Em cena, Marcelo Médici, de 40 anos, faz o público se contorcer de tanto rir. Atualmente em São Paulo, o ator paulistano se divide entre as apresentações de seu solo Cada um com Seus Pobrema, que já foi visto por mais de 500 mil pessoas, e Eu Era Tudo pra Ela… E Ela Me Deixou. Mas, apesar de toda sua simpatia, o ator diz ser genioso. Difícil de acreditar. Dono de quatro cachorros, Médici é um dos apoiadores da Lei Lobo, que pede punição para quem maltrata animais domésticos. Longe do papel de ativista, reclama da implicância com os fumantes e garante que não deixou a TV Globo com mágoas.

Agência Estado — Cada um com Seus Pobrema está em cartaz há quase 8 anos. Você ensaia antes da reestreia?
Marcelo Médici —
Sim, tenho uma filmagem do espetáculo, que foi feita para uso pessoal. Aliás, o pessoal sempre pergunta quando vai ter DVD dele, mas não vai rolar. Acho que teatro tem de ser visto no teatro.

Agência Estado — Muito se fala do quanto é difícil fazer teatro. Como se sente sendo o criador de um sucesso?
Marcelo Médici —
Abençoado. Tenho absoluta consciência do quanto é difícil. Depois do Cada um com Seus Pobrema, já fiz três sucessos: Sweet Charity, O Mistério de Irma Vap e, agora, o Eu Era Tudo pra Ela… E Ela Me Deixou. Por quê? Não sei. A única coisa que posso falar é que não faço teatro papa níquel e que não sigo uma fórmula de comédia fácil.

Agência Estado —  É verdade que você pensa em uma segunda versão dessa peça?
Marcelo Médici —
  Sim, mas estou num impasse. Quero fazer para dois atores, mas o Ricardo (Rathsam, diretor) acha que tem de ser para um, o que não cabe para o que tenho na cabeça. Bom, para o terceiro, serão três atores. O 16, então, vai ser enorme, com 16 atores. Será a história da humanidade, talvez (risos)?

Agência Estado —  Você nunca confunde uma peça com a outra?
Marcelo Médici —
Não, mas hoje, por exemplo, fui para a Faap indo para o Teatro Frei Caneca. Essas coisas acontecem. Agora, as energias dos espetáculos são completamente diferentes.

Agência Estado — Sente falta de fazer drama?
Marcelo Médici —
Eu não me via como humorista. Mas, às vezes, a vida te leva. Eu já tinha feito comédia e me inscrevi num concurso (no Multishow, em 1998), e ganhei. Tive uma absorção de mercado que não tinha antes, por saber que, obviamente, não sou galã. A comédia me abriu espaço. No momento, estou de bem com a comédia e não sinto necessidade de provar nada.

Agência Estado — Sempre quis ser ator?
Marcelo Médici —
Sim, desde criança. Aos 16 anos, comecei a trabalhar porque queria comprar uma moto. Como meu pai era louco para me ver trabalhar, ele topou. Mas, quando a gente chegava nas lojas, ele desistia da compra, é claro. Juntando uma forma de sacanear meu pai e uma coisa que eu queria fazer, saí do emprego e me inscrevi num curso de teatro.

Agência Estado — E sua mãe apoiou sua carreira?
Marcelo Médici —
Sim, ela achava que eu tinha de fazer o que quisesse. Claro, é uma profissão de altos e baixos. Passei por todos os perrengues que os atores que têm uma história real passam.

Agência Estado — Você já disse que a morte da sua mãe mexeu com seu jeito de encarar as coisas.
Marcelo Médici —
Sim, meu maior vínculo foi com ela. Quando nasci, ela tinha 39 anos, era extremamente sábia, sem ansiedade com uma série de coisas. Em pequenas atitudes, ela me deu lições que levo para o resto da minha vida. Às vezes, estou querendo brigar, revidar e lembro dela dizendo: o desprezo é a pior coisa Ela morreu de mãos dadas comigo. Sem dúvida, já passei pelo pior momento da minha vida. Então, vejo as coisas de uma forma diferente.

