A cantora Simone: “Não tive medo de ir, de enfrentar” (Rodrigo Browne)

A turnê ‘Tô Voltando’, que celebra os 50 anos de carreira da cantora Simone, chega a Curitiba no próximo sábado (13), às 21 h, no Grande Auditório do Teatro Guaíra (Praça Santos Andrade, s/nº). Para essa comemoração a cantora preparou, ao lado do diretor geral Marcos Preto, um roteiro que relembra seus grandes momentos em 25 canções que ela gravou nessas cinco décadas – representadas por nomes como Milton Nascimento, Ivan Lins, Sueli Costa, João Bosco, Martinho da Vila, Gonzaguinha e Chico Buarque, entre tantos outros, conquistando logo nossa memória afetiva e entrando para sempre no cancioneiro nacional. A banda de ‘Tô Voltando’ que acompanha Simone é formada por jovens músicos Frederico Heliodoro (baixo), Filipe Coimbra (guitarra e violão), Chico Lira (teclados), Ronaldo Silva (bateria) e Vanderlei Silva (percussão). Neste show, a cantora inaugura sua parceria com a Nascimento Música, empresa de seu amigo de toda vida, Milton Nascimento, administrada pelo filho dele, Augusto Nascimento.
Dona de um dos mais belos timbres vocais do país, Simone concedeu uma entrevista exclusiva ao Bem Paraná e falou sobre os seus 50 anos de carreira e a comemoração que está levando para os palcos:

Bem Paraná – Durante o show do Rio você falou sobre comemorar essa trajetória linda e longa e aproveitou para agradecer os compositores que entregaram suas ‘crias’. Dizendo que é sempre um recomeço. Como é recomeçar com uma comemoração tão importante?
Simone –
Olho para a minha trajetória, para o que a vida me proporcionou com o meu trabalho, com minha dedicação e com a minha música, com um carinho enorme. Se colocar numa balança, acertei muito mais do que errei e não tive medo de ir, de enfrentar. Mas também olho para a frente, para o futuro, e vejo que o caminho que está sendo traçado segue envolvido no mesmo empenho, amor e cumplicidade. Sou conjunto, sou coletivo. Tudo o que eu faço é dedicado ao meu público, que é o meu patrão. E o momento agora é de comemorar.
BP – Você passa a limpo 50 anos de carreira em 25 músicas. Você e o Marcus Preto escolheram o roteiro final do show. Como foi montar esse repertório?
Simone –
Durante as lives, e foram 37, revisitei muitas canções desses discos todos. De alguma forma, acho que fui me preparando para este novo show, ouvindo sugestões dos fãs também. Gosto muito de trabalhar no coletivo, isso eu trago do esporte. Eu e o Preto fizemos muitos setlists até chegar nesse roteiro final. Começamos com uma lista de mais de 50 músicas ‘que não poderiam faltar’. São muitos discos, o repertório é muito bonito. Mas o show tem um tempo limitado, não queria que passasse muito de uma hora e meia. Então cortamos para 23 músicas, o que passa bem de uma hora e meia. Tiramos coisas lindíssimas, Preto diz que as preferidas dele ficaram de fora. Algumas das minhas, também. Mas é um show de 50 anos de carreira, então ele precisa refletir essa história toda, passar pelas várias fases vividas por mim nos discos e nos palcos.
BP – Qual é a sensação de reencontrar algumas músicas do passado?
Simone –
É fascinante fazer essa visita hoje, depois de um tempo enorme. Tive a sorte de gravar primeiro músicas muito importantes, que estão no show, e também ganhei tantas outras de presente. ‘Cigarra’, por exemplo, eu liguei para o Bituca e contei uma história que aconteceu comigo no banheiro. Eu ouvi a palavra ‘cigarra’ e pensei: ‘É isso!’. Bituca fez aquela melodia linda e o Ronaldo Bastos fez a letra. Virou uma marca minha. Alguns compositores foram tão importantes na minha história que nunca faltaram nos meus roteiros de shows, como Ivan Lins, que foi o autor que eu mais gravei em toda a carreira. E, claro, Sueli Costa, Martinho da Vila, Chico Buarque. Termino o show com samba-enredo, que também foi uma marca minha. Eu trouxe os sambas-enredo para os discos de MPB e me orgulho muito disso.
BP – A sua banda é bem jovem – muitos músicos nem tinham nascido quando você começou a cantar. Você pode falar sobre essa escolha e sua relação com eles?
Simone –
A novidade, mesmo, sou eu no meio deles, não o contrário. Essa juventude é boa porque eles não trazem vícios do repertório, tem músicas que eles nem conhecem por serem de outro universo. E é uma via de mão dupla: eu também aprendo com eles. Eles tocam muito bem, vão ter lindas histórias pela frente.
BP – Há uma diferença tecnológica enorme entre o início de sua carreira e os tempos atuais. Como você lida com essas mudanças – principalmente no meio musical: mercado, redes sociais, aparatos de gravação…?
Simone –
Muita coisa mudou… o jeito de fazer música, a tecnologia, o estilo. É tudo bem diferente de quando eu comecei. Mas tem coisas que não mudam: se você quer abraçar uma carreira, você precisa de extrema dedicação e cuidado em tudo o que faz. E precisa sempre de grandes composições. Elas são o alicerce principal no trabalho de qualquer intérprete. Isso não há tecnologia que vá mudar.
BP – Você acompanha as tendências da nova música que está nas paradas de sucesso? O que você gosta da nova geração de uma forma geral. É uma música que te agrada?
Simone –
Eu ouço um pouco de tudo. Nessa semana, estava ouvindo o disco da Liniker, por exemplo, que eu adoro. Meu último trabalho, o ‘Da Gente’, lançado no ano passado, reuniu uma nova safra de compositoras nordestinas. São meninas maravilhosas, como Isabela Moraes, Joana Terra e Rogéria Dera, cantoras e compositoras que todos precisam conhecer. Tem muito sangue novo fazendo boas canções. É uma música jovem e solar. Eu adoro.
BP – A música tem poder de cura?
Simone –
Acredito, sim, que a música tem esse poder. Meu cantar tem muito a ver com a conexão que tenho com Deus. E há estudos nesse sentido. A música acalma, equilibra, conecta as pessoas – com as outras e com elas mesmas.
BP – Algum recado especial para seu público aqui em Curitiba?
Simone –
A ansiedade é grande e o frio na barriga continua. O show está ficando cada dia melhor, então Curitiba pode esperar o melhor de mim. Me aguardem!

