Gilson Olivetti/Divulgação

2022 foi o ano da retomada dos shows e dos grandes festivais após uma longa pausa por causa da pandemia de Covid. Só quem adora ver o seu artista e sua banda preferidos de perto, vibra com cada nota musical, pula e grita junto sabe o quanto a possibilidade desta pausa ser eterna assustou. Felizmente, os festivais voltaram e eu, frequentadora assídua de shows desde 1990, voltei com sede ao pote. Foram mais de 50 shows em 2022. Entre os mais intimistas, em teatros, e alguns na Pedreira Paulo Leminski e no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, onde moro, mas foram quatro grandes festivais em São Paulo e no Rio de Janeiro: Lollapalooza, em março, Rock in Rio, em setembro, e Popload e Primavera Sound, em novembro.  As experiências me deram a oportunidade de avaliar com cuidado o melhor e o pior de cada festival no que diz respeito à infraestrutura e a escolha dos artistas.

Organizei a análise por tópicos: line-up, ingressos, organização, comidas e bebidas, infraestrutura e segurança. E a surpresa foi que o menor deles, o Popload apresentou a melhor nota, enquanto o Rock in Rio, o maior deles e mais antigo, a menor nota (veja quadro no final da reportagem). A ideia é que a análise ajude de alguma forma quem planeja se jogar nos festivais de música em 2023.

LOLLAPALOOZA

Line-up

O line-up do Lollapalooza, que acontece em Interlagos, em São Paulo, como sempre, é surpreendente, por misturar atrações de todos os gêneros, do alternativo ao pop, com maestria.  Fui no dia 25 de março do The Strokes, Doja Cat, Machine Gun Kelly, Alan Walker, Chris Lake, Jack Harlow, Marina, LP, Turnstile, Caribou, The Wombats, Pabllo Vittar, Ashnikko, Mautê, )70 shake, Jetlag, Vinne, JSDN, Beowülf, Detonautas, Edgar, Mega, Barja. Me arrependi, no entanto, de não ter ido no dia Miley Cyrus, em 26 de março. E por isso mesmo, já garanti os três dias do festival em 2023.

Ingressos

O preço pode parecer alto num primeiro momento. Em 2022, a inteira variava de R$ 800 a R$ 900, porém a maioria do público certamente paga meia, já que é um festival onde o público jovem é predominante. Mas pelo line-up vale muito. Comprar o Lolla Pass para os três dias, antes de saber as atrações, vale muito a pena mesmo. Para 2023, o preço era R$ 900 (inteira) na pré-venda para os três dias. Na venda geral, era R$ 1.200 (inteira).  Agora, quando já sabemos as atrações, os ingressos por dia custam R$ 1.320,00.

Organização

A entrada do festival é bem organizada. A fila parece grande, mas é bem agilizada. Convém chegar pelo menos uns 40 minutos antes da atração que pretende ver. A saída é tensa, porque muitas das saídas têm escadas, quando o perigo aumenta, mas há pessoas ajudando.

 A pior nota da organização vai para o deslocamento entre os palcos entre um show e outro. São quatro palcos, o tempo é muito curto e a correria é grande. Então se você está em um show em um palco e quer ver uma apresentação desde o início em outro palco precisa sair uns 10 minutos antes no mínimo. Se estiver chovendo, a situação piora, porque Interlagos fica cheio de lama. Falta pessoal para dar informações, mas a sinalização com placas é abundante.

O grande lance do Lollapalooza são as pulseiras de consumo, carregadas antes pela internet com cartão de crédito ou em postos nos dias do evento. Isso dá uma agilidade sensacional para você comprar comida e bebida nas barracas e dos vendedores ambulantes, além de segurança.

Comidas e bebidas

Não há festival de música com bebida e comida barata. Em 2022, o Lollapalooza ficou na “média cara” dos festivais: hambúrguer a R$ 27, pedaço de pizza a R$ 20, refrigerante a R$ 11, cerveja a partir de R$ 14. Os sabores também ficam na média: são hambúrgueres simples, cachorros-quentes sem graça e pizzas de queijo. Há também vários Foodtrucks com comidas mais sofisticada e saborosas, mas com preços mais altos também. Durante um dia, comendo o essencial e um drink, você gasta R$ 200 sem perceber.

Infraestrutura

Faltam lanchonetes, porque entre os shows, as filas são enormes e muitas vezes você fica sem comida. Uma dica é ficar de olho nos vendedores ambulantes, que muitas vezes salvam a fome. Obviamente que comprar quando os shows estão rolando é mais fácil, mas daí você perde alguma coisa.

