Estrela Lemisnki crédito foto Carol Bassani
Foto Carol Bassani

Histórias familiares, onde qualquer semelhança com a vida real será uma mera saudade. É desta forma que a poeta, compositora e cantora Estrela Ruiz Leminski estreia na prosa com seu livro “quando a inocência morreu”, que será lançado na próxima sexta-feira, dia 5 de julho, às 19 horas, na ESC – Escola de Escrita (Praça General Osório, 379/901 – Centro). Na ocasião, Estrela fará um bate-papo com a escritora Julie Fank. A autora define a obra como um grande mergulho dentro da sua árvore genealógica.

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São quatro histórias em homenagem aos quatro avós que ela não conheceu, recolhendo sensações familiares e extraindo histórias e sentimentos que levantam questões do não-pertencimento e da invisibilidade da mulher para construir a narrativa.

Filha dos poetas Alice Ruiz e Paulo Leminski, Estrela visita o seu passado para contar, a partir das perguntas “quem”, “quando”, “onde” e “por quê”, quatro histórias de seus bisavós. O primeiro personagem é Pedro, um senhor que não vive linearmente, que é o pai do Paulo (avô do Paulo Leminski) que foi casado com a Catarina. A segunda história vai para o futuro com a Luíza, uma jovem em busca de suas origens, que é a tataraneta de outra Luíza (avó da Alice Ruiz) que foi casada com Johann Schoenrock. A terceira personagem é a Josefa (avó da Alice Ruiz) que vive no Brasil a contragosto, e é a mãe da Angela (avó da Estrela). O último capítulo, que dá título ao livro, é narrado por um menino sem nome, e conta sobre Inocência (avó do Paulo Leminski) que morreu muito jovem, possivelmente durante a gripe espanhola em Curitiba.

Cada família tem um doido, diz Estrela Ruiz Leminski

Estrela Ruiz brinca dizendo que em cada família tem um “doido” da genealogia e calhou dela assumir esse papel. Ela começou com uma pesquisa sobre o lado polônico do pai e descobriu que as informações estavam imprecisas. Então foi a fundo na sua árvore genealógica. Pesquisou sites, acessou documentos internacionais da Polônia e da Ucrânia e foi preenchendo as lacunas pessoais. “Assim, mesmo não tendo as referências básicas de memória como o tom de voz, a culinária e o temperamento, eu fui conhecendo a história desses avós, e entendendo o quão rico eram essas histórias que formavam a minha personalidade”, conta.

De fato, Estrela consegue se perceber em todos os personagens do livro e transformou essa pesquisa em quatro histórias independentes, onde, curiosamente, ela não aparece na narrativa. “Para mim era muito importante trazer um fio condutor que me tirasse da pessoalidade”. Ela lembra que durante o processo do livro, que durou quatro anos, também foi colecionando casos familiares de amigos próximos. “É impressionante que quando eu trazia histórias aparentemente surreais da minha família, sempre tinha alguém que me falava ‘Nossa você não sabe o que aconteceu na minha’ e contavam algo até pior”, comenta. Numa delas, contada por um amigo polonês, aconteceu durante um Natal na Polônia, quando a bisavó desse amigo, preparou uma grande festa para reunir a família. “Só que ela faleceu na manhã do dia de Natal. Era inverno, nevava muito e, para não cancelarem a festa, eles colocaram o corpo da velhinha na neve – para ficar congelado. Comemoraram o Natal tranquilamente para, depois das festividades, enterrá-la”. Apesar da situação bizarra, Estrela pediu licença ao amigo e incluiu no primeiro capítulo do seu livro.

Estrela Ruiz Leminski fala sobre a invisibilidade feminina

Ao pesquisar seu passado, Estrela concluiu que, na maior parte das vezes, o apagamento das histórias se dá por conta da invisibilidade feminina e das narrativas não contadas. “Eu cito no livro que existem três mortes. A primeira é a do corpo, a segunda quando não falamos mais sobre quem morreu e a terceira quando não escrevemos mais o nome de quem morreu”. E se depender dela, a memória de sua família estará cada vez mais imortal, com boas histórias e uma narrativa deliciosa.

Serviço

Lançamento do livro “quando a inocência morreu”, de Estrela Ruiz Leminski.

Sexta-feira, dia 5 de julho, às 19 horas.

Local: ESC – Escola de Escrita (Praça General Osório, 379/901 – Centro), com bate-papo com a escritora Julie Fank.