Quanto ao setlist a ser apresentado, não devem faltar hinos como ‘Perfect Strangers’, ‘Smoke on the Water’ (Morten Rygaard)

Após seis anos longe do território tupiniquim, o Deep Purple volta ao Brasil pela 13ª vez no mês de abril, fazendo uma série de apresentações pelo país. E Curitiba estará no roteiro da lendária banda britânica, que se apresentará no dia 23 de abril na Live Curitiba. Será a primeira vez que o grupo se apresentará aos fãs brasileiros com sua nova formação, formada por Ian Gillan (vocal), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Don Airey (teclado) e Simon McBride (guitarra), sendo que o último substituiu no ano passado o icônico guitarrista Steve Morse, que deixou o grupo para estar ao lado de sua esposa, Janine, que luta contra o câncer.

Numa espécie de ‘esquenta’ para a turnê do grupo pela América do Sul, o Bem Paraná teve a oportunidade, no último dia 15 de março, de conversar via Skype com Ian Gillan, quando ele estava num hotel em Tóquio, no Japão.

Na entrevista, o vocalista deixa claro que o Deep Purple, banda formada em Londres, na Inglaterra, no longínquo ano de 1968, ainda está longe da aposentadoria. Mais que isso, destaca que esses são tempos excitantes para o grupo, revelando ainda que o grupo pode voltar ao estúdio em breve para gravar mais um álbum – seria o 23º da carreira da banda, que lançou seus dois últimos trabalhos, “Whoosh!” e “Turning to Crime” (um álbum de covers), em menos de um ano e meio, entre 2020 e 2021.

Sobre a vinda ao Brasil, Gillan revelou estar tão ansioso quanto animado para a turnês, exaltando os brasileiros e declarando seu amor pelos roqueiros daqui. “Eles amam o rock e eu amo os brasileiros, eles são incríveis”, disse o cantor, comentando ainda que “o Brasil é um país com um clima quente e com pessoas quentes”, mas lamentando o fato de não ter ‘samba no pé’, ainda que seus amigos do país já tenham tentado o fazer dançar.

Quanto ao set list a ser apresentado, não devem faltar hinos como “Perfect Strangers”, “Smoke on the Water” e “Highway Star”, mas também algumas novidades devem aparecer, como as músicas “Nothing at All” e “No Need to Shout”, do disco “Whoosh”. “É uma boa mistura que estamos preparando para os shows que faremos para vocês”, promete o vocalista.

O artista também revelou ao Bem Paraná que a banda tem trabalhado algumas ideias e que no próximo ano (2024) pode acabar pintando um novo álbum de estúdio, sem dar maiores detalhes. Além disso, também deu uma dica aos jovens músicos, numa resposta que acaba por resumir o que é o som do Deep Purple: “Meu conselho para cada jovem músico é: escute todos os tipos de música. Escute música clássica, jazz, blues, funk, soul, músicas folclóricas, folk… O que quer que seja você pode ouvir, colocar em sua alma e amar. Não escute apenas um tipo de música, porque isso é muito limitante e não lhe dará muita inspiração.

BEM PARANÁ: No próximo mês o Deep Purple virá ao Brasil pela décima terceira vez. O que vocês pensam sobre os fãs brasileiros da banda e o que essa audiência tem de especial, de diferente dos outros fãs pelo mundo?
IAN GILLAN:
Bem, eu tenho muitos amigos no Brasil e já estive aí algumas vezes com o Deep Purple e com a minha própria banda. Foram tempos fantásticos, os fãs daí são muito apaixonados, malucos, é claro que você sabe disso. Eles amam o rock e eu amo os brasileiros, eles são incríveis. Estou muito animado para a viagem ao Brasil e ansioso por isso, muito ansioso.

BP: E há algo de diferente, de especial com relação aos fãs do Deep Purple e do rock no Brasil em relação aos fãs de outros lugares pelo mundo?
GILLAN:
Sim, sim. Quero dizer, cada cultura é diferente umas das outreas e se expressam de maneiras diferentes também. Isso não significa que uma cultura seja melhor ou pior que a outra, mais ou menos entusiática. Apenas significa que algumas pessoas, alguns povos são mais expressivos que outros. E eu acredito que os brasileiros tendem a ser muito barulhentos, excitáveis e expressivos. É uma alegria jubilante, enquanto outras culturas tendem a ser mais contidas, um pouco mais quietas. Mas isso não faz diferença para o nosso envolvimento [com os fãs], o que queremos é que as pessoas se divirtam, cada um a sua maneira. Você sabe, é difícil comparar essas questões culturais… Mas o Brasil é um país com um clima quente e com pessoas quentes [risos].