Há espaços com água gratuita, mas confesso que em nenhuma das quatro vezes que fui em shows no Lolla consegui pegar água porque as filas são enormes. Certamente mais totens, resolveriam.

Os banheiros são limpos, mas entre os shows as filas acontecem. Como são muitos banheiros em diversos lugares, não é preciso se desesperar. Poderia ser melhor? Sim, mas dá conta do recado.

Uma coisa legal do Lolla é que há diversos espaços para sentar, deitar. São redes, cadeiras, pallets, bancos, mesas, espalhadas por todo o espaço. Há lugares com sombras.

Segurança

Há uma boa estrutura de seguranças e bombeiros. Na edição de 2022, a chuva forte castigou o festival em diversos momentos. E rapidamente alguns shows foram suspensos, o público afastado dos locais de risco e das escadas. Os telões traziam informações rápidas e importantes.

ROCK IN RIO

Line-up

Foi o Rock in Rio que abriu a porta para os grandes festivais no Brasil lá em 1985, por isso mesmo sem dúvida é o mais disputado de todos. Os ingressos acabam em poucas horas, apesar de caros. O Line-up sempre causa controvérsias, fora a tradicional noite de metal, onde a escolha das bandas é cirúrgica e atende o público alvo. A intenção de atingir todas as faixas etárias acaba deixando as noites com muitas atrações diferentes e gerando aquela frustração nos fãs que muitas vezes gastam muito e investem em um logística imensa para ver um artista somente. Nem vou entrar no mérito de que o Rock in Rio não é mais tão rock, como sempre discutem os internautas nas redes, porque considero essa indagação mais que ultrapassada. Rock in Rio é uma marca e não mais só brasileira, mas mundial. Em 2022, fui na noite do dia 10 de setembro, porque queria ver o Bastille, mas vi também o Coldplay, Camila Cabello, Djvan, CeeLo Green, Maria Rita, Gilsons, Jorge Aragão e Bala Desejo, Jovem Dionísio, entre outros. Mas em 2022, se apresentaram também Guns N´´ Roses, Maneskin, Duo Lipa, Demi Lovato, Iron Maiden, Greenday, entre outros.

Pela primeira vez, consegui passear por todo festival, o que eu nunca tinha feito, porque das outras vezes fiquei na grade. E pasmem:  o tour por todo o espaço físico do festival durou uma hora e quarenta minutos. É muita coisa para ver e ouvir entre os oito espaços para shows e dezenas de espaços interativos, exposições e lojas. Ou seja o Rock in Rio é muito mais que os shows.

Ingressos

Em 2022, o valor da entrada inteira foi de R$ 625 e a meia, R$ 312,50. Se você levar em conta o  tamanho do festival, que acontece no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, o preço não parece tão alto dentro do padrão de festivais no Brasil. É mais barato que o ingresso individual do Lollapalooza, por exemplo. Mas fica o aviso: conseguir um ingresso é quase um milagre. É preciso paciência é técnica, mas isso fica para uma outra reportagem.

Organização

Na minha opinião, aí está um dos grandes problemas do Rock in Rio. A desorganização começa pela fila de entrada. Em 2022, demoramos 1h20 para conseguir entrar. Parece que falta pessoal para revistar, muitos cartões dão problema na catraca, o que aumenta a demora da fila. Um detalhe importante foi o tamanho das catracas, pequenas e nada inclusivas.

Uma falha no festival é não usar pulseiras e cartões personalizados para pagamento do consumo dentro do festival. Tudo é vendido no cartão de débito e crédito, o que complica a atrasa as operações de caixa e aumentam a possibilidade de furtos e fraudes. Acho inadmissível um festival como o Rock in Rio ainda não adotar um método mais moderno de consumo.

Comidas e Bebidas

O Rock in Rio aposta em marcas conceituadas de fast food na alimentação. Entre os parceiros de 2022, estavam o Bob´s, Domino´s , Nasaj, Seara Gourmet,  e Açougue Vegano. A tradição obviamente reflete no preço. No Bob´ s, o valor do combo variava entre R$ 36 e R$ 55, no Domino´s, a pizza brotinho saía por R$ 40. O refrigerante custava R$ 9. Para compensar, havia  salgadinhos a R$ 7,99, biscoitos a R$ 2,99 na Americanas. Uma cerveja não custava menos que R$ 15 e um balde de pipoca personalizado da Cinemark, R$ 55.

