Destaque do Marrocos, Azzedine Ounahi encantou Luis Enrique e o Barcelona

Estadão Conteúdo

Pouco depois de ser eliminado da Copa do Mundo para o Marrocos, o então técnico da seleção espanhola, Luis Enrique, revelou que estava “agradavelmente surpreendido com o número 8” da seleção africana. Sem disfarçar, o treinador até chegou a se desculpar por não saber o nome do jogador esguio, de 1,82m, que saiu de campo como um dos melhores da partida que culminou na queda da Espanha nas oitavas de final do Mundial.

“Fiquei agradavelmente surpreendido com o número 8. Não consigo me lembrar qual é o nome, desculpem. Mas, meu Deus, de onde é que saiu aquele rapaz? Ele joga muito bem”, disse o hoje ex-treinador da Espanha, que deixou a seleção após a eliminação na Copa.

O jogador que fez Luis Enrique ficar admirado, mas cujo nome fugiu da memória do espanhol, é Azzedine Ounahi, de 22 anos, meio-campista alto e habilidoso que defende o modesto Angers, lanterna do Campeonato Francês. Na seleção do Marrocos, ele atua pelo lado direito da linha central, formada por um trio que se completa com Sofyan Amrabat e Selim Amallah.

A excelente atuação contra a Espanha provou que Ounahi tem futebol que merece ser aproveitado para além da briga contra o rebaixamento da liga francesa. O jovem possui qualidades ofensivas e defensivas que também puderam ser vistas no jogo contra Portugal no último sábado, quando Marrocos venceu por 1 a 0 e se tornou a primeira nação africana a chegar a uma semifinal de Copa do Mundo na história.

EM CAMPO
Os pontos fortes do meio-campista são os passes precisos, os dribles nos espaços curtos e a boa condução de bola, feita bem próxima dos pés. São eles, aliás, os responsáveis por fazer Azzedine Ounahi acertar 80% dos passes que realiza a cada partida na Copa e por ajudá-lo a ostentar uma média de 86% de eficácia nos dribles que arrisca por jogo no Mundial, segundo dados do Sofascore.

Na prorrogação contra os espanhóis, o camisa 8 usou dessas habilidades para deixar Cheddira na cara do gol, com uma assistência precisa e de muita categoria. O atacante marroquino, porém, desperdiçou a chance e chutou nas mãos do goleiro Unai Simón.

Para atacar, o Azzedine Ounahi mostra ter calma, técnica e elegância para reter a bola, atrair jogadores adversários e produzir espaços para os companheiros poderem receber o passe em liberdade.

Nos contra-ataques, ele compensa a falta de explosão – comum em pontas e laterais -, com passadas largas e aproximação para se tornar opção para tabelas. É raro uma jogada não passar pelos pés de Ounahi, o segundo marroquino que mais vezes tocou na bola contra a Espanha (60 vezes), atrás apenas de Hakimi (73).

Além de participativo, é um dos que mais se sacrifica pela equipe, ajudando o ataque na construção de jogadas, e voltando para fortalecer o sólido sistema defensivo do Marrocos, vazado somente uma única vez no torneio.

Na defesa, Ounahi tem demonstrado ser combativo e obediente taticamente ao longo do Mundial. Contra a Espanha, foi o terceiro jogador que mais interceptou passes na partida (nove vezes) e o segundo que mais desarmou (três) no jogo. Para uma seleção que adota, predominantemente, a estratégia de se defender e sair nos contra-ataques, ele tem sido peça fundamental no sucesso da equipe de Regragui.

HISTÓRIA
Nascido em abril de 2000, na cidade de Casablanca, Azzedine Ounahi é um produto bem acabado da Academia de Futebol Mohammed VI, um centro marroquino especializado na formação e profissionalização de atletas, que funciona na cidade de Salé desde 2009.

Outros três jogadores que estão no Catar com a seleção africana também são crias do centro: Youssef En-Nesiry, autor do gol que deu a vitória ao Marrocos sobre Portugal; o zagueiro Nayef Aguerd, do West Ham, titular da equipe – foi desfalque por lesão contra os portugueses -; e o goleiro reserva Reda Tagnaouti.

O jovem Ounahi deixou a academia na temporada 2017/2018 e deu início à sua carreira na Europa, no Strasbourg, da França. Sem nem entrar em campo, ele se transferiu para o Avranches, da terceira divisão do futebol francês na temporada 2019/2020.

Logo na segunda partida como titular, Ounahi marcou o seu primeiro gol como jogador profissional. Foram cinco ao todo na sua primeira temporada na França, em 28 jogos disputados, sendo 22 começando entre os titulares.

Em julho de 2021, o meio-campista assinou com o Angers, da primeira divisão francesa. Na sua estreia, em setembro do ano passado, ele saiu do banco e fez um dos gols da vitória do time sobre o Lyon por 3 a 0, no Campeonato Francês. Foram dois gols e duas assistências em 33 partidas na última temporada.

Na atual, com apenas metade dela disputada, o meio-campista já participou de 14 jogos, começando apenas um no banco de reservas. Porém, a missão está longe de ser a briga por títulos, mas a de evitar o rebaixamento. O Angers é atualmente o último na classificação do Campeonato Francês, com apenas 8 pontos conquistados em 15 jogos.

Apesar de não ter balançado as redes, outros números dão conta de mostrar sua importância para a equipe: é o jogador que mais chutou para gol (23 vezes) e o é segundo de toda a competição que mais driblou (37 dribles), atrás apenas de Messi, do PSG, que aplicou 10 dribles a mais.

O presidente do Angers, Said Chabane, declarou em entrevista para uma rádio francesa sobre a dificuldade de manter o jogador, que tem contrato com o clube até 2026, após a Copa. “Estamos preparados para tudo, tivemos uma reunião esta tarde com o treinador e o coordenador desportivo para tentarmos considerar todos os cenários possíveis e não acabarmos em maus lençóis”, disse o dirigente.

Nesta segunda, o jornal catalão Mundo Deportivo trouxe a informação que o Barcelona vê com bons olhos a contratação de Azzedine Ounahi, que é um jogador barato, que cabe na realidade financeira do clube e que apresenta boa capacidade de rendimento no futuro. Se a transação se confirmar será a chance da jovem promessa marroquina vestir a camisa do seu ídolo, Andres Iniesta.

Além de Ounahi, o também marroquino Soufian Boufal, outro que vem se destacando na Copa, é jogando do Angers e pode ser alvo de propostas na janela de transferência de inverno depois da Copa do Mundo.

SELEÇÃO DO MARROCOS
A rápida ascensão vivida por Ounahi, de sair de uma academia de formação no Marrocos e assumir a titularidade de um clube de primeira divisão na França, o levou para a seleção do seu país no começo deste ano, para a disputa da Copa Africana de Nações.

O seu melhor momento na seleção antes da Copa do Mundo foi justamente no jogo que valeu a vaga para o Mundial: vitória por 4 a 1 sobre a República Democrática do Congo. Com dois gols e uma assistência, Azzedine Ounahi foi o destaque da goleada, que o tempo fez questão de mostrar que seria apenas mais um jogo, mas o primeiro capítulo de uma campanha histórica para o futebol marroquino, cujo fim ainda não chegou.