São Paulo, 25 (AE) – Para Seu Jorge, ter um trabalho num país onde falta emprego já é uma felicidade. Nos últimos anos, não tem lhe faltado motivos para comemorar. Ele prepara o lançamento do CD intitulado “América Brasil o Disco”, que deve ocorrer em maio. Já a turnê pelo País deve começar em setembro. Também acaba de voltar de Londres, onde encerrou as filmagens de “The Escapist”, do diretor Rupert Wyatt. Tudo de forma independente, como ele mesmo gosta de frisar. “Comecei independente e vou continuar independente”, garante o artista, dono da Cafuné Produtora, no bairro de Pinheiros, zona oeste da capital paulista. A empresa fica praticamente ao lado da confortável casa alugada de três andares onde mora com a mulher Mariana e as filhas Flor de Maria, de 4 anos, e Luz, de 10 meses

Independente, mas sempre cercado de gente boa tanto na música como no cinema. Nomes como Fernando Meireles, Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Ana Carolina, Ed Motta, para citar alguns dos parceiros mais recentes.

No novo CD, Seu Jorge conta com a companhia de Dudu Nobre, Max de Castro e Felipe Baden Powell. “América Brasil”, segundo Seu Jorge, busca valorizar os instrumentos do País. As 11 faixas trazem um pouco de cavaquinho, pandeiro e cuíca. Dudu Nobre participa tocando banjo. “Não é disco com música eletrônica”, alerta.

A alma do CD é samba e fala da relação do Brasil com a América (ou Américas), da musicalidade brasileira, da rotina tão dura dos trabalhadores. “A rotina dos pobres é um carrasco”, diz em certo momento da entrevista. Seu Jorge canta tudo isso sem amargura, com muito gingado.

Depois da estréia solo com “Samba Esporte Fino” (2001), Seu Jorge gravou “Cru” (2004), desta vez pelo selo francês Naïvê. Em 2005, juntou-se com a cantora Ana Carolina para gravar o DVD “Ana e Jorge”.

Participou ainda da trilha sonora do filme de Wes Anderson, “Vida Aquática de Steve Zissou”, e na seqüência gravou “The Life Aquatic Studio Sessions”, onde coloca seu estilo em 13 versões em português de sucessos de David Bowie, que foram cantados por Seu Jorge no filme.

TRIBUTO

Antes da estréia num CD só dele, Seu Jorge havia participado de vários outros, como “Tributo a Tim Maia” e “A invasão do Sagaz Homem Fumaça”, do Planet Hemp.

Apesar da agenda tão lotada, quem olha para Seu Jorge sentado tranquilão, a mexer com os dedos seus dreadlocks, imagina que o moço tem vida mansa. Mais ainda quando se sabe que ele já fez filme em Hollywood e é tido como um dos principais nomes da música brasileira no exterior, reverenciado na França.

Para Seu Jorge, no entanto, as coisas nunca foram tão mansas assim. “Teve um período que não foi fácil para mim, mas tenho estado mais feliz”, confessa. Esse período compreende boa parte da vida desse carioca de 37 anos a serem completados em 8 de junho. De seu passado difícil fazem parte a infância nas favelas da baixada Fluminense, os mil bicos como borracheiro, marceneiro e o que mais pudesse render uns trocados, seus três irmãos que ajudou a criar, o assassinato de um deles, o do meio – Vitório, em uma chacina do Rio -, e mais três anos como morador de rua. “O País me preparou para ser um problema social”, diz o artista.

Porém, ele escapou de ser um problema social para ser admirado dentro e fora do meio artístico tanto pelo seu talento como pela lucidez com que encara a vida a seu modo. “Tem que ter um certo preparo para entender as dificuldades. Não é a coisa de se esperar o pior. Eu espero só coisa boa da vida”.

LONDRES

Como ator, seu último papel é do presidiário Viv Batista no filme “The Escapist”, que deve estrear no final do ano. Trata-se de um filme de ação sobre uma fuga de um presídio do qual fazem parte atores como Brian Cox e Joseph Fiennes. As filmagens foram em Dublin, na Irlanda, e em Londres, na Inglaterra.

Seu Jorge diz ter gostado da experiência, sente-se privilegiado com os convites que têm recebido, mas não se deixa tomar pelo deslumbramento. “Fico muito feliz, independentemente de onde vai levar tudo isso.” Mas, para ele, ser ator em um filme em inglês é um desafio. “Não é fácil, não é a nossa primeira língua.”

Mais fácil, talvez, tenha sido atuar em “Vida Aquática de Steve Zissou”, de Wes Anderson. “Cantei o tempo todo”, diverte-se.

ELOGIOS

Tão bom quanto cantar no filme e se divertir com as filmagens foi ser elogiado e ter o trabalho reconhecido por Bill Murray e Angelica Houston, seus colegas no filme, pela atuação em “Cidade de Deus”, de Fernando Meireles, onde faz o papel de Mané Galinha “Eu cheguei lá com drama, não com sessão da tarde”, diz sem rodeios.

Na sua opinião, atores como ele e Rodrigo Santoro, de certo modo abrem caminho para outros artistas do Brasil conseguirem projeção lá fora. “Eu venho para ajudar. Quero mostrar o melhor profissional brasileiro possível, mas não sou dependente da carreira de ator para existir, para ser feliz.”