Infraestrutura

Sobram experiências no festival. Há exposições, estandes de marcas para dançar, tirar fotos, ganhar brindes, ver artistas e celebridades. Mas todas com muitas filas.

As filas nas lanchonetes também são imensas nas últimas três edições não havia mais comida cerca de 30 minutos antes do fim do último show. Quando falo em filas imensas é esperar 30 minutos por um lanche entre os shows. A única maneira de escapar destas filas é perder trechos de shows para comer.  Há poucos vendedores ambulantes também.

 Ir ao banheiro também é uma experiência terrível no Rock in Rio, tanto pelas filas quanto pela limpeza. Na edição de 2022, a organização colocou roletas na entrada dos banheiros e como não há funcionários na organização das filas do lado de fora, em pelo menos em três oportunidades testemunhei tumultos perigosos na entrada do banheiro. Em uma das vezes, duas mulheres quase foram pisoteadas. Considerei uma falha grave.

Também falta sinalização sobre onde fica o posto médico e outros banheiros. Pela a experiência da organização e em comparação com outros festivais, a desorganização do Rock in Rio ficou evidente em 2022.

Segurança

Há seguranças espalhados pelo festival, assim como funcionários para dar informações, mas faltam seguranças perto das lanchonetes e dos banheiros, onde presenciei algumas confusões por conta das filas.

POPLOAD

Line-up

A oitava edição do Popload Festival aconteceu em 12 de outubro em São Paulo com uma line-up enxuto, porque é um evento menor, mas muito atraente. Pixies, banda cultuada do final dos anos 80 e início dos 90, foi a grande atração, afinal foi a segunda aparição deles no Brasil em carne e osso. A primeira foi em 2004 quando só tocaram em Curitiba. Jack White, por sua vez, não ficou devendo nada. Um showman, que tocou tudo que o público esperava em um pouco mais. Também teve Chet Faker, Cat Power, Perotá Chingó e Jup do Bairro. Fresno e Pitty entraram de última hora para substituir Years & Years,

Ingressos

A pista normal  custou R$ 456 (inteira), R$ 260,80 (meia) e a Pista Premium, R$ 936 (inteira) e R$ R$ 524,80 (meia). Na minha opinião, o preço condiz com o que o festival ofereceu. Valeu cada centavo.

Organização

Desde o começo, na fila, até a saída, a organização foi nota 10. Muitas pessoas para informar, placas e muitas catracas para o público entrar. Na saída, todas as grades foram retiradas e funcionários indicavam e organizavam, já que tinha uma passarela de pedestres e era preciso andar devagar. O local escolhido, o Centro de Eventos do Tietê  foi muito adequado para o evento. O tamanho ideal para o Popload, com muitas árvores no fundo com sombras.  Havia banheiros suficientes e limpos. Não fiquei mais que três minutos em nenhuma fila do banheiro. O mesmo aconteceu com alimentação. Tudo muito organizado. O uso de um cartão de consumação, que carreguei só uma vez, no início do evento, facilitava muito as compras.  Claro que o Popload é um festival pequeno perto do Lollapalooza e Rock in Rio, mas mesmo assim surpreendeu e também já fui a outros festivais, em Curitiba, pequenos, e com organização questionável.

Comidas e bebidas

A área do festival contou com diversos restaurantes de São Paulo, incluindo Fazenda do Futuro, Mocotó e Holy Burger, além de algumas opções de food trucks, divididas entre as pistas normal e premium, além de opções veganas e vegetarianas. Os preços acima do mercado, mas parecido com outros festivais, combos por cerca de R$ 40, cervejas a R$ 15, regfrigerantes a R$ 9 , drinks a R$ 39. Porém, tudo rápido e sem muitas filas.

Infraestrutura

O Centro de Eventos Tietê foi perfeito para o evento. Muitas sombras, lugares para sentar, banheiros e lanchonetes suficientes. Um detalhe muito legal do Popload foi a Premium lateral, que não ocupava toda a frente do palco. Assim, mesmo quem pagou Pista teve a chance de ficar na grade também para ver o seu ídolo. O som e a altura do palco também foram ótimas.

Segurança

Muitos funcionários e seguranças dispostos a informar e a garantir que tudo desse certo.

