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Encomendada por Drica Moraes ao dramaturgo Jô Bilac, a peça comemora os 40 anos de carreira da atriz e marca sua volta aos palcos. (Foto: Bruno Lemos)

De volta aos palcos, Drica Moraes chega em Curitiba com a peça “Férias”, ao lado de Fábio Assunção. O espetáculo acompanha um casal, interpretado pelos dois atores, que ganha dos filhos um cruzeiro pelo Caribe, para comemorar as bodas de prata. “Férias” chega em Curitiba neste sábado, 7 de setembro, em apresentação única, às 21h15, no Teatro Guaíra.

Em entrevista ao Bem Paraná, a atriz Drica Moraes conta sobre o retorno aos palcos depois de seis anos dedicada à televisão e ao cinema. Drica também traz detalhes da peça e a sua parceria com Fábio Assunção, além da sua relação com o público curitibano, que para ela é “muito comprometido com o teatro e as artes”. Confira a entrevista na íntegra aqui.

Bem Paraná – Antes de falarmos da história desse casal, eu queria falar sobre o seu retorno ao teatro e à comédia. Primeiro, sobre o teatro: há quanto tempo você não subia ao palco e o que você sentia falta?

Drica Moraes – Olha, eu estava seis anos sem fazer uma peça. Eu fiz uma peça chamada “Lifting”, uma comédia cirúrgica, bem no ano antes da pandemia. Com a pandemia, eu comecei a fazer mais televisão, só televisão, e papéis muito trágicos e dramáticos.

Eu estava com muita saudade de fazer uma comédia e estava com muita saudade do teatro. Eu venho do teatro, sou bicho de teatro, venho do tablado, comecei com 13 anos. Depois, criei a Companhia dos Atores com o Henrique Dias, companhia que tem um trabalho lindo até hoje, muito forte e contundente.

Então, eu me sinto muito bem no teatro e tenho necessidade de me expressar pelo corpo todo. A  televisão é um aquário, é um ‘framezinho’ que às vezes não chega no pé, e às vezes é o meu pé que está atuando, não é a minha cara. No teatro, você tem a oportunidade de estar inteira, com a sua carcaça, sua alma, num contato direto com o público, o que também é uma coisa muito gostosa.

BP – E sobre a comédia, o que ela te proporciona como atriz, que outros gêneros não conseguem? O que você mais sentia falta?

Drica – A comédia é um tipo de linguagem que acessa o teu coração com muita facilidade. Ela é um mecanismo de desarmamento do público. Você pode tocar em temas muito delicados de uma maneira muito atraente e saborosa.

Então, a gente consegue falar nessa peça de passagem do tempo, das dificuldades de um casal por tanto tempo, a saudade dos filhos crescidos, a entrada num mundo digital, onde a gente está muito sozinho. As pessoas estão trocando o corpóreo, o toque virou um item raro. Até entre os jovens as pessoas não se tocam, não se falam, não se conversam, e a peça é uma grande conversa. E uma conversa honesta, direta, amorosa e divertida com o público.

BP – Agora, sobre “Férias”. Qual é o ponto de partida da história desse casal vivido por você e pelo Fábio Assunção?

Drica – A sinopse da peça é um casal casado há 25 anos, que a gente chama de “homem” e de “mulher”, ou “H” e “M”. Eles ganham dos filhos uma viagem para um cruzeiro no Caribe, o que eles não estavam esperando, mas como são um casal aberto, estão para jogo, eles vão se jogar nessa aventura.

Eles gostam de se divertir, gostam de conversar, gostam de conhecer pessoas e gostam de transar, são loucos por transa e transam o tempo todo. Logo, acabam sendo expulsos desse cruzeiro, e caem numa casa na Colômbia, onde eles encontram um casalzinho jovem, que nós chamamos de “X” e “Y”, que somos nós mesmos que fazemos. E, então, eles vão se metendo em situações inusitadas. Eu não posso contar a peça toda, mas aí você já vê mais ou menos o trilho dessa história.

E dentro dessa história tem um fluxo de pensamentos contínuos, tocando nesses temas todos que a gente já abordou: a passagem do tempo, o contato com o corpo, o prazer consigo mesmo, o prazer com o outro, a saudade dos filhos, a dificuldade de entrar no mundo digital, a necessidade de entrar no mundo digital e tantos outros temas que nos atravessam diariamente.

BP – Comédias que se passam em cruzeiros são quase um gênero à parte no teatro e no cinema brasileiro, é sempre uma farra. O que esse espaço traz que permite tanta risada e tantas aventuras? 

Drica – Pois é, eu fui a um cruzeiro quando era criança, com meus pais, mas eu não tinha dimensão e nós fomos estudar um pouquinho. Os cruzeiros são cidades flutuantes. Você tem lojas, jantares, festas, aula de yoga, aula de ayurveda, aula de lambaerobica, de basquete, você tem necrotério, delegacia, hospital, é uma cidade. Então, aquilo também é uma coisa maravilhosa e mais terrível. Você fica refém de uma situação que seria para o divertimento, mas e se você não estiver legal nesse lugar? E isso passa pela cabeça deles.

