Paulista da cidade de Suzano e prestes a completar 22 anos – faz aniversário na próxima quarta-feira -, Felipe França abalou a natação brasileira, nesta sexta-feira (8), ao cravar o tempo de 26s89 e garantir, a dois meses do Mundial de Desportos Aquáticos de Roma, na Itália, o recorde mundial dos 50 metros peito. O Brasil não tinha um recordista mundial em piscina longa (50 metros) desde 1982 – cinco anos antes de Felipe nascer -, quando Ricardo Prado se tornou o melhor do mundo nos 400m medley durante o Mundial de Guayaquil, no Equador


Nadando com o maiô-sensação da temporada, o italiano Jaked, Felipe superou a marca do sul-africano Cameron Van Der Burgh – que nadou a distância em 27s06, em 18 de abril deste ano – durante a primeira série eliminatória do Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro. A competição, equivalente ao Campeonato Brasileiro de Natação, é a última chance de conseguir índice para o Mundial. Garantido na disputa, Felipe tornou-se um dos favoritos ao pódio na Itália.


“Eu já pensava nesse recorde desde o ano passado. Mas me senti pressionado, desconcentrado”, revelou o nadador. “Eu já tinha feito esse tempo antes, no cronômetro, mas, nas competições em que poderia ter conseguido, não cheguei bem preparado mentalmente”.


Felipe apareceu com destaque na natação brasileira em 2008 ao conseguir, em seu primeiro ano na seleção adulta, vaga para os Jogos de Pequim. Classificou-se para os 100m peito – foi o 22.º colocado – e para o revezamento 4 x 100m medley. Mas foi descoberto em 2004 pelo técnico Arilson Soares, em um campeonato interfederativo em Anápolis (GO). No ano seguinte, uniu-se aos nadadores do Clube Pinheiros.


“Esse é um recorde 100% brasileiro”, comemorou, exultante, o treinador Soares. “O resultado do Felipe mostra que não é só quem sai do Brasil que consegue grandes marcas”.


O técnico conta que Felipe evoluiu muito rapidamente na parte técnica e fez uso de inúmeros trabalhos de biomecânica. E admite: já esperava que seu pupilo pudesse bater o recorde mundial. “Estou sendo sincero e não quero parecer arrogante, mas já esperava algo próximo do que conseguimos hoje (sexta)”.


O Troféu Maria Lenk entra neste sábado no penúltimo dia de finais, a partir das 10 horas. O 50m peito é a segunda prova da programação. Felipe, consciente, não promete melhorar a marca. “Acho que posso melhorá-la, mas tudo vai depender de como eu vou acordar amanhã (sábado)”.


HISTÓRIA – Ricardo Prado conquistou fama e respeito internacional ao bater o recorde mundial dos 400m medley no Mundial de Natação de Guayaquil, no Equador, em 1982. Naquele ano, com o tempo de 4min19s78, faturou a medalha de ouro e se tornou o quarto brasileiro a estabelecer a melhor marca dentro de uma piscina. Essa prova, hoje, é dominada pelo norte-americano Michael Phelps.


Antes de Ricardo Prado, o País já havia se rendido a outros três heróis da natação. Maria Lenk, Manoel dos Santos e José Sylvio Fiolo também se consagraram com recordes mundiais. Em 1939, Maria Lenk estabeleceu os melhores tempos nos 200m e nos 400m peito.


Em 1961, foi a vez de Manoel dos Santos entrar para a história ao bater o recorde nos 100m livre. Sete anos depois, José Sylvio Fiolo nadaria, como ninguém antes, a prova dos 100m peito. Curiosamente, todas as marcas foram alcançadas em competições no Clube de Regatas Guanabara, no Rio, dono da primeira piscina olímpica do Brasil, inaugurada em 1935.