Figurino das bailarinas: uma espécie de fetiche televisivo

As mulheres sempre sorridentes e em trajes sumários, que hoje enfeitam o palco Silvio Santos, Faustão, Gugu e Rodrigo Faro, são uma herança dos tempos de Chacrinha

Bem Paraná

 Maiôs decotados, minissaias, plumas, paetês, luvas. Esses são alguns dos elementos que compõem os figurinos das dançarinas que funcionam como coadjuvantes em diversos programas de TV do Brasil. À primeira vista, as roupas das moças podem parecer um tanto quanto bregas ou exageradamente sensuais – em alguns casos, são mesmo -, mas tudo isso faz parte de uma espécie de fetiche televisivo: o das bailarinas de programa de auditório.
As mulheres sempre sorridentes e em trajes sumários, que hoje enfeitam o palco de apresentadores como Silvio Santos, Faustão, Gugu e Rodrigo Faro, são uma herança dos tempos de Chacrinha. No início dos anos 70, as ousadas chacretes marcaram época, usando maiôs decotados demais e botas de cano longo. Hoje, 40 anos depois, o figurino das bailarinas e assistentes de palco continua sendo uma atração à parte da TV brasileira.
Responsável pela criação dos modelitos usados pelas bailarinas do SBT, o figurinista Paulo Federici está há mais de 18 anos na profissão. Ele diz que pesquisa muito antes de partir para a criação de maiôs, minissaias, tops e shorts para as quatorze bailarinas do Programa Silvio Santos e as onze do Domingo Legal. Suas influências vêm de divas do pop, como Beyoncé e Britney Spears. Sem medo de exagerar, ele abusa de cristais, bordados e pedrarias. Tem de ter glamour na TV. Pluma é riqueza Se for muito básico, elas ficam apagadas no fundo do palco, explica. A única proibição é o uso de tecidos rígidos e acessórios muito pesados, que podem atrapalhar a coreografia.
A roupa começa nos croquis de Federici. Na fase de execução, seis costureiras se desdobram para que maiôs de oncinha, saias com detalhes néon e túnicas inspiradas em asas fiquem prontas a tempo de ser provadas e ajustadas antes das gravações. Por mês, a equipe produz, em média, 100 peças, cada uma com custo aproximado de R$ 90. A única coisa que Federici compra pronta são os calçados, em lojas da região do Bom Retiro, por cerca de R$ 130 o par.
Para as bailarinas de Silvio Santos, o figurinista desenha maiôs e corpetes. Já para as do Domingo Legal, prefere visuais compostos por duas peças: top e minissaia ou top e shorts. O importante é mostrar o corpo bonito que elas têm, mas sem vulgarizar. A roupa estimula a imaginação de quem está assistindo, diz Federici, que também cuida do visual de Silvio Santos e tem aval do patrão para vestir as bailarinas como quiser.
A figurinista Cinthia Taranto, há 5 anos responsável pelas roupas das cinco assistentes de palco do Melhor do Brasil, apresentado por Rodrigo Faro (Record), também mantém o foco em mostrar o corpo escultural das moças. Assistente de palco tem de estar sexy, com o corpo à mostra. Nunca coloco calça nelas. O colo está sempre à mostra.
Mas barriga de fora é ocasional, diz Cinthia. Para montar seus looks, que custam cerca de R$ 200 cada, a figurinista compra algumas peças prontas e produz outras com a ajuda de três costureiras da equipe da Record. Claudino Mayer, pesquisador em teledramaturgia da USP, acredita que a sensualidade das bailarinas e assistentes de palco é peça importante na engrenagem dos programas de auditório. As pessoas gostam de ver o que é belo. E esse tipo de figurino contribui para a beleza do cenário, analisa ele.Há três anos e meio fazendo roupas para o balé do Faustão, a figurinista Vera Queiroz reforça a teoria de Mayer. Ela diz que sempre tenta criar roupas que favoreçam os corpos das 25 bailarinas do programa da Globo. O complicado é encontrar um figurino que fique bem em todas. É preciso ter uma visão geral do palco, declara Vera. Tenho de saber como cada roupa vai funcionar no vídeo, afirma a figurinista, que tem 33 anos de experiência.