O elenco do Patriotas FC: time está invicto na Segundona Estadual (Valquir Aureliano)

O dia 25 de junho já está na história do futebol paranaense. Naquela data, o Paraná Clube tomou um gol no último minuto da partida e empatou em 2 a 2. Com 33 anos de história e sete títulos de campeão estadual no currículo, o Tricolor da Vila Capanema era eliminado precocemente da segunda divisão do Campeonato Paranaense.

Uma data marcante não só pela tragédia paranista, mas também por seus contrastes, suas dicotomias. Se de um lado estava um clube histórico e em decadência, do outro estava um novato em ascensão: o Patriotas, clube de Curitiba que chama a atenção pelo seu nome e sua ambição.

Fundado em julho de 2020 por um grupo empresarial que comanda empresas como a Fertilize Adubos, o clube está prestes a completar três anos de vida e pode garantir em breve um lugar na elite do futebol paranaense. Depois de empatar com o Paraná, no último final de semana o Patriotas venceu o PSTC por 3 a 2, fora de casa, na partida de ida pela semifinal da segundona do estadual. Para garantir o acesso, basta um empate no próximo domingo (9 de julho), na Vila Capanema.

Início

Segundo Olaides Duarte Ferreira, presidente do Patriotas, o envolvimento do grupo empresarial com o futebol começou anos atrás, na condição de patrocinador. “Patrocinávamos vários clubes do amador, um clube do Paraguai, e daí pensamos em aprimorar as ideias e transformar também o futebol em um negócio. A gente sempre comentava que, ao patrocinar um clube amador, você prepara, organiza, executa e ganha a taça. Depois, no outro ano, você prepara, organiza e ganha a taça, mas não passa da linha, né? Então a gente imaginou que com um pouco mais de investimento a gente ia poder ter um clube-empresa para almejar chegar em lugares mais altos, que é o que está acontecendo agora”, explica o dirigente.

A ideia foi sendo estudada e planejada ao longo de três anos, até que no começo de 2020 o grupo fundou um clube profissional no Paraguai, que também se chama Patriotas e hoje joga a terceira divisão do campeonato local. Seis meses depois, foi vez do Patriotas ganhar um clube também no Brasil, com sede no bairro Ganchinho, onde fica o centro de treinamento Toca do Jacaré, numa área de 60 mil metros quadrados e com três campos de futebol.

“A gente usou a pandemia para fazer algo que, se de repente estivesse andando normal as coisas, não tinha acontecido. A gente aproveitou que todas as competições estavam paradas, aqui e no Paraguai, e começamos a executar: procuramos um lugar, montamos o clube, organizamos tudo, preparamos o CT e aí, com tudo já certinho, quando voltassem as competições a gente já estaria com quase tudo pronto”, recorda o presidente.

As primeiras competições e o sucesso recente

Já em 2020 o Patriotas estruturou suas categorias de base, que reúne jogadores do sub-20, e no ano seguinte se preparou para disputar seu primeiro torneio profissional, a terceira divisão do Campeonato Paranaense. Jadir Setti, que desde o início é diretor-executivo do Patriotas (e antes foi presidente do Iguaçu, clube amador de Santa Felicidade), foi o responsável pela montagem daquele elenco e recorda das dificuldades que o time enfrentou num primeiro momento, até por conta da forma como a pandemia ainda impactou o calendário daquele ano.

“Era pro campeonato acontecer em agosto, mas só foi sair em outubro, com jogo quarta e sábado, e aí não conseguimos fazer o que gostamos, que é nos preparar com antecedência. Ainda assim, jogamos a terceira divisão e quase conseguimos chegar na semifinal”.

No ano seguinte, com a crise sanitária já controlada, o clube conseguiu se planejar e o acesso veio com o vice-campeonato. Mas o ano de 2023 é que está sendo realmente especial: na segundona do estadual, o Patriotas terminou a primeira fase invicto (seis vitórias e três empates) e líder. Na partida de ida da semifinal, contra o PSTC, venceu fora de casa por 3 a 2, na terceira partida consecutiva em que o time marca gol no apagar das luzes.

No próximo domingo, a missão é conseguir pelo menos um empate e garantir um lugar na final da competição e, consequentemente, o acesso para a elite do Campeonato Paranaense em 2024. “Esperamos conseguir a classificação para ir atrás da cereja do bolo, que é o título”, comenta Jadir. “O primeiro objetivo é conseguir o acesso. Eu sempre falo que esse é o bolo, mas depois vem a cereja”, emenda Olaides.

Jadir Setti, Pedrinho Maradona e Olaides Duarte Ferreira, a trinca que comanda o Patriotas (Foto: Valquir Aureliano)

Estádio próprio e metas ousadas

Para os próximos anos, as metas do clube serão ambiciosas. Além de revelar jogadores, comenta Jadir, o objetivo é conseguir, através do Campeonato Paranaense, uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro ou na Copa do Brasil. “Com isso a gente consegue colocar os jogadores mais em evidência para fazer um negócio futuramente. Então a ideia é ir escalonando não só no futebol regional, mas lançar o Patriotas nacionalmente”, explica o diretor-executivo.

