(Marcelo Camargo/ABr)

Ondas de tristeza e desânimo, alternadas com momentos de euforia, otimismo e pensamentos exagerados podem indicar o transtorno de ciclotimia. Pouco conhecida, a ciclotimia é um tipo de transtorno de humor em que a pessoa passa por altos e baixos constantes, porém de forma menos intensa do que no transtorno bipolar. Lucas Benevides, psiquiatra e professor de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), explica como o diagnóstico clínico e o tratamento adequado podem melhorar a qualidade de vida de quem convive com o transtorno.

Segundo o psiquiatra, quem tem ciclotimia vive fases de leve depressão e momentos de energia em alta (chamados de hipomania), sendo que essas mudanças de humor nunca são tão graves a ponto de serem classificadas como depressão profunda ou mania. “É como se fosse uma versão ‘mais branda’ do transtorno bipolar. Mesmo assim, pode ter um grande impacto na vida de quem passa por isso”, revela.

Ao suspeitar de ciclotimia, Lucas orienta observar se existem fases de hipomania. De acordo com o especialista, durante esses momentos de alta, a pessoa pode se sentir mais animada, cheia de energia, superconfiante e produtiva. Ela também pode dormir menos, ser mais sociável e agir de forma impulsiva. Já nos períodos de baixa, surge uma depressão leve, marcada por tristeza, desânimo, cansaço, baixa autoestima e perda de interesse em atividades que antes gostava.

De acordo com o professor, a ciclotimia pode ser desencadeada por situações de muito estresse e grandes mudanças na vida, como a perda de um ente querido, mudanças nos relacionamentos e abstinência do uso de substâncias como drogas e álcool. “Tudo isso pode criar um ambiente emocional instável e o cérebro pode ter dificuldade em regular o humor, resultando nas oscilações características da ciclotimia. Essas mudanças de humor acontecem ao longo do tempo e, muitas vezes, de forma imprevisível, podendo complicar a vida social e profissional.”

Diagnóstico de ciclotimia e tratamento

Para diagnosticar a ciclotimia, é necessário um exame clínico realizado por um psiquiatra, afirma Lucas Benevides. O docente do CEUB explica que o tratamento geralmente envolve uma combinação de psicoterapia e medicação, com foco em abordagens que ajudam o paciente a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento influenciados por oscilações intensas e impulsivas de humor. “Em casos mais graves, podem ser prescritos estabilizadores de humor, como o lítio, além de antidepressivos e antipsicóticos, dependendo dos sintomas.”

A rede de apoio – sobretudo os familiares – também tem papel fundamental no auxílio a pacientes com ciclotimia, aprendendo sobre o transtorno para entender as mudanças de humor e lidar com elas de forma saudável. “O apoio emocional e um ambiente doméstico estável são fundamentais. Além disso, os familiares podem ajudar a monitorar os sintomas, identificar gatilhos e incentivar o tratamento”, considera o especialista.