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Surina Mariana (divulgação)

Se o Buda estivesse vivo hoje, como ele seria? Quais seriam as suas inquietações? Com que tipo de voz ele falaria? Como se sentiria? O segundo livro da escritora e ilustradora Surina Mariana (@surina_mariana), “108  (213 págs.) foi a forma que a autora encontrou para se aproximar dessas perguntas. A obra aborda, sob a influência do budismo, a busca de uma personagem por seu lugar no mundo.

Publicada pelo selo independente Longe e disponível em formato impresso e digital, a obra conta com a orelha assinada pela escritora e doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) Ana Rüsche.

No dia 14 de setembro às 10h30, Surina inicia a turnê de lançamento do livro pelo Brasil com um evento em Curitiba, na livraria Arte & Letra, de endereço Rua Desembargador Motta, número 2011Nele, haverá um bate-papo com Mariana Sanchez, tradutora e curadora do selo Nosotras, da editora Relicário.

Depois do lançamento na capital paranaense, a autora possui eventos em Florianópolis (Livraria Latinas), no dia 18, às 19h; Brasília (Livraria Circulares), no dia 28, às 17h; e São Paulo (Livraria Na Nuvem) no dia 3 de outubro, às 18h.

A obra parte da história de Mariana, uma mulher que decide abandonar a carreira na repartição pública de Brasília, no Distrito Federal, para começar uma nova vida num centro de retiros europeu após sofrer um acidente de bicicleta. Alternada com capítulos de flashes da vida de Sidarta Gautama, o príncipe que deixou o palácio há 2500 anos para tornar-se Buda, o livro trabalha a busca pelo fim do sofrimento como uma questão contemporânea e atual.

Esse paralelismo de histórias produz um subtexto que pode ser lido como uma espécie de mensagem do livro, como reflete a autora: “De um jeito ou de outro, todos nós conhecemos o sofrimento e carregamos no corpo a semente do Buda. Todos nós desejamos um tipo de felicidade que não conseguimos nomear”.

Focado em uma protagonista feminina, a obra tem inspiração autobiográfica, mas é um livro de ficção. “Tenho uma fascinação por histórias – reais ou não – de pessoas que embarcam de maneira radical numa aventura, deixando tudo para trás. De uma forma ou de outra, estas são normalmente histórias sobre a busca de sentido”, comenta Surina. “Todos os meus livros envolvem uma protagonista — uma mulher — que rompe com a ordem e se lança ao desconhecido”.

Construído com o número de capítulos idêntico ao das contas dos rosários budistas de prece, “108” é uma meditação sobre as escolhas que fazemos diante da impermanência da vida. “Este conceito também está presente no ritmo: tentei criar capítulos com um ritmo de leitura que se aproxima do ritmo com que se recita um mantra depois do outro”, acrescenta.

Para a autora, “108″ trata da relação que temos com aquilo que é mais essencial para nós, e sobre como esta relação é capaz de destruir a aparente solidez da nossa vida para nos reconstruir em novas bases. “É um livro que fala sobre busca espiritual e sobre viagem. Sobre o que perdemos quando decidimos começar algo novo. Sobre o sofrimento e sobre o desejo de encontrar sentido diante da impermanência da vida”, completa.

Surina Mariana, “108” e o longo processo de se sentir escritora

Surina Mariana é o pseudônimo de Mariana Carpanezzi, escritora e ilustradora que nasceu em Belém (PA), cresceu entre Curitiba (PR) e Brasília (DF) e hoje mora no interior de Portugal. É autora de “O mundo sem anéis” (Longe, 2015), que conta a história de sua aventura solo de bicicleta por 100 dias através da Espanha, e da newsletter “Sofá da Surina”, sobre meditação e vida contemplativa.

Suas pinturas fazem parte de coleções particulares ao redor do mundo, em países como Butão, Austrália, África do Sul e Estados Unidos. Em outubro de 2023, uma coleção de seus trabalhos foi exibida numa coletiva a convite da organização Siddhartha’s Intent em Bodhgaya, índia – local onde Buda atingiu a iluminação.  Segundo Ana Rüsche, seu manejo do pincel é visível nas descrições cinematográficas das páginas de “108”.

Apesar da longa experiência com escrita e arte, a autora considera que foi com a escrita de seu segundo livro que passou a se sentir escritora. “108” deu a ela a chance de experimentar com a linguagem e encontrar uma voz ainda mais própria na escrita. “Tento escrever com um pé na estética zen-budista: poucos elementos e pouca descrição num texto descomplicado que mesmo assim tem uma preocupação poética. Minimalismo e simplicidade são importantes para mim”, observa Surina.

A autora comenta sobre a importância de oficinas literárias: “Receber a leitura da Ana Rüsche, do Marcelino Freire e das colegas – a maioria eram mulheres – fez uma diferença enorme nesse processo.”

Atualmente, Surina trabalha com um novo romance que trata da amizade de uma mulher e uma gata.  “É um livro de viagem que acontece com um pé no Brasil e outro no sul de Portugal, onde moro”, contextualiza. “Estou experimentando escrever ficção sem traços autobiográficos e com pluralidade de vozes narrativas.”