Cerca de 15 anos depois de escrever sua obra-prima Faith Healer (1980), o dramaturgo irlandês Brian Friel, consagrado autor contemporâneo, retomou seu método dramático de solilóquio ao se inspirar em um caso verídico narrado pelo neurologista Oliver Sacks para sua nova peça. Nascia então Molly Sweeney, uma criação literária-musical de profunda compaixão e irresistível tragédia.

“Brian Friel escreve de forma que até cegos possam ‘ver’ a peça. Quero dizer com isso que o texto em si já é suficiente para que a história seja compreendida e que basta ouvi-lo para entender e emocionar-se”, analisa o diretor de teatro Celso Nunes.

Celso está à frente da montagem Molly Sweeney – Um Rastro de Luz, com Julia Lemmertz, Orã Figueredo e Ednei Giovenazzi. Na ficha técnica, figurinos de Fabio Namatame, cenário, iluminação e trilha sonora de Celso Nunes, tradução de João Bethencourt. A montagem marca a volta de Julia Lemmertz aos palcos depois de cinco anos dedicados à TV e ao cinema.

“É uma peça que interessa a todo tipo de público. O texto é lindo, o assunto é sério, os atores estão ótimos e há muita emoção rolando no palco”, comenta o diretor.

Estrelado por Jason Robards, Catherine Byrne e Alfred Molina, o espetáculo foi sucesso na Broadway no final da década de 90. Passados dez anos, Nunes traz para São Paulo a história de Molly Sweeney, uma mulher cega desde a infância. Apesar do drama real da personagem, a discussão transcende a questão da deficiência e paira sobre conceitos mais amplos, como respeito às diferenças e à individualidade, além da coragem de arriscar para atingir um sonho.

Molly (Lemmertz) é uma pessoa feliz, que se adaptou à deficiência e vive em um mundo de sensações. Para ela, a cegueira não é um problema. Mas, mesmo assim, seu marido (Figueredo), um irlandês sonhador, sai em busca de cura para a visão da mulher. Ele pesquisa sobre o assunto e, enfim, encontra Dr. Rice (Giovenazzi). Depois de várias consultas e do incentivo do marido, Molly decide fazer uma cirurgia que lhe trará de volta a visão. Acostumada a viver durante 41 anos sem enxergar, Molly sente medo ao ver o mundo e se depara com uma outra realidade.

A operação, que muda a vida do casal, é também a oportunidade de o oftalmologista recuperar seu sucesso e voltar a exercer a profissão, deixada de lado por causa do alcoolismo. Dr. Rice se entregou ao vício depois de ter sido trocado pela mulher por um outro homem.

Conhecido pelos críticos londrinos como o Chekhov irlandês, uma alusão ao escritor russo Anton Chekhov, Friel traz um ponto comum em seus textos: o foco nas transformações sentimentais dos personagens, seus dramas e frustrações. Nascido em 1929 na Irlanda no Norte, Friel começou escrevendo para o rádio e no teatro alcançou seu primeiro grande sucesso internacional em 1964, com Philadelphia, Here I Come, peça sobre imigração também encenada na Broadway. Molly Sweeney – Um Rastro de Luz estreou em Dublin em 1994. Com várias peças no currículo, Friel é um autor de talento reconhecido e vem sendo considerado um representante do chamado “novo humanismo”.

Molly Sweeney – Um Rastro de Luz

Local: Teatro Guairinha – Rua XV de Novembro
Gênero: Drama
Preços: R$ 15,00 e R$ 7,50 (1/2) + 2kg de alimento não-perecível.
Dia 8 e 9 de novembro, às 21 horas