O Circo da Cidade recebe, a partir do dia 17 deste mês, o espetáculo infantil “Histórias Secretas sobre Seres Selvagens”. O trabalho mistura humor, aventura e conscientização ambiental. Criado e estrelado pela atriz Samara Rocha, que interpreta a palhaça Provisória, o espetáculo busca dialogar de forma lúdica e educativa sobre temas importantes como a emergência climática, desmatamento e a convivência com animais silvestres em ambientes urbanos.
Na entrevista que segue, Samara dá detalhes do projeto.
Como surgiu a ideia do espetáculo?
Nasceu do desejo de criar um espetáculo infantil que pudesse dialogar diretamente sobre questões importantes como a emergência climática, o desmatamento e a presença de animais silvestres em ambientes urbanos. A proposta é chamar a atenção para esses seres que coexistem em nossas cidades e, ao mesmo tempo, estimular a conscientização sobre o impacto de nossas ações no planeta. Através da palhaçaria e do humor, queremos provocar nas crianças uma reflexão sobre a necessidade de mudanças de atitudes e ampliação do olhar, promovendo uma conscientização lúdica e envolvente sobre temas que afetam a todos.
Qual o sentido do título? A gente vê que tem uma aliteração ali… É uma brincadeira que já começa no título?
Sim, o título “Histórias Secretas sobre Seres Selvagens” já carrega uma brincadeira sonora com a aliteração, o que prepara o público para a energia lúdica que permeia todo o espetáculo. Essa aliteração reflete o tom leve e interativo da peça. O jogo de palavras no título é apenas o primeiro de muitos que surgem ao longo da apresentação, onde a interação com as crianças é constante e as brincadeiras não faltam. Assim, o título já dá o tom da experiência que queremos proporcionar: uma aventura cheia de surpresas e diversão, onde até as palavras brincam com o público.
Como foi o processo de criação da palhaça Provisória? Como ela nasceu e quais são as suas características?
Mais do que um processo de criação, a palhaça Provisória nasceu de um processo de desconstrução das máscaras sociais que usamos no nosso dia a dia. Ser palhaço é um exercício de revelação, pois o palhaço não se esconde, mas amplia quem somos de verdade, com nossas fragilidades, questionamentos e particularidades. O nariz de palhaço, sendo a menor máscara do mundo, tem justamente essa função: revelar nossa essência em um estado de ludicidade e conexão.
A Provisória reflete muito da minha própria curiosidade e constante questionamento sobre as regras que criamos e como nos movimentamos nesse mundo “real”, que também é uma construção nossa. Ela tem uma personalidade inquieta, sempre pronta para explorar, indagar e brincar com tudo ao seu redor, especialmente em conexão com as crianças, que são naturalmente curiosas e se abrem a novas descobertas. Essa curiosidade é o que guia suas interações e dá vida ao espetáculo.
Quanto tempo de concepção e ensaio foi investido nesta peça?
Eu escrevi o roteiro deste espetáculo no início de 2024, já com a intenção de apresentá-lo no Circo da Cidade. Embora ele traga elementos de trabalhos e pesquisas anteriores, a dramaturgia em si continua sendo construída durante os ensaios e também nas próprias apresentações. O espetáculo tem um roteiro, mas a interação com as crianças e o público faz com que cada sessão seja única. Essa flexibilidade permite que o espetáculo se reinvente a cada vez que é apresentando, proporcionando uma experiência inédita tanto para a plateia quanto para mim, que também me nutro dessa troca passada com o público.
Essa peça é mais dirigida ao público infantil ou é arriscado afirmar isso?
Sim, este espetáculo é dirigido principalmente para o público infantil, com uma faixa etária entre 6 e 12 anos. No entanto, ele tem elementos que também podem agradar crianças mais novas e até pré-adolescentes e adultos. É uma peça que busca encantar não só as crianças, mas a família toda, pois, além do humor e da interação, traz reflexões que podem ressoar com públicos de diferentes idades. Assim, mesmo que o foco seja infantil, é uma experiência divertida e envolvente para todos.
Tem música?
Sim, a música é uma parte essencial do espetáculo. A trilha sonora foi composta especialmente para a peça por Ágatha Pradnik, trazendo sonoridades que dialogam com o universo circense e lúdico do espetáculo. Além disso, eu canto e toco flauta doce em algumas cenas, o que acrescenta um toque pessoal. Também utilizamos bonecos com diferentes formas de manipulação, que se integram à contação das histórias, sempre trazendo poesia e humor. O cenário, figurino e adereços, coloridos e delicados, foram concebidos em parceria com Katia Horn, reforçando o encanto visual do espetáculo. A direção é de Laércio Amaral, meu parceiro na Les Paranauês [companhia teatral de Samara], que tem sido fundamental para a construção dessa experiência cênica.
