Martinho da Vila: samba feito em casa

O músico adora reunir os amigos e contar histórias e foi este o clima que dominou em seu novo trabalho

Felipe Branco Cruz/Agência Estado

Como todo sambista, Martinho da Vila adora contar histórias. Mais  do que isso:  gosta de reunir os amigos em casa para uma boa roda de samba. Entre cervejinhas e aperitivos, geralmente durante essas rodinhas, lembra de uma música que tem tudo a ver com a história que está contando. Então, ele a toca para os amigos no violão, enquanto outro o acompanha no pandeiro. Tudo bem informal. Foi esse clima caseiro que Martinho transpôs para seus novos CD e DVD, batizados de O Pequeno Burguês. “É um título com o qual me identifico. Foi meu primeiro grande sucesso. Pequeno burguês é todo aquele que começa a ganhar seu dinheirinho e melhora de vida”, filosofa o sambista. Aliás, o DVD traz como extra um filme do músico em momento cabeça, intitulado Filosofia de Vida.

No conjunto, o trabalho, gravado ao vivo no Teatro Fecap, em São Paulo, é minimalista. Por vários momentos sozinho no palco, o músico interage com a platéia, contando e cantando saborosas histórias da sua vida. Em outras, ele é acompanhado de uma pequena banda, da qual faz parte Gabriel de Aquino, de apenas 17 anos, tocando violão na canção “Jaguatirica”. “Conheci o Gabriel na barriga da mãe. Ele é muito bom”, comenta Martinho. “Tem música na veia. É filho do violonista João de Aquino e sobrinho de Baden Powell.”

O sambista retoma no álbum canções clássicas, como “Casa de Bamba”, “Pra que Dinheiro” e, claro, “O Pequeno Burguês”. Na terceira faixa, antes de cantar, avisa a platéia: “Musicalmente eu comecei em São Paulo, no terceiro festival da MPB, da Record, em 1967.” E, acompanhado somente de um pandeiro, canta “Menina Moça”.
Esses traços dão o clima acústico que ele buscava para a produção. “Este é realmente um trabalho acústico. Nesses discos acústicos que existem por aí, eles usam até instrumentos elétricos. Nunca vi um negócio desse”, critica. “Quero que as pessoas se sintam na sala de visitas.” Para demarcar a idéia, Martinho abre o DVD convidando a platéia a se sentir em casa. “Em casa, eu ofereço música para os meus convidados”, conta o cantor em um trecho do DVD. Apesar de não ser documentário, o produto final leva esse estilo do sambista para a tela. “As pessoas gostam quando dou entrevista na TV e falo da minha vida. Levei isso para o show.”

Por isso, Martinho classifica o DVD de “meio documental” “É uma coletânea de todas as épocas. Sempre é uma dificuldade escolher o repertório. Sempre falta uma música.” O repertório, segundo o músico, foi escolhido de forma que as músicas se interligassem. “É como se todo o show fosse uma grande história “ Tanto é que lá pelo meio do espetáculo, Martinho – que foi sargento ‘burocrata’ do exército – explica parte de sua trajetória, por meio da letra de “Na Aba”, que diz: “Eu não nasci para coronel/saia da aba do meu chapéu”.