anabolizante
Uso de esteroides anabolizantes pode prejudicar a fertilidade. (Freepik)

Os esteroides anabolizantes androgênicos (EAA), popularmente chamados de “bomba”, são usados como reposição hormonal e para fins estéticos. O que poucos sabem é que essas substâncias derivadas sintéticas da testosterona (dinabol, nandrolona, trenbolona, estanozolol e oxandrolona, entre outros), podem afetar diretamente o sistema reprodutivo feminino e masculino, causando danos severos e muitas vezes irreversíveis.

O especialista em reprodução humana João Guilherme Grassi, destaca que nos homens os compostos podem provocar a diminuição de espermatozoides, além de atrofiar os testículos.

“Os anabolizantes suprimem a produção natural de testosterona nos testículos ao reduzir a liberação de hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH) pela hipófise. Isso leva a uma diminuição significativa na produção de espermatozoides, resultando em oligospermia (baixa contagem de espermatozoides) ou azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen), o que pode causar infertilidade temporária ou, em alguns casos, permanente. Quanto maior a duração e a dose dos esteroides, maior é o risco de danos persistentes ou permanentes ao eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HPG), que regula a produção de testosterona e espermatozoides”, explica.

É possível recuperar a fertilidade após interromper o uso de esteroides, mas não é uma garantia. Reverter os danos depende de fatores como a duração do uso, as doses utilizadas, o tipo de esteroide e a resposta individual do corpo humano. Estudos recentes apontam que após cessar a aplicação, homens recuperam de forma parcial ou completa a produção de espermatozoides, entre seis meses a um ano. Porém, usuários de longa data podem vivenciar uma retomada mais lenta ou incompleta.

Existem alternativas na medicina reprodutiva em casos de dificuldade na reversão de danos, “é possível colocar em prática terapias como gonadotrofinas para estimular a produção endógena de testosterona e a espermatogênese após o uso de anabolizantes, e assim tentar ter novamente a saúde reprodutiva em dia”, aponta Grassi. Nas mulheres, os anabolizantes interferem na qualidade dos óvulos, além de causar distúrbios no ciclo menstrual e provocar a chamada “virilização”, caracterizada pelo desenvolvimento de características masculinas, como aumento dos clítoris, voz grave e crescimento de pelos no rosto. “Esses efeitos androgênicos prejudicam a função ovariana e a produção de hormônios femininos essenciais para a ovulação e fertilidade”, destaca o especialista.

Neste caso, a solução é realizar procedimentos de fertilização in vitro antes do uso das substâncias. O congelamento de óvulos é uma alternativa para preservar a fertilidade feminina, sem sofrer interferências dos anabolizantes.