PRIMAVERA SOUND

Line-up

Foram dois dias de festival. Um melhor que outro. Infelizmente só fui no dia 5 de novembro, que contava com Arctic Monkeys, Mitski, Björk, Interpol, Beach House, Tim Bernardes, Liniker, entre outros. Mas no dia 6, teve Travis Scott, Lorde, Arca, Phoebe Bridgers, Bad Gyal, Hermeto Paschoal, Japanese Breakfast, Terno Rei entre outros.  Dos shows que vi, Mitski, Bjõrk e Arctic Monkeys foram sensacionais. O fato é que o line-up foi perfeito para as diversas faixa etárias de fãs do indie e da música alternativa.

Ingressos

O preço para dois dias de festival variou R$ 700 (meia primeiro lote) até R$ 1720 (inteira terceiro lote). Por dia, o valor vairou de R$ 410 (meia primeiro lote) até R$ 980 (inteira terceiro lote). Ou seja, assim como Lollapaloza, o ingresso para mais dias vale muito a pena. Diante dos preços de outros festivais, o preço para o Primavera Sounds foi justo, principalmente levando em conta a estrutura imensa à disposição dos participantes.   Além de todos os shows, ainda havia um espaço enorme para apresentação de DJs e música eletrônica.

Organização

Eram duas entradas para o festival, que aconteceu no Distrito Anhembi. As duas estavam tranquilas e organizadas. O espaço é imenso e os palcos eram bem distante de todos. Lá é preciso andar muito e mesmo sem conhecer muito não me perdi, porque tinham muitos funcionários auxiliando, alguns com megafone indicando os caminhos, de maneira agilizada. Havia lugar para comer e banheiros em muitos lugares. O único erro da organização foi o cálculo de tempo de deslocamento entre um palco e outro. Era muito longe, mais de 10 minutos caminhando, e com a multidão era impossível não perder o começo do show. Da MItski para Arctic Monkeys, a organização atrasou um minutos a apresentação da banda, mas ainda sim muita gente não chegou no horário. O uso da pulseira previamente carregada deixou o serviço de comida e bebida agilizado. Recarregar também era fácil, vários funcionários faziam a recarga. 

Comida e bebida

Para se manter hidratado, os fãs pagaram R$7 pelo copo d’água; entre R$12 e R$20 pelo suco (dependendo do sabor); e R$15 pela cerveja oficial do evento, a Beck’s. Quem preferiu outra marca, pode encontrar opções entre R$20 e R$25, em bares específicos, espalhados pelo Anhembi. O que chamou a atenção foi a a grande variedade de estabelecimentos, divididos entre a Praça de Alimentação, a Praça de Food Trucks e os Pontos de Alimentação. Comida japonesa, sírio-libanesa, chinesa, brigadeiros, além dos hambúrgueres, cachorro-quente, pastel, espetinho. Também havia muito lugar para sentar. Quem não encontrasse uma mesa, ainda podia seguir para as arquibancadas do sambódromo.

Infraestrutura

O Distrito Anhembi talvez seja o melhor lugar pronto para shows, porque além dos palcos, há o pavilhão, onde ficou uma imensa praça de alimentação e a pista de dança do eletrônico, além da arquibancada onde ficou o palco menor.  Só ficava na fila quem queria uma comida específica e quem não procurava banheiro alternativo. Eram muitos banheiros em todos os lugares. E como a distância entre os espaços era grande, havia muitos postos de saúde. Um detalhe da infra que atrapalhou é que o palco maior, onde se apresentou o Arctic Monkeys havia muitas árvores, que atrapalharam a visão do show. Um ponto a mais para a lojinha do festival, que era grande, na verdade. Havia camisetas, bonés, blusas, bolsas de todas as atrações. Também havia uma loja de vinil de primeira qualidade. E quem quisesse podia pegar a compra só no final, afinal era complicado andar com um disco durante o festival.

Os palcos altos, com um som perfeito, também chamaram a atenção.

Segurança

Apesar o local enorme, tinham muitos seguranças e bombeiros. A única observação era sobre as escadas que ligavam os espaços. Os degraus eram pequenos e estreitos. Tanto que quando o público se locomovia de um show para outro, os seguranças indicavam um caminho alternativo.

FestivalLine-upIngressos *OrganizaçãoInfraestruturaComes e bebesSegurançaMédia
Lollapalooza9878898,1
Rock in Rio8856856,6
Popload109101010109,8
Primavera Sound1099101099,6

*A categoria Ingressos leva em consideração o custo-benefício do preço cobrado