Agência Estado — Você é briguento?
Marcelo Médici —
Tenho um gênio do cão, que tenho de domar diariamente. As pessoas me acham um cara super querido, super educado, mas eu sou capaz de barracos inimagináveis. Sou uma pessoa extremamente brava. Quando estou muito ‘puto’, aprendi a não mandar e-mail ou telefonar no mesmo dia.

Agência Estado — Você começou com stand-up. O que acha da febre do gênero?
Marcelo Médici —
É um gênero antigo. No Brasil, foi feito por José Vasconcellos, Chico Anysio, Jô Soares, Agildo Ribeiro e até Dercy Gonçalves. Acho stand-up ótimo, mas como é um tipo de espetáculo que não requer, entre aspas, muita formação, houve uma superlotação e todo mundo que era engraçado no churrasco, no banco, achou que podia fazer stand-up. E algumas pessoas do stand-up foram alçadas ao estrelato rápido demais. Daí, esperam que soltem uma piada melhor do que a outra, que sejam politicamente incorretas. Agora, no geral, não só com o humor, a gente vive uma época perigosa.

Agência Estado — Como assim?
Marcelo Médici —
O politicamente incorreto está sendo caçado, é uma bruxa. Vivemos um momento perigoso. As pessoas estão confeccionando as próprias camisas de força. Sobre o cigarro, a divisão de áreas para não fumantes é lógica. Agora, as pessoas passarem na rua olhando feio para um cara que está fumando, não dá. A pessoa está respirando monóxido de carbono, as vacas estão peidando, acabando com a camada de ozônio, as pessoas estão usando desodorante… É preciso entender que toda pedra tem seu dia de vidraça.

Agência Estado —  Já pensou em parar de fumar?
Marcelo Médici —
Por causa da lei? Não, de jeito nenhum. É claro que o cigarro prejudica, mas o tomate, aquele que você come naquela saladinha linda, pode te f… Pode estar empesteado. Infelizmente, estamos expostos a milhões de coisas que não fazem bem. Comercial de cigarro é proibido, de bebida, não. Eu nunca soube de nenhum caso de alguém que fumou um cigarro, ficou louco e matou dez pessoas com o carro.

Agência Estado — No Facebook, você tem repudiado os casos recentes de agressões a animais.
Marcelo Médici —
Não obrigo ninguém a gostar de animal. Agora, o que é inaceitável é que exista essa violência vil e não aconteça nada. Isso faz o Brasil virar um país bárbaro. As pessoas se revoltam por saber que não vai dar em nada. Nesses casos, a pena é de três meses a um ano, mas ninguém fica preso.

Agência Estado — Você fez 40 anos. Como se sente em relação à idade?
Marcelo Médici —
Quando eu tinha 20, achava que uma pessoa de 40 anos era velha. O mais engraçado é quando vou comprar roupa. Vejo, por exemplo, uma jaqueta. Então, me olho no espelho, não me sinto, mas tenho medo de parecer ridículo. Bermuda, como vou usar aos 40? E camiseta com desenho? Não dá. Boné com mais de 7 anos, você vira o Kiko, do Chaves (risos).

Agência Estado — Seu contrato com a TV Globo terminou em 2011 e você disse que não houve interesse das partes em renovar. Não quer mais fazer novela?
Marcelo Médici —
O cancelamento do programa Junto e Misturado me motivou, mas, para mim, a Globo faz a melhor novela do mundo. Se vier um bom convite para fazer novela, eu faço, claro. Achei uma pena o fim da série. Era um humor bacana. Achar que as pessoas vão gostar de um programa como o Zorra Total e não do Junto e Misturado é subestimar um pouco. Mas eu não saí com mágoa. Eu quis ser ator para fazer novela.

Agência Estado — É verdade que a atriz e humorista Zilda Cardoso mandou você sair de A Praça É Nossa (SBT)?
Marcelo Médici —
  Verdade. Ela disse: Saia do humorístico. Eu falei: Mas aqui é tão bom. Eu faço meu teatro, gravo só às terças-feiras. E ela disse (imita a voz da atriz): Mas não acaba. Eu tenho ódio da Catifunda. Eu ando em qualquer lugar e as pessoas me apontam, dão risada. Mas foi ótimo. Fiz por dois anos e fui muito feliz naquela época.