Guaíra do Avesso: público visita os bastidores de um dos maiores centros culturais da América Latina

Atividade em comemoração aos 140 anos da instiuição cultural incluiu visitas guiadas inéditas

AEN
Guaira do Avesso

"Guaíra do Avesso": uma visita encenada pelos bastidores do teatro em celebração aos 140 Anos do Teatro Guaíra Foto: Geraldo Bubniak/AEN

O público no palco sendo aplaudido de pé por uma plateia formada por artistas da dança, da música e da técnica do Centro Cultural Teatro Guaíra. A cena que encerra a experiência “Guaíra do Avesso” resume bem a visita exclusiva e gratuita que aconteceu pelos bastidores de um dos maiores centros culturais da América Latina, nesta sexta-feira (13). O evento marca o mês em que o Teatro Guaíra completa 140 anos como instituição.

Entre as 700 pessoas recebidas, Thaís Mocelin aguardava a entrada para a primeira sessão. A jornalista já passou pela portaria principal do complexo, em outras ocasiões, com ingresso para shows e espetáculos de teatro, mas era dia de um percurso inédito. “Estou curiosa, quero conhecer a orquestra e as companhias de dança daqui, que ainda não vi, e os bastidores”, revelou.

A Orquestra Sinfônica do Paraná destacando a percussão já ali na portaria indicava que seria um caminho cheio de surpresas. Seguindo para o foyer, público e músicos se misturavam entre a arquitetura modernista e figurinos de alguns espetáculos marcantes.

“É difícil segurar a emoção. A gente faz toda essa arte para a plateia e ter esse calor humano em volta é muito mais prazeroso”, destaca o músico Alexandre Brasolim, violinista e concertino da casa que conduziu a apresentação da família das cordas.

Já dentro do maior auditório do complexo, o Guairão, o palco iluminou um elenco que trabalha para ser invisível antes, durante e depois dos espetáculos. Há 18 anos na casa, Jackson Zielinski de Oliveira coordena o Departamento Técnico de Espaços Cênicos, mas na visita protagonizou a narrativa. O público ouviu o comando ‘desce perna um’ e uma parte do cenário surgiu e foi assim até estar tudo pronto para a Escola de Dança Teatro Guaíra entrar em cena.

Uma experiência bem diferente para todos.  “Normalmente estamos nas coxias e nos bastidores e hoje mostrando a nossa face, chamando a atenção para uma certa cena, para abaixar uma perna, subir uma rotunda, e pensa como que eu vou fazer isso. No fim, a gente se diverte com tudo isso”, resume Jack, como é chamado entre os colegas.

Vem então aos visitantes o convite para o subir ao palco e as expressões de alegria, surpresa e admiração são unanimes ao passar de degrau em degrau, pisar onde fica o artista, observar o urdimento (traves no teto do palco) iluminado, partes de cenários de grandes obras que ali foram encenadas e ter o ponto de vista do avesso: observar a plateia. “É uma emoção viver esse momento fantástico e uma honra”, descreveu Aline Ramos, que mora em Joinville.

No palco, o público teve o impacto de ver – a poucos centímetros – trechos de espetáculos com os bailarinos do G2 Cia de Dança e do Bale Teatro Guaira. E a

Thaís, quase uma hora depois, tinha um grande sorriso. “Muito gostoso olhar o teatro assim, conhecer por outros ângulos”, resumiu.

Um dia que, para ela, vai deixar aprendizados. “Acho que na semana a gente fica tão cheia de preocupações, e é muito bom quando a arte nos leva pra outro lugar, nos convida a parar e prestar atenção só no agora. Acho que a gente sai também com uma provocação boa, que é de prestar mais atenção nos artistas que estão próximos da gente, como os que olhei de perto aqui hoje”, conclui.

HISTÓRICO – Projetado pelo arquiteto Rubens Meister, o Teatro Guaíra começou a ser construído em 1951 como parte da celebração do Centenário da Emancipação Política do Paraná. O primeiro espaço foi inaugurado em 1954, o Pequeno Auditório Salvador de Ferrante, o Guairinha.

Programado para ser finalizado em 1971, o Grande Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, o Guairão, foi inaugurado em 1974, depois de um incêndio de grandes proporções atingir a estrutura quatro anos antes. Por fim, o Miniauditório Glauco Flores de Sá Brito, o terceiro espaço que compõem o complexo, abriu para o público em 1975.

O edifício, que é um marco da arquitetura modernista em Curitiba, foi tombado pelo Patrimônio Cultural do Estado do Paraná em 2003. É um dos maiores complexos culturais da América Latina, com 16,9 mil metros quadrados e capacidade para 2,8 mil pessoas. O Centro Cultural Teatro Guaíra conta ainda com um quarto espaço, o Teatro José Maria Santos, localizado no bairro São Francisco e também tombado pelo Patrimônio Cultural do Estado.