BP: E você conhece a música brasileira, gosta da música brasileira?
GILLAN:
Ah, sim. Eu conheço a música brasileira, o samba, e já tentei dançar. Eu tenho amigos brasileiros que sempre estão tentando me fazer dançar [risos], mas eu não tenho um bom balanço, minhas pernas não se movem da maneira certa.

BP: E falando sobre as apresentações no Brasil, o que você pode antecipar sobre o set list, especialmente considerando que há dois álbuns de estúdio lançados recentemente (“Whoosh!” and “Turning to Crime”) que os brasileiros ainda não tiveram a oportunidade de conhecer num show ao vivo?
GILLAN:
Nós produzimos algumas coisas em 2020 e 2021, durante a pandemia de Covid. Não podíamos nos reunir, então gravamos algumas coisas remotamente. Do Whoosh, vamos tocar algumas músicas que eu absolutamente amo. Também vamos apresentar alguns materiais bastante conhecidos pelo público e fazer algumas improvisações. É uma boa mistura que estamos preparando para os shows que faremos para vocês. Do Whoosh, vamos apresentar “Nothing at All” e “No Need to Shout”, que são músicas que caem muito bem com as canções mais antigas.

BP: No ano passado, em uma entrevista ao Darren Paltrowitz, Ian Paice [baterista] revelou que a única vez em que o Deep Purple quase acabou foi quando Ritchie Blackmore [guittarrista] deixou a banda, em 1975. Recentemente, no entanto, a banda enfrentou outra mudança importante, com Steve Morse deixando a guitarra após quase 30 anos no Deep Purple. Como tem sido essa nova fase do grupo, a experiência com a nova formação, que tem Simon McBride como guitarrista?
GILLAN:
Bem, é difícil e, ao mesmo tempo, excitante. Você tem de ver, esse cara [McBride] é incrível, ele é inacreditável. É o tipo perfeito para fazer o trabalho e se entrosou muito bem com todos nós. Ele é fantástico e a energia na banda é suprema neste momento, absolutamente suprema. Nós estamos amando isso e estes tem sido tempos emocionantes. É uma nova transição, uma nova formação, e as coisas estão parecendo boas.

BP: Entre 2020 e 2021 tivemos dois novos álbuns de estúdio do Deep Purple sendo lançados num breve intervalo de tempo e agora a banda já soma vinte e dois discos em sua carreira. O que virá a seguir para o Deep Purple? Há algum novo trabalho no horizonte, talvez o primeiro álbum com a nova formação da banda?
GILLAN:
Nós estamos trabalhando em algumas ideias. Ainda não tem nada pronto, não sabemos quando vai acontecer, mas nós estamos trabalhando num material promissor, desenvolvendo esse material. Ainda não há muito para se falar sobre isso, ainda não temos títulos, nenhuma música pronta, mas o que já criamos está fantástico. Talvez no próximo ano, com sorte suficiente, nós possamos lançar um novo trabalho, mas ainda não há muito para se falar sobre isso.

BP: Eu gostaria, também, de falar sobre o álbum “Machine Head”, que celebou 50 anos desde seu lançamento no ano passado. Quando você olha para trás, o que esse disco significa para você e para o Deep Purple? Imagino que os fãs podem esperar que algumas músicas desse álbum apareçam nas apresentações pelo Brasil…
GILLAN
: Ah, sim. Com certeza [tocaremos músicas do Machine Head nos shows pelo Brasil]. Eu acho que “Machine Head” foi muito, muito importante para nós porque fez parte de uma evolução, mostrou o quanto havíamos melhorado. Foi um marco, porque levamos dois álbuns para chegar lá: foi preciso o “In Rock” e depois o “Fireball” para chegarmos ao “Machine Head”. O “Machine Head” é uma versão mais refinada dos álbuns anteriores. Um era muito hard rock e outro era mais funk ou blues e soul. O “Machine Head” juntou tudo isso. Foi o quinto álbum da banda, mas o terceiro comigo e o Roger [Glover, baixista]. Então foi uma gravação muito importante, feita muito rapidamente e sob circunstâncias muito difíceis. E é claro, o incêndio e o Cassino deram à luz “Smoke on the Water”, nós tivemos “Highway Star” e “Pictures of Home”, que são canções ainda muito importantes para nós hoje.