Você ingressou na palhaçaria em 2018 e se dedica com carinho a essa arte. Agora, este projeto será todo concretizado em um circo. O que isso representa para você?
Estamos extremamente felizes em nos apresentar no Circo da Cidade, que sempre foi um sonho para mim desde que comecei a estudar palhaçaria. Para um artista da palhaçaria, o circo é um espaço mágico, repleto de tradição e alegria, e ter a oportunidade de realizar meu projeto lá é uma realização pessoal e profissional. Este espetáculo é resultado de muito esforço e dedicação e poder concretizar nesse ambiente especial traz uma alegria imensa. É um momento de celebração, não apenas para mim, mas também para toda a equipe envolvida. A energia do circo, a conexão com o público e o encanto do lugar tornam essa experiência ainda mais significativa.
“O Palhaço”, de 2011, dirigido por Selton Mello, e “Coringa”, de 2019, dirigido por Todd Phillips, são dois exemplos de filmes que mostram os bastidores do que é ser palhaço, ou seja, nem sempre toda aquela alegria que a plateia vê no palco através do personagem está coincidindo com uma fase da vida tão alegre assim para o ator. Como a atriz Samara trabalha com isso? Como fazer rir quando, às vezes, a vida convida a chorar?
A relação entre a vida pessoal e a alegria do palhaço é complexa. O palhaço é um ser que transita por todas as emoções de maneira muito verdadeira. Quando estamos em cena, ativamos não apenas a alegria, mas também as emoções que fazem parte da condição humana, incluindo a tristeza e a fragilidade. A palhaçaria nos ensina a rir das nossas próprias dificuldades e a entender que a vida é feita de altos e baixos. Essa conexão com a fragilidade humana nos torna mais sensíveis e empáticos. Ao incorporar esses sentimentos em nosso trabalho, conseguimos criar um espaço de conforto, onde podemos explorar o riso e a lágrima simultaneamente. É essa capacidade de abraçar todas as emoções que enriquecem a experiência do palhaço e tornam nossa arte tão poderosa e humana.
Quais são as mensagens principais que você espera transmitir com o espetáculo?
Espero que o espetáculo transmita mensagens sobre a importância da empatia, respeito e conscientização em relação ao meio ambiente e aos seres que habitam nossas cidades. Através das aventuras da Palhaça Provisória, queremos incentivar as crianças a refletir sobre suas escolhas e a maneira como interagem com o mundo ao seu redor. Além disso, quero que elas sintam que podem fazer a diferença, mesmo em pequenas ações do cotidiano.
Como você vê o papel da palhaçaria na educação infantil?
A palhaçaria é uma ferramenta poderosa na educação infantil, pois promove a criatividade, a imaginação e a expressão emocional. Ela facilita o aprendizado de maneira lúdica, ajudando as crianças a compreenderem melhor suas emoções e o mundo ao seu redor. Ao mesmo tempo, a palhaçaria estimula a interação social e a construção de vínculos, tanto entre as crianças quanto entre artistas e plateia, criando um ambiente acolhedor e divertido.
Que tipo de feedback você espera receber do público após as apresentações?
Espero que o público, especialmente as crianças, se sinta inspirado e tenha uma experiência divertida e enriquecedora. Estou ansiosa para ouvir risadas, ver rostos curiosos e ouvir comentários sobre como se divertiram e se conectaram com a história. Mais do que isso, desejo que as crianças saiam pensando sobre o que viram e se sintam motivadas a explorar questões sobre a natureza, o consumo e a convivência com os outros seres. Feedbacks que mostrem que a mensagem do espetáculo ressoou e que o humor e a magia tocaram seus corações.
SERVIÇO
Espetáculo: Histórias Secretas sobre Seres Selvagens
Público-alvo: Crianças de 6 a 12 anos (e toda a família)
Local: Circo da Cidade Zé Priguiça
Rua Dr. Benedicto Siqueira Branco, S/N. Alto Boqueirão
Ingressos: entrada gratuita
Outubro
17/10 Quinta 9h30
26/10 Sábado 15h
31/10 Quinta 14h30
Novembro
07/11 Quinta 9h30
09/11 Sábado 15h
14/11 Quinta 14h30
21/11 Quinta 9h30
30/11 Sábado 15h
Dezembro
05/12 Quinta 14h30
07/12 Sábado 15h
FICHA TÉCNICA
Palhaçaria e Dramaturgia
Samara Rocha
Direção, Técnica de Som e Luz
Laércio Amaral
Cenografia e Adereços
Katia Horn
Composição da Trilha Sonora
Ágatha Pradnik
Intérprete de Libras
Bela Lustoza
Assessoria de Imprensa
Tiago Luiz Bubniak
Filmagem, Fotografia e Redes Sociais
Thayna Bressan
Produção e Design Gráfico
Les Paranauês Cia Criativa