Naquela noite, os integrantes do The Killers perceberam o clique – ele era quase audível. Em 1º de outubro do ano passado, Brandon Flowers (voz), Dave Keuning (guitarra), Mark Stoermer (baixo), Ronnie Vannucci Jr. (bateria) revisitaram o material de ‘Sam’s Town’, o segundo álbum do quarteto de Nevada, lançado dez anos antes, em um show no hotel de mesmo nome, também em Las Vegas. Na época, Vannucci Jr. disse “não haver melhor fonte da juventude do que tocar as canções de ‘Sam’s Town’ nesse lugar”.

Era o que estava faltando para que o The Killers voltasse sua sonoridade à crueza do movimento de pós-garage rock que resgatou o som de guitarra dos nichos e levou a banda ao topo no início do século, com os dois primeiros discos, Hot Fuss, de 2004, e o já citado ‘Sam’s Town’, de dois anos depois. “Aquele show nos prendeu de volta a um lugar que não havíamos chegado nos nossos últimos trabalhos de estúdio”, diz o baterista à reportagem, por telefone.

‘Wonderful Wonderful’, o fruto daquela digressão, está prestes a ganhar vida. O quinto disco chega às lojas em 22 de setembro cercado de expectativas. São cinco anos desde o lançamento de ‘Battle Born’, seguido de uma turnê, um disco natalino, uma coletânea de singles e um hiato. “A coletânea serviu para zerar as nossas cabeças. Encerramos um capítulo e começamos um novo”, diz.

A partir daquela noite, conta Vannucci Jr., a banda entendeu que precisava mesmo olhar para trás para resgatar a essência e deixar de lado o rock grandioso, cheio de atmosferas e perfeitinho demais, preparado para ecoar estádios mundo afora. Mais do que Sam’s Town, o Killers tenta resgatar a efervescência do hit Mr. Brightside, de 2004. De acordo com os ouvintes ingleses, é a maior canção indie daquela geração e, desde lançada, só não integrou o top 100 de mais tocadas no Reino Unido por dois anos.

O próprio sucesso da canção é um mistério para o baterista. Para ele, a popularidade da música tirou-lhe o sentimento de propriedade com relação à canção. “É quase como se ela, hoje, fosse de domínio público”, ele brinca. “É curioso, para mim, tentar o que faz com que as pessoas se atraiam por ela. Eu gosto de Mr. Brightside, mas não sei explicar o motivo.”

A aproximação de Wonderful Wonderful com os primeiros discos é disfarçada. O primeiro single do álbum, The Man, é ainda Killers das arenas, quase genérico. Run For Cover, a segunda a sair, já tem aquela batida acelerada que obriga Brandon Flowers a correr para não ficar para trás, com uma voz gritada, estridente e propositalmente estourada. É a partir dessa canção, a quinta de um álbum de dez, que se inicia o experimento do Killers em olhar para traz e resgatar suas qualidades mais lo-fi. Em Have All The Songs Been Written, eles refletem sobre a eficiência de buscar um novo hit em uma balada melancólica temperada pela guitarra chorosa de Mark Knopfler (do Dire Straits). Mas eles já encontraram: Tyson Vs Douglas tem potencial para encher as pistas de dança com aqueles que cresceram e envelheceram, tais quais os Killers, ao som de Mr. Brightside. “É uma canção sobre o medo de decepcionar alguém. Como o medo de um pai diante da desilusão do filho”, explica Vannucci Jr. “Nós crescemos e estamos percebendo o que realmente importa.”