Candidato ao Senado pelo Partido Verde, o vereador Paulo Salamuni afirma ser independente e um político que não admite canga no pescoço. Entrou na política na universidade, em 1980. Aos 24 anos foi secretário de Desenvolvimento Social de Curitiba. Em 88 ficou com quinto suplente de vereador e foi efetivado em 91. Em 92 foi reeleito vereador, mas em 96 ficou como primeiro suplente. Assumiu em 98 na vaga de Gustavo Fruet, eleito deputado federal. Em 2000 e 2004 foi reeleito pelo PMDB. Em 2005 deixou o partido em que militou por 25 anos depois de  bater de frente com o presidente municipal do PMDB, Doático Santos e com o governador Roberto Requião. Se filiou ao PV, partido que ele acredita ter condições de transformar o país.


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Jornal do Estado – Em 2005, você terminou um relacionamento de 25 anos com o PMDB…

Paulo Salamuni –
Sou amante da fidelidade partidária. O Brasil está doente politicamente. Todos esses líderes, inclusive aqui no Paraná usam o partido como um mero cartório eleitoral, uma catapulta fisiológica. O cidadão se elege e antes de tomar posse do cargo negocia a mudança de legenda. Negocia como se o voto fosse dele. A grande maioria não se elegeria em uma eleição proporcional se não fossem as coligações.  

JE – Dentro desse cenário de toma aqui e pega lá não acaba prejudicando a evolução política no Brasil? Você defende uma reforma política?

Salamuni –
Defendo uma reforma total com a fidelidade partidária. Quando me filiei ao Partido Verde me perguntaram se eu estava entrando em uma quadrilha em formação. Eu respondi se o PV chegar ao poder e fizer o que estão fazendo aí, seguramente será uma quadrilha. Mas eu nunca vou ser comparsa dessa idéia. Não acredito que isso vá acontecer com o Partido Verde. Porque o PV é uma ONG que disputa a eleição. É feito por idealistas. Tem todos os problemas que uma ONG tem. O financiamento da campanha é rateado entre os próprios militantes. Há uma transparência absoluta. O PV é surpreendente. Nesta eleição foi à legenda que mais lançou candidato a deputado estadual, o segundo que mais lançou candidato a deputado estadual, o que mais lançou mulheres. Não negociou e nem é partido de aluguel. Fiz essa opção.

JE – Você defende a fidelidade partidária, mas mudou de partido?

Salamuni –
Sabe o que é você ser líder da oposição, ter cinco mandatos como vereador e não ser ouvido. Nunca sucumbi e fui fiel ao partido. Aqueles que quiseram cassar o mandato do governador no primeiro mandato hoje estão no governo do Estado como se nada tivesse acontecido. Eu não sou obrigado a conviver com pessoas com ideologia oposta a minha. Não preciso me submeter. Saí do PMDB como líder do partido depois de 25 anos. Fui para um partido onde há uma esperança de realizar alguns sonhos. O PV tem um ideário definido e claro. É uma família política internacional, respeitando a autonomia e a determinação política de cada país. Não há orientação de fora, apenas troca de experiência.

JE – Esse quadro de corrupção não acaba levando ao eleitor a se desinteressar do processo político?

Salamuni –
Quando nos tornamos desinteressados no processo político é que surgem os oportunistas, os fisiológicos, que não sabem legislar. E quando sabem, não podem. Porque os interesses que bancaram as campanhas deles não permitem que sejam eles mesmos. Ao logo da minha carreira política – quantas vezes defendendo projetos políticos – os meus colegas diziam: “que belo projeto, que argumentos.” Aí eu perguntava, posso contar com o seu voto? E eles falavam não – votar é outra história. Eu posso aplaudir, mas votar é contra os interesses.






“Paraná não é nenhuma província”

Jornal do Estado – Você falou que o PV é um partido idealista. Mas, voltando um pouco ao passado, o PT também era um partido idealista e deu no que deu. Qual é a diferença?

Paulo Salamuni –
O PV é um partido novo. Mas, ao mesmo tempo, ele é mais velho que o PPS e que o PSDB. Qual é a diferença? Onde é que o PT errou? Errou aonde não podia ter errado. Errou na ética e na política. Com todos os 53 milhões de votos que o presidente Lula fez, eles tinham que ter batido na mesa e ter dito: “agora mudou”. Mas, foram lá e aperfeiçoaram a máquina da corrupção. Porque a primeira coisa que um prefeito quer é ter a maioria na Câmara. A primeira coisa que um governador quer é ter a maioria na Assembléia. E com o Lula não foi diferente. A primeira coisa que a cúpula do PT quis foi ter a maioria para o presidente governar. Mas, se é uma maioria conquistada moralmente, politicamente e ideologicamente, tudo bem. Mas não. Foi computada pelo dinheiro e pelo fisiologismo do mensalão e pelo “valerioduto”.

JE – Por que o Senado? Por que não disputar uma eleição minoritária?
Salamuni
– Serei útil pela minha formação pessoal e parlamentar ao Estado. Porque não é possível que o Estado tenha dois senadores do mesmo partido ou dois irmãos senadores. O Paraná não é nenhuma província que deva ficar restrita a uma ou duas famílias administrando o Estado.

Jornal do Estado – Quais são as propostas ?
Paulo Salamuni – Na questão política, transparência absoluta. Tudo que estiver ao alcance para a população de Curitiba e do Paraná, investimentos para esta terra – para reverter um pouco este IDH do Paraná que há décadas nos envergonha e nos joga para baixo com o espírito paranista. A outra questão é a da educação. Enquanto outros estados têm, como o Rio Grande do Sul, seis universidades federias, Minas Gerais tem dez, o Paraná tem apenas duas. O que falta é alguém sintonizado, com vontade e com tesão para levantar essa bandeira.