Serviço:
Tô Voltando – Show com a cantora Simone

Onde: Teatro Guaíra
Quando: Sábado, 13 de maio, às 21h
Quanto: R$200 (meia-entrada) e R$400 (inteira) + taxa do DiskIngressos
Compras pelo site do Disk Ingressos (www.diskingressos.com.br/evento/4706/13-05-2023/pr/curitiba/simone-to-voltando) ou de forma presencial nos quiosques do Disk Ingresso

SOBRE
Simone

Nascida em Salvador (BA) no Natal de 1949, Simone estreou como cantora profissional em 1973. De lá para cá, gravou 31 álbuns de estúdio e seis ao vivo, alguns produzidos especialmente para o mercado internacional. Teve quase 50 canções em trilhas de novelas e incontáveis hits em listas das mais tocadas no país. Em 1979, lançou o excepcional ‘Pedaços’, álbum que a colocou definitivamente no panteão das maiores intérpretes da história da música brasileira. A partir de meados da década de 1980, não havia álbum de Simone que não batesse as 400 mil unidades vendidas. Já nos anos 1990, o temático 25 de Dezembro bateu 1,5 milhão de cópias em menos de dois meses – e segue no posto de álbum natalino mais ouvido do país. Nos anos 1990 e 2000, dedicou discos e espetáculos a Martinho da Vila e Ivan Lins, dois de seus compositores prediletos. O álbum de estúdio mais recente, Da Gente, foi lançado no ano passado e jogou luz sobre a nova geração da música nordestina. No palco, Simone também bateu recordes. Um bom exemplo é seu espetáculo de 1982, que lotou nove apresentações no Ginásio do Ibirapuera (SP), em três semanas seguidas, com cerca de 15 mil pessoas por noite. Como personalidade extra-musical, Simone ditou moda e comportamento, expandindo padrões estéticos e sexuais e abrindo o caminho para mulheres de sua geração e das posteriores, artistas ou não.
‘Tô Voltando’ é a festa que celebra toda essa história. Que comemora tantos sonhos já sonhados e tantos voos já voados pela Cigarra em 50 anos de carreira. Mas também é o primeiro de tantos voos e sonhos que ela ainda vai realizar. Começar de novo, sempre.

SET LIST SIMONE ‘TÔ VOLTADO’
Tô que Tô (Kleiton Ramil/ Kledir Ramil)
O Que Será (Chico Buarque)
Sangrando (Gonzaguinha)
Começar de Novo (Ivan Lins/ Vitor Martins)
Cigarra (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos)
Jura Secreta (Sueli Costa/ Abel Silva)
Divina Comédia Humana (Belchior)
Sangue e Pudins (Fagner/ Abel Silva)
Mar e Lua (Chico Buarque)
Sob Medida (Chico Buarque)
Alma (Sueli Costa/ Abel Silva)
Haja Terapia (Juliano Holanda)
Boca em Brasa (Juliano Holanda/ Zélia Duncan)
Você é Real (Piska/ Fausto Nilo)
Depois das Dez (Tunai/ Sergio Natureza)
Um Desejo Só Não Basta (Francisco Casaverde/ Fausto Nilo)
Separação (José Augusto/ Paulo Sérgio Valle)
Revelação (Clodô/ Clésio)
Encontros e Despedidas (Milton Nascimento/ Fernando Brant)
Iolanda (Pablo Milanés – versão: Chico Buarque)
Ex-Amor (Martinho da Vila)
Desesperar Jamais (Ivan Lins/ Vitor Martins)
Tô Voltando (Maurício Tapajós/ Paulo César Pinheiro)
Por um Dia de Graça (Luiz Carlos da Vila)
O Amanhã (João Sérgio)