Historicamente, as representações mais comuns do negro no audiovisual brasileiro remetem a uma posição de inferioridade. Há cinco anos, o Festival Cinema Negro em Ação, do Rio Grande do Sul, é um dos eventos que contribui para mudar a maneira como o negro é percebido na sociedade a partir das telas, impulsionando a produção cinematográfica negra no País.

De 17 a 20 de outubro, o evento vai homenagear personalidades importantes do cinema nacional e oferecer um laboratório de consultoria para cineastas negros, além das Mostras Especial e Competitiva, de abrangência nacional. O festival acontece na Casa de Cultura Mario Quintana, no centro histórico de Porto Alegre.

O laboratório de consultoria para dez cineastas negros será conduzido pelo diretor e roteirista Marton Olympio, indicado ao Emmy Awards 2024 pela série Anderson Spider Silva. O laboratório se chama Sopapo LAB, referência ao instrumento musical exclusivo da cultura negra do Rio Grande do Sul. Olympio também fará uma masterclass gratuita para o público sobre a sua experiência criativa no dia 18 de outubro, na Cinemateca Paulo Amorim.

Festival presta homenagens e exibe filmes com protagonismo negro

A Mostra Competitiva contará com quatro categorias de audiovisual: videoclipes, videoarte, curtas-metragens e longas-metragens. As produções foram realizadas por pessoas negras ou contam com protagonismo negro em sua criação. Já a Mostra Especial será composta por produções selecionadas pela curadoria do evento.

O festival vai homenagear a roteirista e diretora Renata Martins, que possui sólida trajetória no cinema independente e atua na Rede Globo atualmente, onde ajudou a criar a série Histórias (Im)possíveis, de 2023. Trechos do roteiro do episódio Levante serão interpretados por dois grupos de teatro negro do Rio Grande do Sul, Pretagô e Espiralar Encruza.

“Renata é um exemplo de trajetória inspiradora. Trazê-la para o Rio Grande do Sul é importante para nós, que queremos que cineastas negros acreditem que é possível ser artista, que é possível contar novas histórias”, avalia a curadora geral do Festival, Kaya Rodrigues.

O Rio Grande do Sul possui papel importante no mercado audiovisual nacional. Além do Festival de Gramado, existem eventos marcantes como o Festival de Roteiros Audiovisuais de Porto Alegre e a Mostra de Cinema Latino-Americano do Rio Grande e o Mercado Audiovisual Entre Fronteiras, que tem como parceiros e co-realizadores Uruguai, Paraguai e Argentina – este ano, ele será em Puerto Iguazú, na Argentina, em novembro.

Entidades negras participam do festival

Realizado pela Secretaria de Estado da Cultura, por meio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), o festival é um dos únicos do País voltado à temática racial subsidiado por um governo estadual. “O governo do Estado, por meio da secretaria, reafirma a sua missão de valorizar a diversidade e de ofertar oportunidades ao talento e à potência criativa do Rio Grande do Sul, além de contribuir para a ampliação de um repertório fílmico plural”, salientou a secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo.

Para Sofia Ferreira, diretora do Iecine, as ações buscam fortalecer os realizadores negros não apenas pela programação e ações de formação que trazem maior visibilidade. “Procuramos construir, paralelamente, políticas afirmativas nos editais da Secretaria da Cultura do RS, através de cotas e indutores inclusivos”, afirma.

O festival conta com a participação de entidades negras. Uma delas é o Macumba LAB, coletivo de profissionais do Audiovisual Negro do Rio Grande do Sul, atua como parceiro do evento e participante do júri da Mostra Competitiva. Neste ano, a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan) será parceira oficial por meio da curadoria da Mostra Competitiva. Além disso, a associação vai ministrar um workshop virtual sobre distribuição audiovisual durante o Sopapo LAB.

“Como espaços dedicados ao cinema realizado por pessoas negras, esses festivais têm o potencial de dar destaque às produções que muitas vezes são esquecidas ou deixadas de lado em outros espaços de exibição”, avalia Gabriel Borges, conselheiro da Apan da região Sul.

“Junto às discussões, mesas e eventos paralelos, cada obra ganha outro corpo e atenção, ajudando a criar novas maneiras de se pensar o cinema brasileiro e de se imaginar os cotidianos e invenções que podem ser realizadas aqui”, completa.