Vencedora do Nobel de Literatura já esteve na Flip e falou sobre temas universais de suas obras

Estadão Conteúdo

A escritora sul-coreana Han Kang foi a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura nesta quinta-feira, 10. Conforme a academia sueca, ela foi escolhida por “sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”. Em 2021, a autora chegou a participar da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em uma mesa online com Adriana Lisboa e abordou os “temas universais” presentes em seus livros. Han Kang é autora de A Vegetariana, Atos Humanos e O Livro Branco.

Ao ser questionada sobre um possível retrato da sociedade coreana em A Vegetariana – especificamente por conta da violência retratada contra a protagonista -, a escritora falou sobre “a questão básica da violência dentro do ser humano” e o “grito ‘baixinho’ das mulheres”. O livro, publicado pela editora Todavia, acompanha a decisão de Yeonghye de não comer mais carne após um sonho.

Em uma das cenas, o pai da protagonista coloca uma carne na boca de Yeonghye, obrigando-a a comer. “Eu penso que [a violência] é um problema universal. É uma coisa inata ao ser humano. São questões sobre a essência humana, e não especificamente sobre a sociedade coreana”, disse.

À época, Han Kang ainda não havia lançado O Livro Branco, mas comentou sobre a dificuldade de escrever Atos Humanos. O livro se passa em Gwangju em maio de 1980, quando o exército causou milhares de mortes ao reprimir um levante estudantil. O protagonista, de 15 anos, busca o melhor amigo entre os cadáveres.

A autora disse que, para escrever o livro, pensou no “movimento que a mente e o coração desse menino estavam fazendo”. Ela afirmou ter ficado abalada durante o processo e achou que não conseguiria terminar Atos Humanos, já que precisou ler artigos e pesquisas sobre “eventos muito violentos da história da humanidade”.

Quanto mais eu via esse material, mais eu me sentia ‘balançada’ e eu perdi a confiança de que eu conseguiria terminar esse livro. Esse livro fala sobre uma luta, uma batalha interna minha.

Vida e obra de Han Kang

Nascida em 27 de novembro de 1970 em Gwangju, na Coreia do Sul, Han Kang se mudou com a família para Seul aos 9 anos. Seu pai, Han Sung-won, é professor universitário e romancista, tendo a influenciado.

A autora estudou literatura coreana na Universidade Yonsei e trabalhou por três anos como jornalista. Na literatura, começou em 1993, publicando poemas em uma revista local voltada para temas de literatura e sociedade. Dois anos depois, lançou o conto Love of Yeosu, passando a se dedicar à prosa.

Han Kang ficou mundialmente conhecida pela obra A Vegetariana, de 2007. O livro, escrito em três partes, acompanha a decisão da protagonista Yeonghye de não comer mais carne, por conta de um sonho. A escolha acaba distanciando a mulher das imposições às quais foi submetida pelo marido, a família e a sociedade ao longo da vida.

A Academia Sueca destaca que “o trabalho de Han Kang é caracterizado por uma dupla exposição de dor, uma correspondência entre tormento mental e físico com conexões próximas ao pensamento oriental”.

Por empregar um estilo poético e experimental, a autora se tornou um nome inovador na prosa contemporânea, justificando a escolha. Kang também tem ligação à arte e à música, que refletem em elementos de sua produção literária.

(Com colaboração de Gabriela Caputo)