Contracenar com Antônio Fagundes e, no intervalo da gravação, esbarrar com um ator do porte de Lima Duarte é coisa para poucos. Mas com um rostinho bonito, carisma e uma certa vocação para artes cênicas, o sonho de brilhar ao lado de ‘dinossauros’ da dramaturgia fica até próximo da realidade. Tonio Carvalho, dramaturgo, diretor e há 20 anos coordenador da Oficina de Atores da Rede Globo, é quem dá o caminho das pedras aos aprendizes.

Criada em 1986, a Oficina tornou-se uma porta para o sucesso depois de projetar estrelas do porte de Rodrigo Santoro, Eduardo Moscovis, Camila Pitanga e Deborah Secco para o mercado de novelas e, em alguns casos, para o cinematográfico. Graças a eles, o número de interessados em ter aulas com Carvalho só aumentou. “Tem gente que gosta tanto que até volta”, diz ele. A má notícia aos recém-chegados é que, por ano, apenas 32 aspirantes a ator conseguem entrar para o banco de dados de atores da emissora. Duas turmas são formadas todo ano, e o curso dura quatro meses.

A preparação é rápida, por conta da urgência em atender ao perfil de personagens traçados pelos novelistas e da necessidade de reciclar o casting da emissora. “Nós sentimos um mercado escasso de bons atores, assim como todo o País sente falta de bons profissionais em suas respectivas áreas.”
Para acelerar o ensino, Tonio tem convidado profissionais do canal para ministrar palestras, acompanhar momentos da oficina – eles têm aulas de interpretação, mímica, expressão corporal, mitologia – e levar aos jovens, com idade entre 17 e 28 anos, um pouco do ritmo de gravação das novelas. “Não pegamos pessoas com mais idade porque a maioria já possui seus trabalhos e não está disposta a um estudo de quatro meses”, explica Carvalho.

O treinamento varia com a turma. Às vezes, ser bonito pesa na ficha de inscrição. “Alguns atores funcionam muito bem no vídeo. A imagem de alguns é tão envolvente que junta brilho, talento e você olha e fala: que lindo”, fala o coordenador do grupo. Na busca pela beleza, o gerente de pesquisa de recursos artísticos da Globo, Leo Gama, e mais quatro pesquisadores passaram a consultar não só escolas de teatro mas também as agências de modelo.
Não que a beleza por si só resolva. Os interessados em fazer o curso hoje, segundo Carvalho, carecem de bagagem cultural, bem diferente dos tempos de Murilo Benício e Giovanna Antonelli. “Chegam atores bons, mas isso não é a maioria”, pondera. Intérprete da malvada Isabel de “Viver a Vida”, Adriana Birolli é uma dessas exceções. A rispidez da personagem veio com quatro meses de Oficina. Quando o teste veio, ela surpreendeu a equipe de produção da novela de Manoel Carlos. “Ela estreou no horário das 9, e com destaque, porque atendeu ao perfil que buscavam”, diz Leo Gama.

Apesar da constante aparição de parentes de atores no canal, como o caso do filho de Jayme Monjardim, que estará em “Entre Dois Amores”, próxima novela das 6, de Elizabeth Jhin, Carvalho enfatiza que todos os candidatos a personagens passam por testes. “Às vezes, o filho do Jayme é indicado para entrar na Oficina, mas não agrada e um cara de uma escola de teatro que ninguém sabe o nome entra. Isso já nos aconteceu.” Sua ‘escola’, ele pondera, não é garantia de se chegar ao estrelato.