Superman
Christopher Reeve como Superman e com a mulher, Dana (fotos: divulgação / Warner)

‘Superman, o filme’. “Você vai acreditar que o homem pode voar”, dizia o cartaz do longa-metragem, lançado em 1978, época em que o personagem das histórias em quadrinhos completava 40 anos. No elenco, um jovem desconhecido que casava perfeitamente com o personagem estava rodeado de estrelas (como Marlon Brando, Gene Hackman, Susannan York e Glenn Ford) no set de filmagens. Por trás das câmeras, nomes como o diretor Richard Donner (que viria a fazer ‘Goonies’, ‘Ladyhawke’ e ‘Máquina Mortífera’), o roteirista Mario Puzo (de ‘O Poderoso Chefão’) e o músico John Williams, que criou ali o tema mais icônico da história do cinema (sim, mais que ‘Star Wars’). Não tinha como dar errado. Virou sucesso instantâneo. Virou algum de figurinhas. Virou franquia. Virou referência para todos os filmes de super-herói depois dele.

Christopher Reeve. O tal jovem desconhecido que virou astro quando encarnou o Homem de Aço em ‘Superman’. Nunca mais o mundo do cinema vai conseguir alguém tão perfeito para um papel de herói (nem mesmo com uso de inteligência artificial). O casamento foi tão perfeito que nunca mais ele se dissociou da imagem do herói quase invencível. Fora das telas, Reeve parecia um super-homem também. Simpático, carismático, educado, bonito, porte atlético, cara-família, gostava de esquiar, velejar, montar a cavalo e jogar futebol. Mas um dia o destino resolveu pregar uma peça…

‘Super/Man: a História de Christopher Reeve’, que estreia nesta quinta-feira (17), se desenvolve a partir daí. O que vem a seguir no texto pode parecer spoiler do documentário, mas na verdade são fatos que ocorreram de verdade e com ampla exposição da mídia, quase 30 anos atrás.

A tal “peça” foi um acidente que Reeve sofreu quando estava em uma competição de equitação, em 1995. Ele caiu do cavalo e sofreu uma grave lesão na medula. Ficou a um centímetro da morte. Saldo final: estava tetraplégico. Para o cidadão comum, soava como se o mundo tivesse perdido o Superman.

Se saía de cena o super, entra em cena o homem, a quem coube encarar um desafio que muitos heróis de capa não conseguiriam. Reeve passou pelos estágios de negação, vitimização e preocupação até aceitar a sua nova condição. Teve amplo apoio da família, principalmente da mulher, Dana Reeve. E resolveu usar todos seus recursos e influência para reverter o que parecia irreversível: voltar a andar.

Se os fatos são conhecidos, então o que o filme traz de novo? Para começar, o documentário dos diretores Ian Bonhôte e Peter Ettedgui tem liberdade para abordar certos fatos mais polêmicos – como Reeve ter saturado de interpretar Superman ou ter poucos sucessos comerciais além do homem de aço. O filme traz filmagens caseiras do dia a dia de Reeve com sua mulher, Dana, e seus três filhos: Matthew, Alexandra (ambos do primeiro relacionamento, com Gae Exton) e William. Tanto antes quanto depois do acidente. Traz o real momento que levou o astro a encampar uma batalha pela vida e pela qualidade de vida. Também traz depoimentos de estrelas famosas, como Susan Sarandon, Gleenn Close e Whoopi Goldberg – as duas últimas estrelaram ‘Armadilha Selvagem’, filme dirigido por Reeve já em sua condição de cadeirante, em 1997. Traz também a profunda amizade com Robin Williams, desde quando eram estudantes de artes cênicas e como um ajudou o outro em momentos de dificuldades. E, mais importante, traz o grande apoio de Dana em todos os aspectos, principalmente no que tange ao caminho a trilhar nas pesquisas em prol de pessoas com deficiências.

Dito tudo isso, qual o sentido de fazer ‘Super/Man: a História de Christopher Reeve’? Primeiro: trazer essa história para gerações mais jovens, que veem ‘Superman’ como “aquele filme antigão do Super-Homem” e talvez nem se lembrem (ou nem saibam) de fatos ocorridos há 20 anos ou mais. Reeve morreu em 10 de outubro de 2004, e é simbólico que o documentário seja lançado exatamente agora. Segundo: expor a diferença que uma pessoa pode fazer perante toda a sociedade; um herói capaz de inspirar.

A grande coragem de Reeve foi mostrar a condição em que vivem pessoas com deficiência, como ele. Expor as dificuldades de pessoas que pareciam invisíveis à sociedade. E lutar por uma vida mais digna – e, por que não, uma cura se possível. Coisas que hoje parecem simples, como calçadas acessíveis, ou parecem complexas, como pesquisas com celulas-tronco, devem a Reeve o empurrão inicial para seu desenvolvimento. Diz-se que o verdadeiro herói não usa capa. Assim, o único errinho de ‘Super/Man’ foi quando Christopher Reeve disse “não sou um herói”. Errado, sr. Reeve. Você foi um herói quando usou capa e um herói ainda maior quando estava sem ela.