Canal do varadouro

O Paraná terá um canal de acesso ligando as ilhas dos litoral do Estado às ilhas do litoral Sul de São Paulo. Serão seis metros ligando Paranaguá, onde estão Ilha das Peça, Ilha de Superagui, no Paraná, com Cananéia, em São Paulo, onde fica a Ilha do Cardoso e outras praias. O canal do Varadouro já existe, mas ele passará por modernização e dragagem da areia para permitir uma melhor navegabilidade.

O canal é uma faixa litorânea de aproximadamente seis quilômetros de extensão que conecta Paranaguá e Cananéia (SP), passando pela Ilha das Peças e Ilha de Superagui. O nome Varadouro é oriundo da necessidade dos viajantes ou comerciantes de “vararem”, arrastando ou carregando as canoas em um rio. Ele foi aberto em meados dos anos 1950, mas sua história remonta a uma época anterior à chegada dos portugueses na América do Sul.

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O governador Carlos Massa Ratinho Junior recebeu nesta semana da Secretaria do Planejamento o Anteprojeto de Dragagem, de Sinalização Náutica e de Instalações de Apoio ao Turismo no Canal do Varadouro. Ele foi elaborado pela Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre) a partir de um contrato celebrado com o Paraná Projetos.

Esse novo projeto pretende levar melhorias às condições de navegabilidade do canal, facilitar a vida das comunidades ribeirinhas e fomentar o turismo de base comunitária da região. 

O projeto contempla a abertura do canal, que terá 30 metros de largura nos locais onde existe uma maior distância entre as margens e 20 metros de largura nos locais com menor distância entre as margens, e dragagem até atingir profundidade de 2,4 metros. A proposta também contempla 160 sinais náuticos, basicamente compostos por boias.

Outra novidade envolve a construção de apoios náuticos com estruturas de madeira que incluem banheiros, conveniências, ambulatório e áreas de espera. Nas comunidades de Guapicu, Sebuí e Barbados, foram propostos trapiches e apoios náuticos menores. Por outro lado, nas comunidades de Superagui e Ilha das Peças, que recebem um maior número de turistas, foram propostos trapiches e apoios náuticos maiores para atender às necessidades específicas do turismo. Em Ararapira, foi projetado apenas um trapiche para melhorar o acesso à comunidade.

“Fizemos um estudo de batimetria (medição de profundidade, visando a melhoria da navegabilidade), outro de dragagem e outro de sinalização marítima para que as comunidades e o turismo de base social possam se organizar no fluxo do canal. O Varadouro tem seis quilômetros de extensão e, nele, identificamos 22 pontos em que o calado é muito baixo, com potencial de melhora para a vida das comunidades ribeirinhas”, disse o diretor de Planejamento e Projetos da Paraná Projetos, Célio Watter.

Segundo o secretário de Estado do Planejamento, Guto Silva, com o tempo o canal passou por um processo de assoreamento e teve sua passagem deteriorada. Mesmo assim os habitantes de diversas comunidades situadas na região ainda fazem uso diário do Canal do Varadouro.

“Esse canal tem algo extraordinário: ele está no coração da Mata Atlântica. E ele tem um potencial turístico maravilhoso, também de geração de emprego para ribeirinhos, pelo turismo náutico, trazendo gente de São Paulo para navegar no Paraná, deixando receita e muita coisa positiva”, afirma. “Não temos dúvida de que é mais um projeto que pode mudar a cara do Litoral”.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável, Everton Souza, reforçou a importância do canal para os litorais do Paraná e de São Paulo, por realizar a conexão entre as baías de Paranaguá, Guaraqueçaba e Antonina com Iguape (SP) e que, no passado, teve até mesmo um serviço de transporte coletivo que atendia moradores. Com o anteprojeto em mãos, o Governo do Paraná pode dar andamento aos estudos de fauna, flora e aquático.

“O governador tem uma visão ativa e forte em relação ao turismo náutico. Vamos começar as tratativas com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para o licenciamento desse projeto, que vai trazer grandes benefícios às populações tradicionais”, complementa.

Segundo Souza, o estímulo ao desenvolvimento do turismo deve fazer com que, inclusive, os moradores da região ajudem a proteger o meio ambiente, criando ou ampliando suas fontes de renda, deixando de buscar a subsistência tirando palmito e animais da mata. “Eles terão condição de ter a sua subsistência baseada no seu trabalho, nas belezas naturais do Litoral, promovendo um turismo gastronômico e de passeio pelas nossas unidades de conservação”, afirma.

HISTÓRICO – No Tratado de Tordesilhas, por um bom tempo o Meridiano da Cananéia serviu de divisor entre os domínios espanhol e português. A região Varadouro, ao sul, até Cananéia (SP), ao norte, foi palco de embates entre castelhanos e portugueses. Dada a importância para economia, comunicação e defesa, o Varadouro era passagem obrigatória do comércio.

Um documento oficial de 9 de junho de 1804, da Câmera de Cananéia ao Governador Geral da Capitania de São Paulo, é considerado um dos primeiros registros sobre a necessidade e importância da abertura de uma via de comunicação entre a baía de Paranaguá e a de Cananéia para o aumento do comércio. Em 1828, o Conselho do Governo solicitou às Câmaras de Paranaguá e Cananéia que organizassem um plano para abertura do canal. Paranaguá respondeu no ano seguinte. Em 1844, uma lei autorizou a exploração do canal, ligando os rios Varadouro e Ararapira.

Em 1854, já como primeiro Presidente da Província do Paraná, Zacarias de Góes e Vasconcelos cobrou o cumprimento da lei. Mas somente em 1869, Antônio Augusto da Fonseca, então Presidente da Província, ordenou a elaboração de estudo para as obras de abertura do canal. Em 1920, durante a presidência de Epitácio Pessoa, finalmente foi consolidada a área limite entre o Paraná e São Paulo, quando se fixou a linha do rio Ararapira como divisa natural entre os estados.

Dessa forma, o istmo (porção de terra bem estreita) do Varadouro ficou completamente situado do lado paranaense, permitindo a retomada das discussões sobre a abertura do Canal do Varadouro. Em 1956, por obra da Inspetoria Geral dos Portos e Canais, ocorreu a efetiva construção do canal. Ela facilitou a vida dos habitantes da região poupando tempo e ajudando com o comércio e turismo, assim como a construção do Porto do Varadouro.

Com o passar do tempo o transporte de mercadorias passou a ser feito pela BR-116 e outras rodovias. O canal começou a perder sua importância comercial, mas os habitantes de diversas comunidades situadas na região ainda fazem uso diário dele.