O rock’n’roll vai muito além de drogas e sexo. Marc Bell é uma prova viva disso. Baterista e compositor, talvez você o conheça pelo nome Marky Ramone, integrante da lendária banda Ramones – Marky foi o segundo baterista do grupo de punk rock e tocou por mais de dez anos ao lado dos legendários Joey, Johnny e Dee Dee Ramone.

Na semana passada, Marky esteve em Curitiba, onde fez uma discotecagem no James, na comemoração dos 15 anos de vida da casa noturna. Seu set list trouxe mais de 30 músicas do Ramones. Eu adoro tocar músicas do Ramones. Até hoje toco para manter o meu legado, para levar adiante a música do Ramones, diz o músico, que não se importa em ver tanta gente usando camisa da banda punk sem sequer saber quem é o grupo: Melhor que usem uma camisa do Ramones do que do Justin Bieber ou do Justin Timberlake, comenta, bem humorado.

A banda, fundada nos anos 1970, demorou mais de duas décadas para alcançar o sucesso, que acabou vindo graças ao reconhecimento de outros artistas. Tínhamos muitos seguidores, mas éramos ainda muito underground. Nos anos 1990 estouramos porque muitos DJ’s usavam nossas músicas e artistas como Billy Idol e Green Day se inspiraram na gente. As pessoas então começaram a ouvir e curtir mais nosso som porque deixaram de nos ver como uma ameaça, como era nos anos 1970. Hoje o público nos entende, afirma.

Hoje com 57 anos, Marky não sente o peso da idade e nem mesmo teme o passar do tempo. Bom sinal para os fãs. Não sou uma atriz, diz ele. Faço exercícios duas horas por dia, toco bateria pelo menos três vezes por semana por uma hora e meia, não bebo, nunca fumei…

Sua ligação com o Brasil é forte. Além dos diversos shows com os Ramones, como o do ano de 1994, na Pedreira Paula Leminski, o baterista já participou até mesmo de projetos com bandas brasileiras, como o Raimundos e o Tequila Baby. Gosto muito de Raimundos, mas depois que o vocalista entrou para a igreja não é mais o Raimundos. E eu costumava gostar de Tequila Baby, mas não gosto mais, diz o baterista, sem dar maiores explicações.

Mas afinal, o que faz Marky gostar tanto do Brasil e da América do Sul? Nunca nos sentimos como rockstars, sempre nos sentimos no mesmo nível dos fãs e mesmo nos tempos ruins vínhamos para cá e nos divertíamos muito. Aconteceu, então, que continuamos vindo, explica.

Além da vida de músico, Marky trabalha no ramo alimentício em sua cidade, Nova York, vendendo desde sorvetes até um molho de tomate. Com o pé de meia já garantido, o baterista aproveita os dotes culinários para ajudar quem precisa, como ele um dia precisou – aos 18 anos, chegou a comer comida de cachorro e as roupas rasgadas, que acabaram virando característico dos punks, foi algo necessário por conta da falta de dinheiro para se comprar roupas novas.

Meu avô era chef de cozinha da boate Copacabana, em Nova York, e eu costumava observá-lo, conta. Para lançar o molho no mercado, o trabalho foi árduo, mas a motivação era nobre, muito nobre. Foram mais de seis meses tentando encontrar a mistura ideal. As vezes saía muito doce, outras muito salgada. Até que um dia conseguimos a receita perfeita. Mas eu tenho de dizer, só vendo o molho porque ele vai para a caridade. O dinheiro obtido com o ‘Brooklyn’s Own Marky Ramone Pasta Sauce’, que pode ser comprado pela internet por menos de US$ 1, é repassado para famílias que perderam os maridos e esposas na Guerra do Iraque.

Além de ajudar quem precisa, Marky é também um ativista político. Entre as causas que milita, o aborto, que para ele não é assunto do governo, mas da mulher, e o homem, em vez de reclamar, tem de pensar antes de transar. Outro assunto que tem chamado a atenção dele é a dos ativistas do Green Peace presos na Rússia – entre eles, uma brasileira.

Por fim, o baterista faz uma promessa para deixar os fãs animados: Enquanto estiver saudável, estarei na ativa. Sinal de que o brasileiro ainda terá muitas oportunidades de ver e ouvir um dos Ramones.


EM LIVRO, IRMÃO FALA SOBRE JOEY RAMONE
Os Ramones estão em alta. A Editora Dublinense acabou de lançar a edição em português de Eu Dormi com Joey Ramone – Memórias de uma Família Punk Rock, de Mickey Leigh, irmão do líder dos Ramones, em parceria com o jornalista Legs McNeil (Mate-me Por Favor).

O livro resgata a trajetória da banda que revolucionou a trajetória do rock e conta em detalhes a vida de Joey ao lado da família, sobretudo, do irmão caçula. Problemas de saúde, confusões que começaram antes mesmo de seu nascimento e sua morte, de câncer linfático, em 2001, aos 49 anos de idade, são retratados. Em paralelo, Mickey também sempre esteve ligado à música, com uma vida cheia de incidentes e eventos dramáticos. Ele trabalhou por seis anos escrevendo as histórias da vida dele e de seu irmão mais velho, incluindo a jornada que levou ao surgimento do lendário Joey Ramone, narrando a carreira da banda e de seu irmão, da criação até a performance final. A história escrita pela dupla foi publicada originalmente nos EUA, em 2009, sendo mais tarde difundida na Finlândia e França.

Quando os Ramones gravaram seu primeiro disco, em 1976, prenunciaram o nascimento do punk rock. E foi Joey Ramone, o inesquecível vocalista de timbre grave, óculos de aros circulares e cabelos sobre o rosto, quem deu voz a uma geração de jovens descontentes durante os anos 70 e 80, influenciando de maneira decisiva a contracultura nas décadas que viriam. Com honestidade, humor e leveza, Mickey Leigh, o irmão de Joey, compartilha um olhar íntimo e fascinante sobre a vida turbulenta deste que foi um dos maiores e mais improváveis ícones da música de todos os tempos. Eu dormi com Joey Ramone: memórias de uma família punk rock é a história de um homem que lutou para achar a sua própria voz e seu irmão que o amava.

Apesar de terem crescido em Forest Hills, no Queens, em Nova Iorque, e começado suas jornadas no Lower East Side, em Manhattan, foi na América do Sul que os Ramones se tornaram realmente grandes — maiores, na verdade, do que em qualquer outro lugar do mundo. Ao fazerem parte da criação um gênero musical totalmente novo, o punk rock, os Ramones se tornaram uma das bandas mais importantes do século 20. E o seu vocalista, Joey Ramone, que viria a ser a voz desse gênero, se tornou um dos ícones mais influentes e inspiradores da música popular contemporânea.

Apesar de tudo isso, a vida de Joey foi uma jornada tumultuada — problemas de saúde e confusões começaram antes mesmo de seu nascimento e terminaram com a sua morte de câncer linfático aos quarenta e nove anos. Em paralelo, a vida de seu irmão mais novo, Mickey Leigh, foi cheia de incidentes e eventos mais dramáticos do que ele mesmo gostaria.

Mickey Leigh trabalhou por seis anos escrevendo a história da vida dele e de seu irmão mais velho, incluindo a incrível jornada que levou ao surgimento do lendário Joey Ramone. Retratando vividamente a carreira dos Ramones, desde a criação até a performance final, esta biografia de rock tem como fio condutor a dinâmica familiar e a intensa relação entre os dois irmãos.