Você certamente já ouviu falar de Alan Arkin. Ele vive Arnie, editor de John Grogan no filme Marley & Eu, em cartaz. Nesta entrevista, ele fala sobre o que pensa da crítica, da TV, da internet, de seus próprios amigos atores de Hollywood. Vale a pena conhecer um pouco mais sobre o homem que ganhou um Oscar por seu papel de avô em Pequena Miss Sunshine.

Agência Estado — Apesar de existir uma tendência dos atores intelectualizados como você preferirem o cinema independente, porque insiste em fazer blockbusters?
Alan Arkin  —Você tem menos atenção como ator quando faz um blockbuster, pois os produtores ficam tão preocupados com coisas como os efeitos especiais que os atores ficam de lado. É algo que  gosto, pois gosto de ficar sozinho.
AE  —Passados dois anos do seu primeiro Oscar, acha que o ganhou pelo conjunto da carreira ou Pequena Miss Sunshine foi mesmo seu maior trabalho?
Arkin  — Não tenho idéia. Alguns dizem que é por causa de toda minha carreira. Por outro lado, eu ganhei quatro outros prêmios pelo papel de vovô Edwin Hoover em Miss Sunshine.
AE  — É verdade que você não vê prestígio em ganhar um Oscar?
Arkin  — Não acredito no Oscar, acho uma coisa sem sentido nenhum. Não acho que exista tal coisa como “o melhor”. Como decidir isso? Como comparar dois grandes filmes e dizer que um é melhor? Tudo isso é negócio, não tem nada a ver com a realidade. Eu não fui o melhor ator coadjuvante daquele ano. Ninguém tem o direito de dizer quem é melhor ou pior.
AE  — Nem um crítico especialista no assunto? O senhor não está desacreditando estes profissionais?
Arkin — Eles não têm esse direito. Eles apenas dizem qual filme os tocou mais, não podem dizer por isso que aquele filme foi o melhor.
AE  — Essa a função do crítico?
Arkin  — Acho que quanto mais julgamento o crítico faz, mais infeliz ele é como ser humano.
AE  — Isso não é reflexo de desconforto dos atores de serem julgados?
Arkin  — Não posso fazer generalizações, mas os melhores críticos são aqueles que também são cineastas, porque eles sabem quais foram os problemas do filme. Eles sabem o quão duro é fazer aquilo.
AE  — O que te dá notoriedade nos EUA é sua campanha pela preservação do meio ambiente. Não acha uma tarefa frustrante para quem mora num país tão poluidor e consumista?
Arkin — Esqueça, não sou nem quero ser porta-voz, quero viver minha vida como acho que deve ser vivida.
AE  —Em Hollywood há muitos porta-vozes engajados. Acha isso importante por se tratar de pessoas com tamanho impacto na opinião pública?
Arkin — Não acho. Eles não são porta-vozes de nada, nem devem ser. O melhor depoimento sobre isso foi dado por Brad Pitt quando fez Sete Anos no Tibete. Perguntaram: “Fale sobre a situação política no Tibete”. Ele respondeu: “Por que você está me perguntando isso? Virei um especialista no assunto?”. Ele estava certo, afinal, estava fazendo aquele filme para salvar a vida dele, não para salvar o mundo.
AE  — Mas o próprio Brad Pitt tem engajamentos sociais.
Arkin  — Nenhum ator tem a resposta melhor que ninguém, porque eu deveria ter? Eu tenho uma resposta para mim, e olhe lá. E isso porque eu refleti, passei um tempo pesando. Na verdade, muitos nem são capazes de parar e refletir. Não porque são burros, mas porque são emocionalmente frágeis. Vocês jornalistas perguntam demais, esse é o problema.
AE  — Então o senhor acredita que a insegurança emocional dos artistas de Hollywood os empurra para causas sociais?
Arkin — Acho que a maioria dos atores que viram porta-vozes de alguma causa o faz porque são limitados emocionalmente, imbuídos de um grande vazio interno. Em outras palavras, só estão fazendo isso para evitar o suicídio. Os atores mais criativos que conheci são criativos porque não suportam conviver com a realidade, vivem em mundo paralelo.
AE  — Mark Bauerlein, autor norte-americano do recém lançado livro The Dumbest Generation, disse que esta é a geração mais burra que já existiu porque ninguém mais lê por conta da internet.
Arkin — O  problema não está na internet, que é até capaz de instigar a pessoa a saber mais. O problema é a televisão, ela destrói o cérebro, destrói a capacidade de reflexão do ser humano. Hoje, quando se faz uma pergunta a um jovem, todos têm uma resposta na ponta da língua, ninguém mais reflete para responder.
AE  — Qual o problema com a televisão norte-americana?
Arkin  — Para que ter 200 canais na TV?  E o pior de tudo, aqui nos Estados Unidos, todos os canais estão gritando alguma coisa, algum ‘breaking news’. Por que não apenas dizer a notícia, por que ter de gritá-la sempre? Acho tudo uma grande falsidade, todos são atores, não jornalistas. Para que tanta emergência?