BP: Eu queria fazer também uma pergunta um tanto pessoal: como você faz para se manter tão criativo após tantos anos, criando músicas como “Nothing At All”, do disco “Whoosh”?
GILLAN:
[Risos] Oh, eu te conto, cara. A vida é tão emocionante e você acorda de manhã e há coisas novas acontecendo, estamos nos movendo, tocando músicas e nos divertindo muito, então sempre há inspiração. Eu nunca tive que pensar em letras. Sempre há algo surgindo, algo interessante sobre o que escrever. E os músicos desta banda são supremos. Eles apenas tocam, e tocam , e tocam o dia todo. São todos tão cheios de ideias e não é apenas uma simples e direta fórmula de rock. Há toda uma gama de influências no Deep Purple, desde composições orquestrais até o jazz, o blues, o soul music, o funk e o rock’n’roll. São todos os tipos de influências culturais e isso é muito rico, nos dá muita liberdade quando se trave de compor, de escrever. E “Nothing at All” é um bom exemplo disso, é uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos com Deep Purple. Eu simplesmente amo isso e não poderíamos o ter feito se estivéssemos simplesmente fazendo as coisas, sabe, com uma abordagem simples para escrever música. Isso é bem complexo, a formação da banda nos dá muitas opções para compor e tocar. Por isso eu sou muito grato.

BP: Não sei se concorda comigo, mas essa variedade de influências, muitas vezes, parece ser algo que falta para as novas bandas de rock. A impressão que tenho é que cena do rock está cada vez mais fechada em si mesma, deixando de lado a possibilidade de experimentar essas outras influências para criar coisas novas, fazer um som diferente…
GILLAN:
Sim, eu acho que isso é verdade. E meu conselho para cada jovem músico é: escute todos os tipos de música. Escute música clássica, jazz, blues, funk, soul, músicas folclóricas, folk… O que quer que seja você pode ouvir, colocar em sua alma e amar. Não escute apenas um tipo de música, porque isso é muito limitante e não lhe dará muita inspiração. Para uma série de coisas, você pode só tocar a mesma música tantas vezes ou o mesmo estilo. Mas você precisa de um equilíbrio dinâmico para durar muito, muito tempo na música.

BP: E algumas semanas antes do Deep Purple se apresentar em Curitiba, Bruce Dickinson estará na cidade por conta da turnê brasileira do “Concerto For Group And Orchestra”, apresentando alguns dos maiores sucessos de Jon Lord com o Deep Purple. O que você pensa sobre isso e como é ver o tamanho da influência que o Deep Purple teve na cena rock em todo o mundo?
GILLAN:
Eu acho que é maravilhoso, eu acho que é maravilhoso. Bruce é um bom amigo e eu espero que eles façam muito sucesso com a turnê. Não há nenhum problema [em ele cantar as músicas do Deep Purple e apresentar o espetáculo], “Concerto For Group And Orchestra” foi um trabalho do Jon Lord que tem músicas incríveis. Eu acho que é fantástico o vocalista do Iron Maiden trazer uma nova perspectiva para o trabalho.

BP: Seu trabalho com o Black Sabbath, o álbum “Born Again”, é também muito cultuado no Brasil, mas li uma entrevista recente sua relatando que o resultado final do disco acabou não lhe agradando tanto. O que pode nos contar sobre esse disco e a experiência que teve com o Sabbath, ao lado de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward?
GILLAN:
Sou muito amigo de Tony e eu amei aquela gravação. Meu único lamento é muito simples: eu não acho que a mixagem final ficou muito boa. Então o disco não foi muito tocado nos rádios na América por causa da mixagem, o estrondo do baixo ficou muito pesado. Essa é minha única reclamação. Eu amo as canções [do disco] e amo o pessoal da banda. Foi fantástico fazer parte do Sabbath e sair em turnê com eles por mais de um ano. Foi a festa mais longa da qual já participei [risos]. Eu tenho ótimas lembranças e tantas, tantas histórias… Na verdade, “Trashed” é uma das minhas canções favoritas de todos os tempos, uma das canções que mais me orgulho de ter escrito.

BP: Bom, já estamos ficando sem tempo aqui, mas gostaria que você deixasse uma mensagem para todos os seus fãs no Brasil, todos os fãs brasileiros do Deep Purple.
GILLAN:
Estou ansioso para voltar ao Brasil e muito, muito em breve estaremos aí, compartilhando da energia louca que vocês têm. Também tenho muitos amigos que vivem no Brasil e espero poder vê-los em breve.