Olaides, por sua vez, destaca que o Patriotas do Paraguai já está na Série C do campeonato local e pretende chegar na elite e disputar torneios internacionais, como a Sul-Americana. “Claro, no Paraguai o caminho é um pouco mais fácil. Mas a gente sempre falou aqui no Brasil que não montamos time só para competir, e sim para procurar chegar. Nossa ideia é beliscar vaga numa Série B, jogar Copa do Brasil… E se o pessoal deixar, a gente vai indo”, diz ele.

O clube paraguaio, inclusive, já possui uma estrutura própria de estádio. E em breve o Patriotas de Curitiba também deve ganhar uma casa própria. “A dificuldade tem sido encontrar um terreno adequado em termos de localização e preço. Mas a gente é persistente, vamos conseguir [o terreno] e aí a ideia é fazer um investimento adequado à nossa categoria inicial, com possibilidade de ser aumentado na medida em que formos crescendo também”, afirma o presidente, citando ainda que a expectativa é de inaugurar o estádio em dois anos.

Nome do clube tem relação com política?

Um clube fundado em julho de 2020, usando as cores do Brasil e adotando o nome Patriotas… Afinal, tais escolhas teriam alguma conotação política? Segundo Olaides Duarte Ferreira, a resposta é não. “A escolha do nome não teve nada a ver com política. Esse nome surgiu a partir de várias opções que separamos para serem analisadas. Fizemos uma eleição com cerca de 20 pessoas, vários nomes foram votados e o ‘Patriotas’ entrou na lista inspirado no time de futebol americano dos EUA [New England Patriots], um clube vencedor [hexa da NFL] e patriota em referência ao país. Foi nessa mentalidade que criamos o clube com o nome Patriotas, pensando no Brasil, e não em quem ou qual partido político está governando”, diz o presidente.

No Paraguai, inclusive, o outro clube de futebol do grupo adotou o mesmo nome (mas em vez das cores da bandeira brasileira, o time usa as cores da bandeira paraguaia). “Não tem nada a ver com política e o pessoal vincula muito as coisas, falam que é o time do Bolsonaro, que é o time do ‘velho da Havan’, mas a gente só conhece eles de nome. Nós pensamos em ‘Patriotas’ já imaginando também o que poderia ser a ascensão do clube, porque se um dia a gente quiser pode ter um Patriotas Bolívia, Patriotas Argentina, pode ter um Patriotas no Rio de Janeiro… Enfim, onde eu quiser. E se a gente pensasse num nome mais local, de uma cidade local, por exemplo, você ia ficar com aquele nome muito vinculado àquele lugar”, justifica ainda ele.

Técnico do time fez história no Paraná Clube

Desde junho de 2022 o técnico do Patriotas é Pedrinho Maradona. Ex-jogador, com passagens por grandes equipes do futebol brasileiro e revelado pelo Athletico Paranaense, ele foi o primeiro jogador a ser contratado na história do Paraná Clube e também o primeiro atleta a jogar no ‘Trio de Ferro’ da Capital (Athletico, Coritiba e Paraná). Depois de se aposentar, trabalhou na base de equipes como Athletico, Coritiba e Londrina, e já no profissional esteve no Foz de Iguaçu, Joinville e Comercial (MS).

Sobre o jogo contra o Paraná Clube, ele comenta que tempos atrás, quando encontrou com colegas que trabalham no clube paranista, chegou a brincar com eles que as equipes deviam ficar uma em primeiro e outra em segundo para que os clubes não se cruzassem antes de decidir o título. Na época, poucos imaginavam o naufrágio que seria a campanha paranista. “O Paraná engrandeceu muito a competição, porque monntou-se elencos fortes para brigar com o Paraná pela outra vaga [na elite do futebol paranaense]. No começo, todo mundo falava que uma vaga já era do Paraná e hoje o Paraná está de fora… A gente sente porque é uma camisa muito forte”, lamenta o treinador.

Já o presidente do Patriotas ressalta que a culpa pela eliminação do Paraná não foi de sua equipe, mas sim de problemas que o próprio Paraná enfrenta. “Eu acho que eles ficaram fora [da semifinal] por problema deles mesmo, não foi por aquele jogo contra a gente. E nós ficamos tristes juntos com eles, porque é um clube histórico, com quem temos uma parceria [tanto que o Patriotas vem mandando seus jogos na Vila Capanema e pretende voltar a fazê-lo em 2024]. Mas nós tínhamos que jogar o jogo e o que fizéssemos influenciava também na vida de outros clubes”.

O técnico Pedrinho Maradona: como jogador, foi a primeira contratação na história do Paraná Clube (Foto: Valquir Aureliano)