“La Vie en Rose”, a canção, já foi recriada diversas vezes, algumas revigorantes, como a versão dance de Grace Jones, que a apresentou a outras platéias e gerações, mas que não se compara à original. O mesmo vale para outros clássicos de Edith Piaf – “Hymne à l’Amour” e “Non, Je ne Regrette Rien”. Letras e melodias profundas parecem jamais perder o encanto, mas interpretar Piaf não cabe em qualquer porte de ambição. Vai daí que o CD  com a trilha sonora do filme La Môme (Universal) acerta ao reunir gravações da própria Piaf ao invés de covers, mas derrapa ao optar pela versão em inglês de “La Vie en Rose”, no lugar da genuína, em francês. A perda não é tanto pela tradução, mas pela sonoridade das palavras.

À parte esse deslize, a trilha reúne, além das três citadas, as canções mais marcantes do repertório de Piaf, incluindo “Padam, Padam”, “Mon Manège a Moi”, “La Foule” e “Milord”, nas 11 primeiras das 27 faixas do álbum. São as mesmas que se encontram em outras repetitivas compilações, mas não poderiam mesmo faltar. Embora outros clássicos evidentes, como “L’Accordéoniste” e “Bravo pour le Clown”, tenham ficado de fora a vantagem é que para integrar a trilha, as gravações foram restauradas com esmero.

O som do CD é excelente e talvez nunca se tenha ouvido Piaf tão bem em disco. Mais um motivo para os produtores terem ocupado o restante do espaço do CD com outras tantas gravações marcantes de Piaf.

Dividida em três “capítulos”, a trilha traz, na segunda parte, os temas instrumentais arranjados para o musical por Christopher Gunning.

OK, mas no bloco final, outro equívoco: canções relacionadas ao universo de Piaf interpretadas por cantores que emprestaram suas vozes ao filme, como Jil Aigrot, que dubla a protagonista, além de uma versão instrumental de “La Vie en Rose”. Que falta faz a voz  daquele pardal sublime, impregnada de dores reais!