Gleisi entre a experiência e o novo

Gleisi entre a experiência e o novo

Abraão Benício, do Jornal do Estado


Advogada por formação, a candidata do PT ao Senado, Gleisi Hoffmann, disputa pela primeira vez um cargo eletivo. Apesar da aparente “inocência” eleitoral, ela aposta nas suas experiências em setores da administração pública, principalmente no governo Lula, para superar o amplo favoritismo do senador e candidato à reeleição, Alvaro Dias (PSDB), que mantém folgada vantagem nas pesquisas de intenção de voto até aqui. Filiada ao PT desde 1989, Gleisi trabalhou durante oito anos na área de Orçamento do Congresso Nacional, participou da reforma administrativa do Estado do Mato Grosso do Sul no governo Zeca do PT, foi secretária de Gestão Pública na Prefeitura de Londrina no governo Nédson Michelleti, fez parte em 2002 da equipe de transição do governo Fernando Henrique Cardoso para Lula e, recentemente, se afastou do cargo de diretora financeira da Usina de Itaipu. Em entrevista ao Jornal do Estado, ela fala sobre essas experiências e seus planos caso se torne a primeira mulher paranaense no Senado.


Jornal do Estado – Apesar de nunca ter sido eleita para um cargo público, a senhora se considera preparada para representar o Paraná no Senado?


Gleisi Hoffmann – Certamente. Sempre estive envolvida com militância política em movimentos estudantis. Já ocupei vários cargos de confiança na administração pública, principalmente na área de gestão pública, na qual inclusive fiz uma especialização. Conheço muito bem a máquina pública. Já trabalhei nas três esferas do Executivo e Legislativo. Estudo muito a legislação. Sempre acompanhei muito os programas sociais do governo federal. Durante o período que fui diretora de Itaipu, criei programas de políticas públicas que auxiliaram a população de Foz do Iguaçu.


JE – Se eleita, quais são suas principais metas para os primeiros anos de mandato?


Gleisi – Quero priorizar a discussão sobre o pagamento de royalties para as regiões dos portos. Um porto tem uma função muito importante para a economia do Estado. Acredito que uma parte da sua receita possa ser revertida em benefícios para a população local, principalmente, através de programas sociais. Também pretendo criar um sistema para regularizar o comércio nas fronteiras. Ter um imposto diferenciado para quem faz exportações até um determinado teto. Não adianta tampar o sol com a peneira. É muito complicado de fiscalizar todas as mercadorias contrabandeadas. O Estado pode arrecadar em cima disso. Mas, é claro que devemos intensificar a fiscalização contra o tráfico de drogas e armas.


JE – Como a senhora avalia o desempenho dos atuais representantes paranaenses no Congresso Nacional?


Gleisi – O Senado é um espaço privilegiado. É o único cargo com oito anos de mandato. Historicamente, nos últimos anos, os senadores têm estado na oposição ao governo do Estado. Isso se reverte em prejuízo para o Paraná. O Flávio Arns (PT) tem feito um trabalho de alianças com entidades assistenciais que tem trazido benefícios para muitos paranaenses. Mas ainda precisamos avançar mais. Temos causas bem maiores que esta disputa política. Tanto o governador quanto os senadores têm responsabilidade por esta falta de parceria.


JE – A senhora teve recentemente uma experiência como diretora da Usina de Itaipu. Com base nesse conhecimento, existe algum projeto seu específico para o setor de energias?


Gleisi – O novo modelo do setor elétrico está bem estruturado. Portanto, basta dar continuidade a ele, sem fazer grandes modificações. A energia é um bem comum fundamental e temos garantia de fornecimento até o ano de 2011. Além disso, já está sendo investido em energias alternativas. Sempre cito o programa Energia para Todos como um grande avanço, que levou energia a regiões isoladas do Brasil.


JE – Dentre os nove candidatos ao Senado, a senhora foi quem mais cresceu nas últimas pesquisas. A que se deve isso?


Gleisi – Principalmente ao trabalho em setores formadores de opinião como o social e administrativo. É lógico que a aparição nos programas do horário gratuito também ajudaram muito. E o mais importante a figura da mulher. A população está desacreditada nos políticos e existe uma grande tendência em se votar em mulheres.