Parece história das mil e uma noites. Mas o Catar já teve uma de suas cidades mais antigas abandonada e engolida pela areia: Al Zubarah. Fundada em 1766 no noroeste do país, era próspera cidade de pescadores de pérolas. Chegou a ter 6 mil habitantes.
Porém, após ataques e invasões de vizinhos interessados em seu lucrativo comércio, Al Zubarah sucumbiu ao tempo e só começou a ser revelada em 1980, quando as primeiras escavações na área revelaram muralhas, mercados e as casas do único patrimônio histórico catariano. A cidade foi reconhecida pela Unesco, em 2013.

Al Zubarah, distante 105 quilômetros de Doha, é um dos raros lugares no Catar onde existem resquícios concretos da história da evolução do país, fundado como emirado em 1971 e que foi habitado por tribos beduínas e nômades por milênios. Na capital, de 1801, há poucos ecos do passado em relação à cidade moderna, como três torres de observação utilizadas para vigiar a costa contra invasores e algumas casas no bairro de Msheireb, que em árabe significa lugar de beber água. Hoje, as casas abrigam museus, como o do xeque Mohammed Bin Jassim e o da escravidão.

REDESCOBERTA
O acesso à antiga cidade dos pescadores de pérolas pode ser feito com carro ou por meio de tours privados. Em Al Zubarah, é possível visitar o forte de mesmo nome, construído em 1938 a mando do xeque Mohammed para servir como ponto de observação das águas do Golfo e de possíveis ataques que os catarianos pudessem sofrer pelo litoral norte do país.

Lá dentro, um pequeno museu conta sobre a evolução histórica do lugar, fundado por kuwaitianos, como explica a guia brasileira Leila Martinez, especialista em turismo no Catar e vivendo no emirado desde 2012. “Aqui era um ponto estratégico para a pesca e comercialização de pérolas e região próspera no Golfo, o que causou a cobiça de outros povos, pelo fato de o Catar ser rodeado de água e vulnerável a ataques, como o incêndio que Al Zubarah sofreu em 1811 a mando do sultão de Mascate e nunca mais se recuperou.”
Apesar da destruição, alguns moradores ensaiaram reconstruir a cidade no século 18, até que ela foi completamente abandonada, em 1900, e engolida pela areia do deserto de calcário existente no centro e norte do país.

A região permaneceu quase esquecida após o declínio da economia baseada em pérolas por conta do desenvolvimento da indústria japonesa, nos anos 1930. Até que 20 anos depois, o professor e arqueólogo dinamarquês Peter Vilhelm Glob visitou a cidade perdida e tentou iniciar um projeto de escavação. Isso só virou realidade três décadas depois, quando o emirado transformou sua economia e sociedade por meio da economia de gás natural e petróleo. Em 44 anos de trabalhos, há pouco ainda revelado da antiga cidade.

No norte do Catar, estão as maiores concentrações de gás do país, especialmente na área que faz fronteira marítima com o Bahrein, cuja costa pode ser avistada em um passeio às ruínas de Al Zubarah, e o Irã. O emir catariano, Tamim bin Hamad Al-Thani, possui uma ilha particular na região, localizada entre os dois Emirados.

PRÉ-HISTÓRIA E PETRÓLEO
Também longe dos arranha-céus de Doha e Lusail, é possível explorar o lado pré-histórico do Catar. Em Al-Khor fica o único sítio arqueológico que data antes de Cristo e referente ao período neolítico, entre 10.000 e 3.000 a.C. Na ilha, é possível ver formações calcárias, como rochas com conchas e caracóis marinhos, além de vestígios de ocupação humana, como pinturas rupestres e construções como túmulos.

Do outro lado do país, em Dukhan, o deserto de Zekreet reserva, além de paisagens que parecem ter saído da lua, ruínas de fortes construídos no século 18 para vigilância de parte da fronteira marítima com a Arábia Saudita. A região é famosa no Catar por ser onde foram encontradas as primeiras jazidas de petróleo que permitiram que o emirado sofresse uma revolução, a partir dos anos 1940.