BP – Esse casal é um pouco diferente daquele estereótipo do casamento longo: o fogo da paixão ainda arde e eles não têm medo do novo. Esse casal reflete um pouco de você e do Fábio de alguma forma?

Drica – Com certeza. O Jô Bilac escreveu essa peça muito em conversas conosco. Nós trocamos muito e trouxemos muitas coisas. O Fábio falou muito disso, de ser um casal que transa muito e eu também falei.

Eles são os novos 30, porque o casal de 50 anos, a priori, às vezes, parece estar condenado a já estar pensando no caixão. E não é verdade, a gente está no topo da vida, a gente está com tudo em cima, e a medicina ajuda, e a ciência ajuda. Estamos vivendo um monte de coisas e no nosso melhor. Tem até uma frase da peça que fala “com dinheiro e gozando a vida”.

BP – E onde entra a reflexão no meio de tanto riso?

Drica – A reflexão entra o tempo todo. O tempo todo. A gente pode rir pensando. A gente pensa rindo, a gente está pensando o tempo todo, e os diálogos desse casal vão levando a reflexões muito divertidas, mas que estão sempre em fluxo de pensamento.

Tem uma hora que eu falo assim “Peraí, isso aí é pensamento, ou eu falo em voz alta?”. Aí, às vezes, [na plateia] alguém vai falar “em voz alta!”, porque eles estão pensando o tempo todo e estão falando o que estão pensando. E nós pensamos absurdos, o que nós pensamos é incensurável.

O jogo da direção é muito importante, é quase que um esporte, é um basquete, um passando a bola para o outro, olho no olho, passa a bola para eu marcar o gol. Então, tem um jogo entre nós que é muito legal de ver, e a gente tem com a plateia essa conversa honesta, divertida e amorosa.

Nós temos cena de plateia, vamos até a plateia, a plateia fala, a gente se manifesta, a plateia se manifesta. O foco é a grande celebração do teatro. As pessoas saem numa alegria, assim, é impressionante. É tipo um show de rock.

BP – Falando do Fábio Assunção, como tem sido essa parceria?

Drica – É muita cumplicidade em cena, olhar como o outro está, se o outro talento dá uma puxada no ritmo, e a gente sabe que aquela peça tem um andamento e a peteca não cai. É uma hora e vinte minutos de espetáculo, a plateia ri o tempo todo e o tempo todo está assim também.

“Meu Deus, mas pera aí, o que é isso que eles estão fazendo? Já me vi nessa situação? Gente, eu já passei por isso!”. Então, tem muita identificação com a plateia e nós precisamos estar muito próximos para que isso aconteça. E o Fábio tem sido um parceiro maravilhoso, muito inquieto, muito curioso, muito presente, sabe?

BP – Eu queria saber um pouquinho da sua relação com Curitiba, costuma passar pela cidade? Gosta daqui? Tem boas memórias?

Drica – Olha, eu tenho uma relação de lembrança muito forte com o público curitibano muito interessado por teatro. Já fui várias vezes com a Companhia dos Atores, com o “Melodrama”, depois fui com o “O Rei da Vela”, depois fui com uma peça da Aderbal Freire Filho, “A Ordem do Mundo”, fui com uma peça do Mauro Rasi, com o Paulo Autran. Eu lembro sempre de teatro.

Curitiba, para mim, é sinônimo de teatro e de um público muito comprometido com o teatro, com as artes. Um público crítico, mas um público que gosta, que gosta de gostar. Estamos assim, radiantes, com o coração na boca. As vendas estão indo muito bem, mas ainda temos ingressos para vender, então não deixe de acessar, porque vale a pena.

BP – Por último, Drica, você poderia deixar um convite para os nossos leitores? Por que eles deveriam garantir uma cabine nesse cruzeiro?

Eu chamo os curitibanos a abrirem um espaço na vida para alegria. Eu sei que a vida está muito pesada, o mundo está muito cruel, mas a gente tem a obrigação de lembrar que a gente veio para esse planeta, para essa vida, para ser feliz e para se divertir também, sempre pensando, sempre com senso crítico, mas para se divertir.

É um grito de independência. No dia 7 de setembro, venham ao Teatro Guaíra, às 21h, para nos assistir em “Férias”. Os ingressos estão à venda no diskingressos.com e em feriasacomedia.com.

Serviço – Férias

Quando: 7 de setembro (sábado)

Onde: Teatro Guaíra (R. XV de Novembro, 971, no Centro)

Horário: Apresentação única às 21h15

Quanto: A partir de R$90,00 (meia-entrada) + taxa adm

Vendas: Disk Ingressos