Maria Gadú: “Estamos todos com saudades, eu e o público” (Loiro Cunha)

Para alegria dos fãs saudosos, a cantora Maria Gadú volta ao palco em Curitiba neste sábado (19), onde não pisava desde 2019. Ela vem apresentar a turnê “Quem Sabe Isso Não Quer Dizer Amor” no Teatro Positivo. O show mistura canções autorais dos seus discos passados e músicas que embalam sua memória afetiva, como “Sal da terra” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e “Coisa da vida” (Rita Lee), que está no álbum “Quem sabe isso quer dizer amor”, lançado no ano passado. Também tem músicas de Caetano Velosos, Marisa Monte, Renato Russo, Gonzaguinha.

A reportagem do Bem Paraná conversou com Maria Gadú sobre o show e sobre por onde a cantora andou neste tempo em que ficou longe dos palcos. E não foram poucos lugares. Ela morou na Amazônia no auge da pandemia, onde atuou diretamente na defesa do povo indígena. Chegou a buscar oxigênio no aeroporto para comunidades do Rio Negro. Também viajou pelo mundo espalhando a importância do indígena brasileiro ao lado de Sonia Guajajara (atualmente, Ministra dos Povos Indígenas). Ainda gravou a série “O som do rio”, no Rio Tapajós, no Pará, lançou o single “Pássaro d’água”, com sons captados da mata, e o clipe “Mundo líquido”.

Ela também se tornou uma das três mães de Alice, que está agora com seis meses. Alice é filha biológica da irmã de Maria Gadú, Vanessa, que sofreu abandono paternal. Então Maria Gadú, e sua companheira, a jornalista Popi Itapena, resolveram dividir a maternagem.
Leia os principais trechos da entrevista:

Bem Paraná — Como foi essa experiência na Amazônia aprendendo e divulgando a cultura indígena brasileira?
Maria Gadú —
Foi um período muito enriquecedor,. Tive o privilégio de ter acesso a essas informações sagradas dos povos ancestrais do Brasil através de pessoas incríveis como Sonia Guajajara e a deputada Célia Xakriabá, que me acompanharam nas visitas pelas aldeias. Também tiveram momentos muitos difíceis, principalmente, durante a pandemia, quando eu morei em Manaus e atuei diretamente na ajuda ao povo indígena. Todos sofreram na pandemia de Covid, que não teve nenhum lado bom, mas o povo indígena viveu momentos muito complicados.

BP — De alguma forma toda essa aprendizagem influenciou seu trabalho como artista?
Maria Gadú —
Foram anos de aprendizagem, de estudo e de muita atividade. A ideia era me aprofundar na luta indígena. Volto mais tranquila, mais consciente. Uma aprendizagem sempre te impulsiona pra algum lugar , né?

BP — E também nesse período, você virou mãe. Como isso te mudou?
Maria Gadú —
Sim, saio deste período com cabelo branco (risos). A maternagem, a seis braços, é bonita demais. E acaba também te transformando, da maneira mais profunda por ser aquela experiência cotidiana. Estou encantada e feliz também, porque a gente andou pra tantos lugares bonitose pudemos apresentar para ela. Estamos em um Brasil mais possível! Você vai criar uma criança negra com uma gama de representatividade muito maior, na luta, no cinema, na literatura. E isso é maravilhoso.

BP — O novo álbum “Quem Sabe Isso Não Quer Dizer Amor” foi gravado antes da pandemia. Teve um processo diferente. Como foi?
Maria Gadú —
Sim, ele foi gravado antes da pandemia, e foi sendo postergado por causa da pandemia, como tudo na vida das pessoas foi adiado. É um álbum específico, de comemoração e celebração, aniversário de carreira e com um método, de gravação à mixagem totalmente diferente.

BP — E como este show de retorno foi pensado?
Maria Gadú —
Então quando chegou neste momento que eu resolvi voltar aos palcos, decidi fazer um show híbrido de celebração, um show mais nostálgico, afinal fazia muito tempo que eu não cantava minhas próprias músicas. Ele celebra também todo este tempo que passei com os povos indígenas. Então vai ter música que todo mundo gosta. É um show de lado A, não de Lado B (risos).

BP — Para o show em Curitiba, há alguma coisa especial, um roteiro diferente?
Maria Gadú —
Estamos todos com saudades, eu e o público. O que vai acontecer deste encontro saberemos na hora. Claro que temos um roteiro, mas é emoção do momento que manda. Tenho certeza que vai ser incrível. Porque é uma celebração, não só do novo trabalho, mas de uma carreira inteira.

Álbum é imersão no universo particular da artista
“Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor” faz uma imersão no universo particular da artista, no qual é possível vê-la mais completa. “O processo desse projeto foi intenso, demorado e amoroso. Solitário e povoado, arrumado e bagunçado, feito nosso dia a dia. Todas as canções foram escolhidas ao logo de anos, em idades diferentes, com alegrias e dores. O cotidiano com música é muito mais belo“, conta a artista.
“Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor” – Lançado na véspera do aniversário de 35 anos de Maria Gadú, o disco, coproduzido por Big Rabello e Felipe Roseno, traz a artista multi-instrumental, comprovando sua versatilidade e pluralidade tanto como intérprete quanto como musicista. O projeto conta ainda com versão audiovisual, veiculada no canal do Youtube da artista.

A artista paulistana, além de cantora, é compositora, musicista e produtora. Começou a carreira cedo, com apenas 12 anos, tocando em bares, restaurantes e casas noturnas. Sem desistir dos sonhos, em 2009 emplacou o sucesso “Shimbalaiê“, que estourou no Brasil após fazer parte da trilha sonora da novela global de horário nobre, Viver a Vida.

Após esse acontecimento, Maria Gadú ganhou prêmios no meio artístico, como o “Prêmio da Música Brasileira” e o “Prêmio Multishow”, além da indicação a diversos outros, dentre eles o Grammy Latino. Em resposta ao sucesso, já no ano seguinte, em 2010, o show da turnê do álbum “Maria Gadú” ganhou registro ao vivo em CD e DVD: o “Maria Gadú – Multishow ao Vivo”

Dali em diante, a participação da artista virou rotina em diversos projetos nacionais e internacionais, como duetos com Gilberto Gil, Milton Nascimento e Eagle-Eye Cherry, que resultaram no álbum “Nós”. Em todos esses, e outros trabalhos, as causas indígenas, LGBTQIA+, feminista e antirracista se fizeram presentes – ainda fazem.

O resultado desse interesse e estudo foi o sucesso “Mundo Líquido”, lançado em abril de 2019. Com cenas gravadas no coração da Amazônia, o videoclipe propôs uma viagem ao berço de povos, reconhecimento de sons, cores e símbolos que são a matriz do Brasil e da ascendência indígena da artista.

SERVIÇO
Maria Gadú em Curitiba
Quando: 19 de agosto de 2023 (sábado), abertura da casa às 20h e show às 21h
Onde: Teatro Positivo (Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido)
Quanto: Ingressos: os ingressos variam de R$ 70 a R$ 340,00, de acordo com o setor e modalidade escolhidos no Disk Ingressos
Curitiba Cult: Desconto de 50% sobre o valor de inteira;
Clube Disk Ingressos: Desconto de 50% sobre o valor de inteira;
Clube Gazeta do Povo: Desconto de 50% sobre o valor de inteira.
Classificação: Livre