço de ônibus e táxis. Em torno da praça central ficam a central de polícia, escritórios e bancos, farmácias e correios. E a catedral. No museu arqueológico, peças da pré-história de Thira e objetos encontrados em Akrotiri e Antiga Thira.

PÔR DO SOL
Na Grécia são famosos os finais de tarde, quando o sol se põe. Santorini não foge à regra, destacando a pequena Thirassia como pano de fundo, o complexo Christiana, Sikinos e Folegandros no horizonte distante. Mas é Oia (leia Ia) que atrai turistas de todo o planeta, para a hora mágica do dia. Oia tradicional fica no alto da parte norte da ilha e uma de suas características é a estrada construída no lado do precipício, levando até a vila de 79 igrejinhas.


Vermelho faz contraste com o branco e azul das construções nas ilhas gregas

Abaixo fica o praia de Ammoudi, de onde se tem uma visão de Fira. O único jeito de chegar até Ammoudi é descendo os 214 degraus da escadaria e ainda outros 286, até Armeni. Difícil é subir tudo novamente. Oia tem arquitetura típica de Santorini e das Ciclades, com pequenas casas dentro da rocha vulcânica.

Durante 1900 a vila tinha 9 mil habitantes, a maioria vivendo da pesca. Na época, utilizavam 164 barcos e estaleiros. Depois da devastação causada pelo terremoto de 1956, permaneceram no vilarejo apenas 500 residentes, 75% deles marinheiros que mantinham 126 barcos. Oia é considerada o coração cultural da ilha, com galeria de arte e lojas de artesanato. Tavernas e restaurantes mostram a culinária tradicional e servem os vinhos de Santorini. Sua beleza é única e hoje serve de cenário para casamentos. De chineses e japoneses…e até de brasileiros.


Oia, no norte da ilha, é um dos cartões postais de Santorini e da Grécia

Para os que pretendem fazer a cerimonia de casamento em Santorini, é bom saber que os preparativos começam pelo menos seis meses antes, com reserva de hotel, passagens aéreas, ferry ou avião, tipo de festa, número de convidados. Cinco meses antes faça reserva de taxis, escolha souvenirs para os convidados, marque tratamentos no Spa. Compre seguro viagem , escolha bagagem, faça lista dos presentes para o chá de noivado ou casamento. Tenha uma cópia do trajeto da viagem para cada convidado, incluindo telefone de hotel e agência de viagens. A maioria dos hotéis de Santorini organiza festas de casamento e atendimento em lua-de-mel. Uma idéia que está sendo a melhor escolha para boas lembranças.

AKROTIRI
Uma antiga lenda fala de uma ilha perdida no oceano Atlântico e durante muitas gerações de gregos acreditou-se ser Santorini. Até que o filósofo Plato, cerca de 375 antes de Cristo, escreveu que a ilha Atlântida era na verdade um grupo de ilhas, com uma montanha no centro. A montanha seria cercada de água, que por sua vez seria cercada por terra, em uma sucessão que alternava água e terra nove vezes.


Os 600 degraus do porto antigo até a cidade ainda são percorridos pelas mulas — táxis — como no passado. Servem também entrega de mercadorias nas vilas e cidadezinhas

As ilhas teriam sido criadas por Poseidon, deus dos mares, para seu amor Cleito. De acordo com Plato, Atlas, filho de Poseidon, foi um dos dez reis de Atlântida. Com prosperidade, o povo vivia feliz e a cidade foi construída com pedras pretas e vermelhas e os telhados eram de cobre, sempre brilhando ao sol.

Havia dois templos magníficos: um, cercado por uma muralha feita de ouro; outro, protegido por muros de prata com decoração em ouro e teto de marfim. Em 1967, por causa de uma erupção vulcânica, foi descoberta em Santorini uma cidade que permaneceu enterrada desde os anos 1500 antes de Cristo, Akrotiri.


Casamentos na ilha fizeram moda e os asiáticos já adotaram o novo esquema

Outros dizem que, segundo a mitologia grega, Santorini foi criada a partir de um torrão de terra oferecido aos Argonautas pelo deus dos mares, Triton, filho de Poseidon e Amphitrite. A ilha primeiramente foi chamada de Strongyli, por causa de sua forma arredondada. Não se tem data certa de em que época começou a ser povoada, mas há quem afirme que os primeiros homens chegaram por volta de 2000 antes de Cristo, primeiramente os fenícios e depois os dorians.

Os primeiros colonizadores chamaram a ilha de Kallisti (bela) e criaram um início para a grande civilização minoana de Creta, até a erupção vulcânica entre 1550-1500 antes de Cristo destruir tudo. Toda ilha permaneceu enterrada debaixo de camadas de pedras e cinzas de 30 metros de profundidade. A erupção do vulcão foi acompanha de imensas ondas, que dizem terem chegado a 210 metros de altura. Na terra dos deuses de paixões humanas, nada é suficientemente grande, forte, belo ou terrível…


Igrejas não faltam nas ilhas, todas brancas com cúpulas azuis, fazendo cenário

Depois da catástrofe, a ilha permaneceu abandonada durante dois séculos. A verdade é que a evolução e a forma atual resultaram de uma atividade vulcânica de mais de 26 mil anos. Assim, quando há cerca de 2 mil anos a primeira cratera do vulcão começou a ser formada, surgiu também na superfície do mar Akrotiri.

AKROTIRI
No sul de Santorini fica aberto ao público um dos sítios arqueológicos mais importantes de toda a Grécia. As primeiras habitações do local datam do Neolítico tardio. Durante o período inicial da Idade do Bronze, um povoado foi fundado na região, que cresceu no período mediano e tardio da Idade do Bronze, sendo transformado em um dos principais centros urbanos e porto do Egeu.

Ocupando cerca de 20 hectares, com sofisticado sistema de drenagem, prédios de mais de um andar e magníficas pinturas decorativas nas paredes, Akrotiri mostra o grande desenvolvimento e prosperidade de seus habitantes. Akrotiri mantinha contato permanente com Creta, com o continente grego, Dodecaneso, Cyprus, Síria e Egito.

A cidade desapareceu no final do século 17 antes de Cristo por um grande terremoto. O material vulcânico cobriu toda a cidade, o que permitiu que seu acervo fosse conservado, como aconteceu com Pompéia. Evidencias da existência de Akrotiri surgiram pela primeira vez na segunda metade do século 19. Mas foi em 1967 que sistemáticas escavações lideradas pelo professor Spyridon Marinatos. Em 2012 o local foi reaberto já com um sistema de proteção climática, que recorda o tempo que existia quando a cidade permaneceu enterrada durante 3.500 anos.

Hoje a área reformada ocupa 100 acres, com atendimento médico, escritório de guias, cantina, ponto de encontro e um grande depósito de água da chuva. O museu funciona de abril a outubro, diariamente, entre 8 e 20 horas.